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PIB sobe 0,4% no 3º trimestre, mas perde ritmo

Mesmo com desaceleração, atividade econômica alcança recorde da série iniciada em 1996, diz IBGE

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Rio de Janeiro e São Paulo

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil avançou 0,4% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, informou nesta quinta-feira (1º) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado é o quinto positivo em sequência, mas representa uma perda de ritmo da atividade econômica em um cenário de juros altos e desaceleração global.

Na visão de analistas, o fôlego menor deve continuar no quarto trimestre. Assim, o PIB tende a ficar mais próximo da estagnação (0%) ou até negativo nos três últimos meses do ano.

A variação de 0,4% veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,6% na mediana.

Em relação ao terceiro trimestre de 2021, o PIB cresceu 3,6%. A projeção de analistas, segundo a Bloomberg, era de uma alta mais intensa, de 3,8%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, a economia teve avanço de 3%.

Mesmo com o desempenho aquém do esperado, o PIB alcançou o maior patamar da série histórica, iniciada em 1996.

Após revisar dados da série, o IBGE concluiu que o indicador já havia registrado, no segundo trimestre de 2022, um nível superior ao do início de 2014, antes de a economia perder força e embarcar em recessão.

Agora, com a alta de julho a setembro deste ano, a atividade econômica renovou a máxima. O PIB também ficou 4,5% acima do patamar pré-pandemia, do quarto trimestre de 2019.

O avanço de 0,4% veio após crescimento de 1% no segundo trimestre, conforme dados revisados pelo IBGE. Inicialmente, a alta de abril a junho havia sido calculada em 1,2%, mas foi ajustada para baixo.

"O tom é de uma desaceleração da atividade econômica com o efeito da política monetária [alta dos juros]", diz o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, que prevê PIB estagnado (0%) no quarto trimestre.

Pedestres circulam na região comercial da rua 25 de março, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 1º.set.2022/Folhapress

Nesta quinta, o IBGE também revisou as estimativas para o indicador no terceiro e no quarto trimestres de 2021 e no primeiro trimestre de 2022.

Com os ajustes, as variações aumentaram de 0,1%, 0,8% e 1,1% para 0,4%, 0,9% e 1,3%, respectivamente.

O IBGE ainda revisou a taxa de crescimento do PIB de 2021 (anual). O resultado ficou maior, passando de 4,6% para 5%.

A revisão para cima dos números levou a pequenos ajustes nas projeções de alguns economistas. Isso porque a economia do Brasil está agora em um patamar mais elevado do que o divulgado pelo IBGE há três meses.

Se o PIB ficar estável nos últimos três meses deste ano, como projetam diversos analistas, um crescimento de 3,1% na média de 2022 já estaria garantido.

Estímulos de um lado, juro alto de outro

Às vésperas das eleições de outubro, o governo Jair Bolsonaro (PL) lançou um pacote de estímulos à economia que incluiu a ampliação do Auxílio Brasil e os cortes tributários sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.

A atividade ainda foi beneficiada pela reabertura após as restrições na pandemia, mas esse incentivo tende a se esgotar com o passar dos meses, ponderam analistas.

A vacinação contra a Covid-19 permitiu a volta de parte do setor de serviços, como bares, restaurantes, hotéis, academias de ginástica, salões de beleza e instituições de ensino.

O avanço de 0,4% do PIB no terceiro trimestre foi influenciado justamente pelos serviços, que subiram 1,1%. O setor responde por cerca de 70% da economia sob a ótica da oferta.

A indústria também ficou no azul, com avanço de 0,8%. A agropecuária, por outro lado, recuou 0,9%.

"A retração é explicada pelas culturas que têm safra relevante nesse trimestre e tiveram queda de produção, como é o caso da cana-de-açúcar e da mandioca", disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Com a inflação elevada, o BC (Banco Central) teve de elevar os juros no país. O aperto monetário também impacta a atividade econômica, porque encarece o consumo de bens e serviços mais dependentes da concessão de crédito.

No terceiro trimestre, o consumo das famílias cresceu 1%. Essa foi a quinta taxa positiva em sequência, mas ficou abaixo do resultado do segundo trimestre (2,1%). O consumo responde por cerca de 60% do PIB sob a ótica da demanda.

"O mercado de crédito está mais caro. Acaba batendo nos bens e serviços que dependem mais de crédito", afirma o economista Christian Meduna, do banco BV.

Ele destaca que, além dos juros altos, a economia vem de uma base de comparação mais forte do começo do ano. Também há riscos no cenário externo, com a perspectiva de desaceleração global, acrescenta.

O IBGE também informou que os investimentos produtivos, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), subiram 2,8% no terceiro trimestre, em relação aos três meses imediatamente anteriores.

Essa foi a segunda alta consecutiva, mas ficou abaixo do avanço de 3,8% no segundo trimestre. Conforme Palis, aportes na área de construção, em softwares e nas importações estão por trás do novo avanço dos investimentos.

