Nomeação de Haddad indica pragmatismo, diz Trabuco, do Bradesco

Para presidente do conselho do banco, futuro ministro vai procurar equilibrar demandas fiscais e sociais

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São Paulo

A nomeação de Fernando Haddad para o ministério da Fazenda indica a intenção do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de conciliar a responsabilidade fiscal com a responsabilidade social, na avaliação de Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco.

Em nota, Trabuco afirmou que a nomeação do ex-prefeito mostra "intenção de mediar os naturais conflitos existentes na condução econômica de um país complexo como o Brasil pela via do pragmatismo".

"Não foi outra a razão de Haddad ter como prioridades a reforma tributária e os desafios do crescimento econômico. Sinaliza um perfil de alguém que olha para o equilíbrio entre as demandas sociais urgentes e a responsabilidade fiscal necessária."

Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco, durante almoço de confraternização de final de ano da Febraban - Zanone Fraissat - 2.dez.2019/Folhapress

As declarações sobre a ausência de oposição entre social e fiscal ecoam falas recentes de altos executivos do setor financeiro.

"A gente fala muito que o social e o fiscal têm que andar de mãos dadas, porque, se você não tem um crescimento sustentável, não resolve o social no longo prazo, e se tem uma questão fiscal relevante, acaba tendo um impacto muito grande na inflação que por consequência afeta, sobretudo, a população com renda mais baixa", afirmou Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco, durante evento virtual promovido no dia 1º de dezembro pela Itaúsa.

O nome de Haddad já era tido como o favorito para a Fazenda ao longo das últimas semanas, com o ex-prefeito tendo participado no final de novembro de almoço de final de ano da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) representando o presidente eleito.

Ao lado de presidentes dos grandes bancos brasileiros, o ex-ministro da Educação ouviu pedidos de cuidado com as contas públicas e mais previsibilidade econômica.

"Independentemente do governo que sai e do novo que chegará em breve, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável. A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes; vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do país", afirmou na ocasião o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Em nota publicada nesta sexta, a Febraban diz que Haddad é um político experiente e afeito ao diálogo que "já assumiu compromisso com o crescimento, agenda social e responsabilidade fiscal, como demonstrou em discurso durante o almoço anual de dirigentes de bancos".

A federação dos bancos diz ainda que o setor bancário está à disposição para colaborar com o novo governo.

Trabuco, do Bradesco, afirmou na nota divulgada nesta sexta que os primeiros nomes anunciados pelo presidente eleito ocupam posições estratégicas para o sucesso de seu governo –Fazenda, Justiça, Defesa, Casa Civil e Relações Exteriores. "Como característica comum, são homens de diálogo", assinalou Trabuco, que desejou sucesso aos escolhidos.

Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de gestão financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), é outro que vê em Haddad um perfil conciliador. "Apesar de ter formação econômica, Haddad não é um técnico, o que pode ser positivo. Quando se atua de forma ponderada, os resultados tendem a ser bons".

Teixeira diz que, em qualquer governo, as decisões finais são do presidente, e com a experiência de gestor, Haddad pode ajudar Lula a tomar decisões econômicas mais equilibradas.

O coordenador da FGV acredita que o ministro do Planejamento terá um perfil mais técnico, e que as decisões econômicas serão tomadas por um "colegiado", composto também pelo ministro de Indústria e Comércio. Os dois nomes ainda não foram anunciados.

Ricardo Balistiero, doutor e professor de economia do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), acredita que Haddad terá um papel muito importante no início do governo Lula, especialmente nas negociações com o Congresso. "Importante lembrar que Haddad levou a Prefeitura de São Paulo a atingir o patamar de grau de investimento nas agências de classificação de risco. Ele tem histórico de responsabilidade fiscal."

No mercado financeiro, a reação foi mais cautelosa. Para Igor Cavaca, head de gestão de investimentos da Warren Investimentos, o comportamento dos ativos brasileiros vai depender dos sinais que serão dados por Haddad.

"A confirmação de Haddad, em partes, já vinha sendo precificada pelo mercado, mas podemos ter ajustes adicionais após posicionamento sobre políticas a serem implementadas e aumentos de gastos para os próximos anos", afirma Cavaca.

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