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TikTok admite ter rastreado jornalista do Financial Times que usava o aplicativo

Empresa chinesa queria investigar se repórter tinha falado com funcionários

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Hanna Murphy
Londres | Financial Times

A ByteDance, proprietária chinesa da plataforma viral de rede social TikTok, admitiu que obteve de forma inadequada dados de usuários, entre eles uma jornalista do Financial Times, para analisar sua localização como parte de uma investigação interna de vazamentos.

Durante o verão [de junho a setembro no hemisfério norte], quatro funcionários da equipe de auditoria interna da ByteDance analisaram o compartilhamento de informações internas com jornalistas.

Dois membros da equipe nos Estados Unidos e dois na China obtiveram acesso aos endereços IP e outros dados pessoais da jornalista Cristina Criddle, do Financial Times, para descobrir se ela estava próxima de algum funcionário da ByteDance, informou a empresa. No entanto, a empresa não encontrou nenhum vazamento.

Logo do Tiktok em escritório da empresa em Culver City, Califórnia - Mario Tama/Getty Images/AFP

Um jornalista do BuzzFeed e vários usuários conectados aos repórteres por meio de suas contas no TikTok também foram alvos.

Desde junho, o FT publicou uma série de reportagens conduzidas por Criddle, que revelaram que dezenas de funcionários deixaram o escritório da TikTok em Londres desde o início de 2022, com alguns relatos sobre trabalho de 12 horas por dia ou de funcionários demitidos após tirarem licença. Alguns funcionários também descreveram uma "lista mortal" de colegas que a empresa queria expulsar do escritório em Londres.

Joshua Ma, o executivo da ByteDance responsável pela expansão do comércio eletrônico na Europa, foi substituído depois que o Financial Times revelou que ele havia dito a funcionários em Londres que "não acreditava" em licença-maternidade.

As conclusões da investigação interna da ByteDance, que foi liderada por sua equipe global de compliance jurídica em conjunto com um escritório de advocacia externo, foram anunciadas em um e-mail para os funcionários e relatadas pela primeira vez pelo jornal The New York Times. A investigação foi provocada por um artigo da Forbes sobre legisladores proibirem o aplicativo nos Estados Unidos por questões de privacidade e segurança.

O advogado geral Erich Andersen escreveu à equipe que um "plano equivocado foi desenvolvido e executado por alguns indivíduos do departamento de auditoria interna no verão passado", acrescentando que os envolvidos "usaram mal sua autoridade para obter acesso aos dados de usuários do TikTok", violando seu código de conduta.

Em outro e-mail destinado aos funcionários, o executivo-chefe da ByteDance, Liang Rubo, escreveu que a empresa precisava "refletir profundamente sobre nossas ações e pensar em como podemos evitar que incidentes semelhantes voltem a acontecer".

A TikTok não quis fazer mais comentários.

Por trás das revelações de quinta-feira, uma pessoa da equipe de conduta dos funcionários pediu demissão, enquanto as outras três foram demitidas. Desde então, a ByteDance reestruturou sua equipe de auditoria interna e cancelou o acesso desse departamento aos dados dos Estados Unidos.

A notícia do rastreamento chega quando o TikTok já enfrenta uma crescente reação política nos EUA devido a preocupações de segurança nacional de que os dados coletados sobre usuários americanos possam ser repassados ao governo chinês e ao Partido Comunista –alegações que a empresa nega.

Na semana passada, o Senado dos EUA aprovou por unanimidade um projeto de lei que proíbe funcionários federais de usar o TikTok em dispositivos cedidos pelo governo. A Câmara deve votar o assunto ainda nesta semana. Enquanto isso, vários estados americanos, incluindo Maryland, Texas e Iowa, também tomaram medidas para impedir que os funcionários instalem o TikTok em dispositivos governamentais.

Há meses, o TikTok trabalha num acordo de segurança nacional com o governo dos EUA em resposta ao escrutínio. O acordo, que ainda não foi fechado, envolveria uma parceria com a Oracle para colocar os dados dos usuários americanos em servidores dessa empresa americana de software em nuvem e adotar controles mais rígidos sobre se e como os funcionários chineses podem acessar esses dados.

Para o Financial Times, "espionar repórteres, interferir em seu trabalho ou intimidar suas fontes é completamente inaceitável. Estaremos investigando esta história mais detalhadamente antes de decidir nossa resposta formal".

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