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Financial Times

Reabertura da China vai repercutir nos mercados globais

Crescimento acelerado pode renovar commodities e intensificar pressão inflacionária

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Leo Lewis

Editor do Financial Times

Os mercados sempre anseiam por uma boa história, e o relaxamento da política de Covid zero da China, com a perspectiva de retomada do crescimento sustentado, já tem uma excelente chance de ser a narrativa mais ruidosa do próximo ano.

Novos e amplos relaxamentos, que foram delineados pelo Conselho de Estado da China na quarta-feira (7) e incluem a possibilidade de quarentena doméstica e a eliminação dos requisitos de teste para frequentar locais públicos, somados à imagem de um país à beira de duas mudanças profundas –uma psicológica, outra prática. Os mercados dos Estados Unidos e da Europa, observam os traders de commodities, podem ter subestimado como o tamanho dessas mudanças afetará os preços e a inflação.

O índice MSCI China, que subiu quase 19% em dólares no mês passado, começou a precificar a possibilidade de reabertura da China a partir de meados de novembro. No que seus analistas descreveram como uma "grande coisa", o Morgan Stanley elevou esta semana a China para "sobrepeso" pela primeira vez em dois anos.

Mulher é testada para Covid-19 em Xangai, China - Hector Retamal - 7.dez.2022/AFP

Ainda há um grande número de ressalvas na história da reabertura, e até mesmo os otimistas acham que uma versão da normalidade só será retomada na próxima primavera. Mas o amplo otimismo, apesar de todo o potencial de disrupção, veio rapidamente junto com uma fé cautelosa de que o impulso está estabelecido.

Alguns estrategistas, admitindo o risco de que o relaxamento seja desigual e pontuado por contratempos, sugerem comprar essas quedas quando elas ocorrerem. A grande questão é quanto do processo de revalorização se infiltrou nos mercados globais e até que ponto a história de reabertura irá repercutir entre eles conforme se desenrole.

Em nota publicada no final da semana passada, o estrategista do Goldman Sachs Dominic Wilson tenta responder a essas perguntas, observando que a previsão econômica central do banco era de que o crescimento chinês poderia permanecer muito fraco nos próximos seis meses, antes de acelerar no final de 2023.

A abordagem do Goldman depende de um índice produzido pelo próprio banco que acompanha como os mercados em geral estão precificando o futuro crescimento da China. Desde o início de 2022, esse índice passou por três fases curtas de alta, mas caiu fortemente no geral. Esse declínio foi consistente, disse Wilson, com a queda constante nos principais mercados de ativos das expectativas de crescimento chinês nos próximos um a dois anos.

O buraco, em 31 de outubro, foi então tomado como base. De acordo com o índice do Goldman, as expectativas do mercado sobre o crescimento da China começaram a se recuperar fortemente em novembro e continuam em alta agora. Dadas as notícias de quarta-feira, elas poderão aumentar ainda mais fortemente nos próximos dias.

A conclusão de Wilson sobre a escala da mudança do mercado nas expectativas de crescimento até agora é que: "O otimismo renovado em torno da reabertura em novembro implica que cerca de 40% dessa mudança já ocorreu".

Esse número –e outros indicadores semelhantes que podem ser produzidos por bancos rivais até o final do ano– parece altamente significativo, mas deve ser tratado com cautela. A vantagem potencial implícita para as diversas classes de ativos afetadas pelo crescimento da China difere amplamente. A visão talvez não surpreendente do Goldman é que as ações chinesas e de mercados emergentes estão entre os beneficiários com maior potencial de valorização. Os preços do cobre e do petróleo estão na mesma faixa. O dólar australiano também pode ser fortemente afetado.

Mas outros mercados poderão experimentar efeitos menos positivos: uma expansão acelerada do crescimento chinês pode, na teoria, produzir um impacto amplificado nos preços das commodities, com efeitos indiretos.

Os mercados europeus, apesar de toda a perturbação e tristeza dos altos preços da energia, se beneficiaram até certo ponto do fato de que a fraca demanda chinesa por gás permitiu que os suprimentos fossem redirecionados. O acelerado crescimento chinês pode renovar as restrições de oferta e intensificar a pressão inflacionária. Se as pressões inflacionárias se tornarem suficientemente amplas, as atuais suposições do mercado sobre uma pausa no ciclo de aumento da taxa de juros nos EUA podem estar a caminho de uma revisão.

Indiscutivelmente, a característica mais marcante do impacto da reabertura da China no mercado, porém, talvez seja a velocidade com que ela ocorre.

Os participantes do mercado viram uma grande variedade de processos de reabertura em todo o mundo –desde países que reverteram bloqueios extremamente rígidos até outros que apenas impuseram restrições suaves.

Os mercados podem decidir, como resultado, que não precisam avaliar o caminho da reabertura na China com tanta cautela quanto em outros lugares, e simplesmente observarão as previsões de crescimento para o final do próximo ano e decidirão que há muito custo no atraso.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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