A casa mais cara de Londres é propriedade do presidente do problemático grupo imobiliário chinês Evergrande, de acordo com pessoas informadas sobre a venda sigilosa do imóvel de 210 milhões de libras (R$ 1,33 bilhão, pelo câmbio desta quinta, 29), que aconteceu pouco antes de a Covid-19 atingir o Reino Unido.
A mansão de 45 quartos com vista para o Hyde Park foi vendida pelo espólio do antigo príncipe herdeiro saudita Sultan bin Abdulaziz em janeiro de 2020, por um preço recorde.
A face pública da aquisição da casa em 2-8a Rutland Gate foi Cheung Chung-kiu, um incorporador imobiliário chinês cuja companhia, CC Land, é proprietária do "Cheesegrater" [ralador de queijo], emblemático arranha-céu londrino.
No entanto, de acordo com cinco pessoas informadas sobre a situação, Hui Ka Yan, fundador e presidente da Evergrande e no passado recente o homem mais rico da China, foi na verdade o homem por trás da transação.
Hui e Cheung fazem parte de um conhecido círculo de magnatas de Hong Kong que jogavam cartas juntos e conviviam frequentemente. A dupla realizou múltiplos negócios nos dez últimos anos, e a CC Land já vendeu projetos na China continental para a Evergrande.
A venda da casa em Londres envolveu uma empresa das Ilhas Virgens Britânicas chamada Vision Perfect Global, que adquiriu a Yunak Property Corp, uma empresa sediada em Curaçau, de acordo com documentos do Land Registry britânico.
Dois executivos da CC Land são identificados como diretores de uma empresa relacionada sediada no Reino Unido; uma pessoa registrada em fevereiro de 2020 como detentora de 75% ou mais da empresa é Ding Yumei, a mulher de Hui.
Depois de fundar a Evergrande, em 1996, Hui transformou a empresa na maior incorporadora imobiliária da China. Ele se tornou conhecido por um estilo de vida pródigo que incluía compras de imóveis em todo o mundo por meio de empresas de fachada.
A Evergrande foi prejudicada pela crise imobiliária da China, e Hui, cuja fortuna foi estimada em US$ 45 bilhões, está tentando vender bens pessoais, incluindo jatos executivos.
Diversas pessoas familiarizadas com a situação disseram que a propriedade de Londres também estava à venda, para todos os efeitos práticos, embora não houvesse uma oferta formal.
"Há um preço para tudo", disse uma pessoa envolvida na compra do imóvel em 2020, que está em contato regular com os atuais proprietários.
Outra pessoa próxima aos proprietários disse que "é muito difícil estimar um preço; é como uma obra de arte ou um diamante. Se alguém realmente quiser comprar a casa, pagará o necessário".
A propriedade foi adquirida no início da década de 1980 pela Yunak Corporation, então comandada por Rafiq Hariri, antigo primeiro-ministro libanês, e presenteada ao príncipe herdeiro saudita após o assassinato de Hariri em 2005. O imóvel foi colocado no mercado pela primeira vez sete anos depois da morte de Abdulaziz.
A Beauchamp Estates, que administrou a venda de 2020, provavelmente será apontada para conduzir qualquer processo de venda formal, de acordo com diversas pessoas envolvidas.
Os potenciais compradores da casa em Rutland Gate provavelmente buscarão um desconto acentuado com relação ao preço pago em 2020, se Hui for o vendedor, disse um executivo imobiliário de Hong Kong familiarizado com o assunto.
"Não há tantos compradores assim, nesse mercado, e todos [nesses círculos] sabem que a Evergrande está por trás disso", disse o executivo.
Embora propriedades como Rutland Gate estejam ao alcance apenas dos muito ricos, um novo proprietário terá que arcar com o custo de completar a reforma da casa de 5.782 metros quadrados.
Há um alvará para obras no exterior e interior do imóvel, incluindo a demolição e substituição dos dois andares superiores, mas as obras ainda não foram concluídas. Um site sobre o imóvel menciona a CC Land UK como gestora de desenvolvimento do projeto.
A CC Land disse que estava conectada ao imóvel mas não é proprietária do mesmo. A Evergrande e Hui não responderam a um pedido de comentários.
As persianas estavam fechadas em todas as 58 janelas da edificação que dão vista para o Hyde Park, quando o Financial Times visitou o local esta semana.
Tradução de Paulo Migliacci
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