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O que se sabe até agora sobre o caso Americanas
Depois do susto provocado pelo fato relevante de quarta (11), que apontou "inconsistências" de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas, analistas, investidores e outros agentes do mercado passaram esta quinta (12) tentando entender o que aconteceu.
A reação na Bolsa foi expressiva: a ação da companhia despencou 77%. Ainda pela manhã, as primeiras explicações vieram na conferência de Sergio Rial com investidores.
- O executivo, que havia assumido a presidência da companhia no último dia 2, renunciou e continuará como assessor do fundo 3G Capital durante o processo de reestruturação da companhia.
Rial disse que encontrou falhas na identificação de financiamentos bancários. Nos contratos de financiamento da Americanas para o pagamento de fornecedores, o montante não aparecia como dívida.
Entenda: é prática comum entre as grandes varejistas recorrer a financiamentos bancários para pagar fornecedores, operação chamada de "risco sacado".
- Os fornecedores recebem no prazo estipulado –de 30 a 90 dias–, enquanto a companhia passa a dever para o banco e um tempo depois quita o empréstimo, com juros e outras despesas financeiras.
- O problema citado por Rial é que a despesa junto ao banco não aparecia no balanço como despesa financeira, e sim na conta fornecedores, uma classe diferente do balanço.
- Ou seja, o pagamento ao banco foi feito, e os fornecedores também receberam –é por isso que o rombo contábil de R$ 20 bi não tem efeito caixa, ou seja, não será preciso tirar dinheiro do caixa para quitá-lo.
Por que há problema? Ao não considerar a dívida como financeira, os múltiplos da empresa ficam distorcidos, afetando lucro, endividamento, patrimônio líquido (um indicador de solvência) etc.
E quais são os efeitos? Se o patamar de endividamento da companhia aumentar muito após o ajuste que deve ser feito, conforme preveem os analistas, os títulos de dívida da empresa podem ter seu vencimento antecipado, o que a forçaria a honrá-los no curto prazo.
- Cabe à companhia, no momento, negociar com seus credores novos prazos e condições.
- Outro problema é de reputação, ressaltam os analistas. Como a empresa passa a ser considerada mais arriscada a nível de crédito, ficará mais caro para conseguir financiamento.
"Não há dúvidas de que a companhia precisará ser capitalizada", disse Rial aos investidores.
- É provável que a companhia tenha que buscar dinheiro na Bolsa, amparada pelo 3G, por meio de uma oferta subsequente de ações (follow-on), para honrar com seus compromissos.
Quem é quem no imbróglio
Sergio Rial: o CEO que ficou no cargo por nove dias passou por Cargill, Marfrig e, antes de chegar à varejista, estava no Santander Brasil, onde foi presidente de 2016 a 2022. Sua nomeação na Americanas, anunciada em agosto, fez as ações dispararem 20% no dia seguinte.
- Veja detalhes sobre sua carreira aqui.
Miguel Gutierrez: o antecessor de Rial ficou no cargo por 20 anos e tinha 30 anos de companhia. Ele era homem de confiança do trio do 3G.
Fundo 3G Capital: o private equity do trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira não controla mais a Americanas desde 2021, após uma reestruturação societária na companhia. Hoje, segue como o maior acionista da empresa, com 31,13% do capital.
- Veja aqui a história e o estilo de gestão do grupo.
pwc: responsável pela auditoria dos balanços da Americanas desde outubro de 2019. A companhia foi procurada e afirmou que não comenta casos de clientes.
- Saiba como são feitos os balanços e a auditoria nas empresas.
CVM: a (Comissão de Valores Mobiliários) é o xerife do mercado de capitais brasileiro. A autarquia abriu dois processos administrativos para investigar a Americanas, um sobre a contabilidade da companhia, o outro relativo ao anúncio do fato em si.
SEC: é a CVM americana. Como a Americanas tem recibos de ações (ADRs) negociados nos EUA, os analistas afirmam que a companhia também pode ser alvo de processos judiciais no país.
Dê uma pausa
- Para ler: "25 Anos de História da Gestão de Pessoas e Negócios nas Melhores Empresas para Trabalhar" (Daniela Diniz, Primavera Editorial, R$ 64,90, 260 págs., R$ 39,90 ebook)
Desde que a pesquisa GPTW (Great Place to Work) foi criada em 1997 para mapear as melhores empresas para trabalhar, o ambiente e as relações corporativas mudaram bastante.
O que se manteve igual durante esse período, porém, é a importância de fatores como ter confiança nas pessoas com quem trabalha, gostar delas e sentir orgulho do que faz, escreve Rafael Balago.
- "A conclusão é clara: quando os funcionários dizem que confiam na empresa para a qual trabalham, estão dizendo que confiam no líder para quem trabalham", escreve Diniz, autora do livro.
- "As pessoas ficam ou saem de seus empregos muito mais por causa dos seus líderes do que por salários, benefícios ou pela própria função.
Além da economia:
- Novo podcast: vítimas do Ateliê estavam cansadas de ouvir 'você é da seita da calcinha?', conta Chico Felitti.
- Com 'Os Fabelmans' vencendo o Globo de Ouro, saiba onde ver filmes de Spielberg no streaming.
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