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Financial Times indústria

Guerra de chips EUA-China já muda de lugar os fabricantes

A Apple, que costuma ser seguida pela indústria, cria cadeias de suprimentos distintas para produtos chineses e não chineses

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Quando o magnata da manufatura de Taiwan Terry Gou e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump pegaram pás cerimoniais na inauguração de uma nova fábrica de eletrônicos em Wisconsin em 2018, muitos analistas e executivos de tecnologia viram um exemplo clássico de por que os políticos não devem se intrometer nas cadeias de suprimentos.

Os eleitores de Wisconsin logo souberam que a empresa de Gou, a Foxconn, só investiu porque lhe foram prometidos subsídios multibilionários e regras ambientais mais brandas.

Em frente a uma grande banderia dos EUA, com listras vermelhas e brancas e um quadrado azul com estrelas brancas, três homens de terno se agacham em posições meio ridículas para cavar o solo com pás
O governador do Wisconsin, Scott Walker, o então presidente dos EUA, Donald Trump, e o chairman da Foxconn, Terry Gou (da esq. para a dir.), participam da cerimônia de nova unidade da fabricante de chips em Mount Pleasant - Kevin Lamarque -28.jun.2018/Reuters

Quando os planos da fábrica da Foxconn foram drasticamente reduzidos, vários anos depois, parecia uma evidência de que a fanfarronice política não poderia dominar as forças do mercado.

Cinco anos depois, no entanto, a tensão EUA-China intensificada sobre tecnologia –especialmente semicondutores– mudou as cadeias de suprimentos de eletrônicos de maneira lenta, mas significativa.

As instalações da Foxconn em Wisconsin são muito menores do que o prometido inicialmente, mas a TSMC, empresa mais valiosa de Taiwan e a maior produtora mundial de chips para processadores, em breve abrirá uma nova instalação no Arizona.

Antes, quase todo o investimento recente da TSMC foi em Taiwan ou na China. Agora está diversificando sua pegada de fabricação, construindo uma nova fábrica de chips no Japão e explorando uma em Cingapura também.

A mudança de rumo da TSMC é impulsionada por subsídios desses governos, bem como pela pressão política para reduzir a concentração de fábricas de chips ao longo do estreito de Taiwan.

Nas salas de reuniões corporativas, bem como nos ministérios da Defesa, aumenta a preocupação de que a destruição econômica mutuamente assegurada possa não manter a paz no estreito. As empresas multinacionais investiram muitos bilhões de dólares em Taiwan e na China, supondo que a guerra é simplesmente cara demais.

No entanto, apenas neste ano, a aposta da Alemanha na mesma tese para garantir seu fornecimento de energia deu terrivelmente errado. Xi Jinping pode parecer mais propenso do que Vladimir Putin a ser dissuadido pelo custo da guerra. No entanto, como mostraram seus bloqueios de Covid economicamente desastrosos, os líderes chineses não estão mais tão fixados no crescimento econômico.

Mesmo os líderes corporativos que consideram remoto o risco de guerra não podem ignorar mudanças políticas mais imediatas impulsionadas pela guerra de chips EUA-China.

Os EUA continuam reforçando o estrangulamento de chips, lançando novas restrições que limitam o acesso da China a softwares e equipamentos de fabricação.

Algumas empresas estrangeiras de chips com instalações na China estão pagando o preço por não terem previsto essas novas restrições.

A SK Hynix, uma das duas maiores produtoras de chips de memória da Coreia do Sul, agora está impedida de atualizar equipamentos críticos de litografia em sua fábrica em Wuxi, na China, o que a impedirá de produzir lá chips da próxima geração.

Em parte por isso, as empresas não chinesas estão mudando seus padrões de investimento.

Os subsídios também estão mudando a estrutura do setor. A atenção se concentrou na legislação recém-aprovada nos EUA para incentivar a fabricação de semicondutores, levando a TSMC e a Samsung da Coreia do Sul a construírem novas instalações no Arizona e no Texas, respectivamente.

Europa, Japão e Índia também estão aprovando subsídios a semicondutores. À medida que a localização da fabricação de semicondutores mudar, a produção de materiais e suprimentos para fabricação de chips também mudará.

O maior programa de subsídio a semicondutores, no entanto, é o da China, cujo governo nacional, bem como as autoridades provinciais e locais, continuam despejando fundos na indústria de chips.

Uma onda de novas instalações que produzem chips de processadores de baixo custo está prestes a entrar em operação, o que deprimirá os preços nesse segmento e provocará acusações de dumping e disputas comerciais.

Mais imediatamente, os subsídios do governo chinês para a Yangtze Memory Technologies Corporation, uma produtora de chips de memória Nand, parecem estar dando frutos.

A Apple está considerando usar os chips da YMTC em novos iPhones. Anteriormente, esse tipo de chip era adquirido de empresas sul-coreanas, japonesas ou americanas.

Os subsídios da China e o estrangulamento de chips dos Estados Unidos também estão forçando mudanças a jusante.

A Apple, cujas cadeias de suprimentos bem sintonizadas moldam a forma como toda a indústria obtém componentes, está aumentando a montagem de dispositivos no Vietnã e na Índia.

O maior sinal é que a Apple poderá usar componentes para telefones destinados a clientes chineses diferentes dos vendidos em outros países.

A Apple disse a legisladores americanos que só usará os chips de memória da YMTC nos telefones vendidos na China.

Operar cadeias de suprimentos separadas "China" e "não-China" é a definição de dissociação.

Chris Miller é autor de "Chip War", pesquisador visitante do American Enterprise Institute e professor da Fletcher School de Direito e Diplomacia na Universidade Tufts.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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