O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, relativizou nesta quinta-feira (19) críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autonomia formal da autoridade monetária, mas reforçou sua defesa à independência do órgão e se comprometeu a ficar no cargo até o fim do mandato.
Em seminário promovido pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), Campos Neto disse que a formalização da autonomia do BC por meio de uma lei ajudou a reduzir a volatilidade dos mercados no Brasil e mostrou resiliência.
Ele argumentou que informações são retiradas de contexto em algumas entrevistas e colocou as declarações de Lula em perspectiva.
"Se você olha a entrevista, de um lado, ele se orgulha por [Henrique] Meirelles ter tido independência. De outro lado, o que acho que ele quis dizer foi ‘eu não acho que precisamos ter a independência na lei, pode ter a independência sem a lei e fazer as coisas funcionarem’", disse.
"Mas quando você pensa no que está acontecendo no Brasil e quão difícil foi o processo da eleição no Brasil, acho que o mercado estaria bem mais volátil se o Banco Central não tivesse a autonomia na lei, seria outro elemento de incerteza".
Henrique Meirelles presidiu o BC nos dois primeiros governos de Lula (2003-2011).
Os comentários de Campos Neto foram feitos um dia depois de Lula ter posto em dúvida, em entrevista à GloboNews, a vantagem de um Banco Central autônomo e questionado se os níveis das metas atuais de inflação não são baixos demais.
Em discurso público nesta quinta, Lula voltou a abordar a política monetária, questionando o porquê de a taxa básica de juros estar no nível que está —Lula citou erroneamente uma taxa de 13,5%, quando a Selic já está em 13,75%.
O mandato de Campos Neto na presidência do Banco Central vai até o fim de 2024.
Na apresentação desta quinta, ao justificar a elevação mais forte das taxas de juros no Brasil após a pandemia, o presidente do BC afirmou que o país tem uma memória viva da inflação. Também afirmou que os cortes de impostos no ano passado tiveram impacto relevante e que, sem eles, o índice de preços estaria agora em 9%, não em 5,5%.
Campos também disse que o Banco Central vai abrir o protocolo de criação do Pix a quem tiver interesse para que haja um caminho aberto que permita a existência do sistema no exterior.
Segundo ele, o BC já teve conversas sobre o tema com Uruguai, Colômbia, Peru, Equador, Canadá e Estados Unidos.
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