O consumo do governo, por sua vez, aumentou 1,3% no terceiro trimestre, após queda de 0,9% nos três meses anteriores.

O PIB sob a ótica da demanda contempla ainda o setor externo. De julho a setembro, as exportações tiveram alta de 3,6% no terceiro trimestre, após redução de 2,8%.

As importações cresceram mais: 5,8%. Foi o segundo avanço consecutivo —a alta havia sido de 8,7% no segundo trimestre.

Nova perda de fôlego até o fim do ano

O banco BV projeta PIB estagnado no quarto trimestre (0%) e alta de 3% no acumulado deste ano. Para 2023, a perspectiva, por ora, é de uma elevação de 1%, segundo a instituição.

"As principais economias globais, como Estados Unidos, Europa e China, estão desacelerando fortemente. Quando o mundo tem baixo crescimento, dificilmente o Brasil segue um caminho diferente. O preço das commodities também começou a cair", afirma a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. Ela prevê o PIB "andando de lado" ou até negativo no quarto trimestre.

Para os economistas Marco Caruso e Eduardo Vilarim, do banco Original, a alta de 0,4% no terceiro trimestre contribui para um resultado de 2,9% em 2022. A instituição projeta uma contração de 0,3% para o quarto trimestre.

"Entretanto, esse número tem caminhado para 0%, à medida que os novos indicadores de outubro têm se mostrado mais robustos do que o esperado, como o recuo da taxa de desemprego (8,3% contra 8,5% projetados) e avanço da população ocupada", dizem os economistas do Original.

Segundo eles, o avanço do PIB em 2023 deve desacelerar para 0,2%, devido a fatores como o impacto mais forte dos juros altos.

Para o economista Lucas Maynard, do banco Santander, os efeitos da política monetária mais apertada "começaram a aparecer".

De acordo com ele, os indicadores já disponíveis para o quarto trimestre "apontam para uma contínua perda de fôlego das atividades". Por ora, o Santander projeta crescimento do PIB de 2,8% em 2022 e de 0,7% em 2023.

Já Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, estima agora crescimento de 3,1% neste ano, ante 3% esperados anteriormente. Ela afirma que os números trouxeram boas notícias para a economia, com um crescimento forte do consumo das famílias e dos investimentos que se repetiu nos últimos trimestres, além de um bom resultado espalhado por diversos serviços.

Em relação a 2023, disse que a demanda global mais fraca e uma política monetária mais restritiva, que já foi sentida por setores como indústria e comércio, vão contribuir para uma desaceleração. O banco projeta alta de 1% do PIB no próximo ano, mas não descarta um resultado mais próximo de 2% se houver uma redução do risco fiscal que ajude o processo de desinflação e permita a queda dos juros.

"A gente não descarta a possibilidade de um PIB próximo de 2% [em 2023]. Tem muito dinamismo na nossa economia pelo lado do investimento, do mercado de trabalho, dos serviços, e caso a gente tenha um risco fiscal reduzido, um desenrolar mais positivo da PEC da Transição, essa queda de juros pode incentivar o crescimento", afirma a economista.

O economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, elevou a projeção de crescimento neste ano de 2,9% para 3,2% após a divulgação dos novos dados para 2021 e 2022 –o que embute ligeiro crescimento no quarto trimestre. A estimativa para 2023 é de expansão de 1,2%.

Ele avalia que alguns dos setores de serviços ainda afetados pela Covid devem se recuperar nos próximos meses, apoiados por estímulos fiscais renovados, mercado de trabalho forte e inflação em retração.

"A economia teve um desempenho surpreendentemente bom de janeiro a setembro de 2022, apesar do aperto significativo das condições financeiras e da maior aceleração da inflação", diz o economista em relatório.

David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia na América Latina do Bank of America, manteve a projeção de crescimento de 3,25% em 2022, apesar de o PIB no último trimestre ter vindo abaixo dos 0,7% projetados antes de o IBGE rever os dados anteriores para cima.

"Mantemos nossa projeção de crescimento anual de 3,25% para 2022, já que a atividade está desacelerando suavemente, conforme esperávamos."

Laiz Carvalho, economista para Brasil do banco BNP Paribas, afirma que o PIB cresceu abaixo dos 0,7% estimados pela instituição no trimestre, mas que a composição do crescimento foi positiva, com dados bons para serviços e investimentos. Ela projeta alta de 3% em 2022 e 0,5% em 2023.

Rodolfo Margato, economista da XP, afirma que a projeção de expansão de 2,8% para o PIB de 2022 pode ser revista para cima, podendo chegar a 3%. A estimativa para 2023 permanece em 1%.

O Itaú Unibanco também afirma que a divulgação e as revisões desta quinta trazem um viés de alta para a projeção de crescimento do PIB em 2022, atualmente em 2,8%, devido ao carrego estatístico mais forte.

Cálculo do PIB

Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais. O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.

O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos e serviços são consumidos). O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão.

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