Descrição de chapéu ataque à democracia

Dólar e Bolsa fecham com altas moderadas após reação de autoridades contra atos golpistas

Fortalecimento de Lula, no entanto, preocupa mercado

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São Paulo e Brasília

Os atos golpistas promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (8) praticamente não impactaram os principais indicadores do mercado financeiro nesta segunda.

O dólar chegou a subir mais de 1% no começo do dia, mas recuou e fechou com ligeira alta de 0,38%, a R$ 5,2570 na venda. A Bolsa encerrou o dia em estabilidade (alta de 0,15%, a 109.129 pontos), influenciada pelo exterior.

Para analistas, as atitudes já tomadas pelas autoridades em resposta aos atos golpistas, como o indiciamento de cerca de mil pessoas pela Polícia Federal e a determinação da retirada dos acampamentos em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, passaram uma mensagem de solidez das instituições aos investidores, especialmente os estrangeiros.

Além disso, a avaliação é que a oposição exercida pela extrema-direita sai enfraquecida do episódio, que teve a reprovação em massa de entidades empresariais e de instituições da sociedade civil, enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se fortalece.

O EWZ, fundo de índice (ETF) composto por ações brasileiras negociado em Nova York, chegou a cair 2,40% no início da manhã, mas se recuperou ao longo do dia e, por volta das 18h20, apresentava queda de 0,78%.

Os juros, que passaram boa parte do dia em alta, fecharam em baixa. Os contratos com vencimento em 2024 recuaram de 13,61% ao ano no fechamento da última sexta-feira (6) para 13,57% nesta segunda. A taxa para 2025 caiu de 12,90% para 12,78%. Para 2027, o recuo foi de 12,81% para 12,71%.

Cédulas de dólar - Lee Jae-Won/Reuters

O fortalecimento de Lula, porém, preocupa o mercado financeiro.

"Os atos da direita devem trazer um efeito negativo do ponto de vista político, fortalecendo a esquerda e toda a agenda do presidente Lula", diz Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research.

"O mercado já fica mais receoso com as consequências deste cenário no longo prazo, uma vez que a agenda do governo pode ser fortalecida, diante de uma oposição cada vez mais enfraquecida."

Relatório assinado por Marcelo Sá e Matheus Marques, do banco Itaú BBA, aponta que os atos golpistas "enfraquecem o radicalismo na oposição" e aumentam "o apoio político do governo federal".

Ao mesmo tempo, afirmam os analistas, o apoio popular pode tornar o governo federal mais hesitante em adotar medidas impopulares, como aumento dos impostos sobre os combustíveis, por exemplo. "A administração provavelmente se voltará no sentido de reforçar o seu apoio institucional, em vez de políticas econômicas", dizem.

Sá e Marques esperam que os preços dos ativos brasileiros sofram frente ao aumento do prêmio de risco institucional, mas com o impacto diluído ao longo do tempo. "Devemos esperar que os mercados de ações sofram, os juros subam e o real se desvalorize, ainda que não por muito tempo, como aconteceu em episódios semelhantes em outros países", afirmam.

O Citigroup, por sua vez, avalia que os atos golpistas deste domingo não devem ter maiores implicações, pois carecem de apoio de líderes políticos importantes, e até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro criticou o vandalismo praticado em Brasília.

Para o JP Morgan, à medida que o dia a dia do governo se normalizar, as questões econômicas vão novamente dominar a atenção dos investidores.

No Brasil, um dos setores destacados pelos analistas do banco americano é o de consumo, e nesta segunda, ações como as ordinárias de Americanas e Magazine Luiza estão entre as maiores altas do Ibovespa.

Em outros eventos recentes de militantes bolsonaristas, como a queima de veículos em Brasília durante tentativa de invasão ao prédio da Polícia Federal, a reação negativa dos investidores foi mais intensa, lembra Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.

No dia da tentativa da invasão, em 13 de dezembro, a Bolsa caiu mais de 3%. "Hoje houve uma certa volatilidade, mas o desempenho relativamente mais estável se deve principalmente ao preço das ações, que estão baixos, e à expectativa de retomada econômica da China, que seria positiva para o Brasil", explica Marques.

Lorena Laudares, analista política da Órama Investimentos, lembra que o investidor estrangeiro representa mais de 50% da movimentação diária da Bolsa, e a percepção de uma instabilidade institucional pode afastar esses investidores.

"Os rumos dos mercados nos próximos dias serão definidos pela capacidade das instituições de conseguir evitar novos atos de vandalismo, e também não permitir a adesão de categorias importantes, como os caminhoneiros", diz Laudares.

João Lucas Tonello, analista de Investimentos da Benndorf Research, explica que uma instabilidade política, com atos de violência ou conflitos, levam o investidor estrangeiro a ter uma reação imediata de retirada de seus recursos.

"Por outro lado, a aceleração de violência nas manifestações acabará dividindo o público indeciso, já que os apoiadores de atos violentos são minoria. Com as consequências destes atos, a tendência é de mais previsibilidade e menos incerteza ao longo do ano de 2023, trazendo cada vez menos impactos negativos", projeta Tonello.

Estrategistas do Itaú BBA apontaram efeito negativo nos ativos brasileiros, dado o aumento do prêmio de risco institucional, "mas com o tempo o impacto deve diminuir, já que o foco provavelmente retornará ao debate de política econômica", diz trecho relatório a clientes.

Dan Kawa, analista da TAG Investimentos, acredita que os eventos deste domingo são negativos para os dois lados do ambiente político polarizado no Brasil. "A esquerda seguirá com enorme desafio de se colocar neste 'equilíbrio instável'. A direita, vista como instigadora desses movimentos, irá sofrer as consequências jurídicas, criminais e políticas do evento."

O banco Goldman Sachs, em relatório elaborado por Alberto Ramos, Sergio Armella, Santiago Telles e Renan Muta, destaca que a eleição de 22 de outubro foi uma das mais polarizadas da história recente do país.

"O ambiente político instável e profundamente dividido e a alta tensão social mantêm os prêmios de risco altos e podem afetar a governabilidade geral", diz o documento. "Isso implica que o novo governo, a oposição e a classe política em geral terão que trabalhar para sanar as profundas brechas políticas e sociais abertas durante a campanha."

Na opinião de Gabriel Araujo Gracia, analista da Guide Investimentos, os atos de vandalismo não foram estimulados por nenhuma frente política e, portanto, não representam risco institucional significativo. O maior impacto político da manifestação foi a intervenção no Distrito Federal, diz.

Em Nova York, os principais índices de ações passaram a maior parte do dia em alta, mas no final, a tendência foi mais negativa. Isso porque uma dirigente do Federal Reserve, banco central americano, disse nesta segunda que ela espera um aumento dos juros para um patamar superior a 5%.

O índice Dow Jones recuou 0,34%, o S&P 500 caiu 0,08%, enquanto o Nasdaq fechou em alta de 0,63%. O barril do petróleo Brent subia 1,40% às 18h25 (horário de Brasília), a US$ 79,67.

Com Reuters

Erramos: o texto foi alterado

Jair Bolsonaro (PL) é ex-presidente e não presidente. A afirmação foi corrigida. 

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