Descrição de chapéu ataque à democracia

Vandalismo em Brasília eleva risco-país e há chance de fuga de capital, dizem analistas

Aumento da tensão política compromete imagem do Brasil diante de investidores e dólar pode disparar

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São Paulo

Analistas de investimentos ouvidos pela Folha apontam que os atos de vandalismo praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (8) dão uma nova dimensão da tensão política em curso no país e tendem a afugentar o capital estrangeiro.

Para os representantes do mercado financeiro, ainda é preciso "cautela e observação" em relação aos desdobramentos dos atos de depredação e violência na Praça dos Três Poderes, mas é inegável que a imagem que fica para os investidores é negativa.

"O investidor não está acostumado a esse tipo de evento, de natureza política –e nem nós estamos, na verdade", Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. "Passa uma imagem muito ruim da situação do país e pode afugentar o investidor estrangeiro, que é quem investe na bolsa."

homem com barra de ferro vestido com bandeira do Brasil
Vândalo carrega barra de ferro dentro do Palácio do Planalto, durante invasão às sedes das instituições na Praça dos Três Poderes. - Gabriela Biló /Folhapress

Segundo ele, uma versão brasileira da invasão ao Capitólio americano, registrada em 6 de janeiro de 2021, era considerada uma possibilidade, mas pouco provável. "É negativo para os ativos brasileiros, porque significa que e existe algo de muito errado na política, que não encontrou alternativas pacíficas e deixou que o cenário chegasse a este nível", afirma Borsoi.

"Isso aumenta a incerteza política, é preciso observar qual será a reação do governo", diz ele. "Os investidores devem exigir um prêmio de risco maior, haverá uma reação negativa do mercado nesta segunda [9]", diz Borsoi, apostando que os investidores devem "correr para o dólar."

"Na bolsa, todos os setores devem ser afetados. É um risco sistemático, que afeta em especial os ativos mais ligados ao ciclo doméstico, como setor imobiliário, varejo, locadoras e bancos", afirma.

O impacto será negativo –só não se sabe até quando

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, concorda. "Quando se pensa em Brasil, um dos argumentos para atrair capital é termos uma relativa estabilidade em relação a outros mercados emergentes", diz. "Agora bolsa e dólar vão nos dizer o quanto eventos como o deste domingo comprometem esta imagem."

Arbetman lembra que o preço de uma ação é calculado pelo fluxo de caixa esperado sobre a taxa de juros. "Tendemos a ver a bolsa precificando o aumento do nível de risco", diz ele, ressaltando, no entanto, que as invasões de domingo não interferem na dinâmica operacional das companhias. "Vamos ter impactos negativos, mas não sabemos a durabilidade deles", afirma.

Para o analista da Ativa, a palavra é "cautela" e não "pânico". "O fato de estarmos em um momento delicado para o mercado de ações no mundo todo e sermos uma economia emergente, dependente do capital estrangeiro, pode pesar ainda mais na bolsa", diz ele. "A constatação de uma maior instabilidade política contribui para a foto ficar mais turva."

Na opinião de Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, o momento é de observação para ver como o governo vai agir para controlar estas manifestações. "Há um temor que elas possam se espalhar por todo o país, inclusive com o bloqueio em rodovias, repetindo as cenas que nós vimos nas eleições", afirma.

"Se o movimento ganhar força e bloquear as estradas, isso trava a economia e gera impactos negativos em diversas empresas, que dependem principalmente das rodovias", diz.

Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, considera que vai haver uma saída dos investidores do Brasil, que segue muito dividido.

"Se antes o PSDB era uma oposição bem silenciosa [aos governos doPT], agora o partido terá uma oposição bem barulhenta", afirma. "Vai ter uma repercussão negativa para investimentos."

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