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Inflação fecha 2022 em 5,79% e estoura meta pelo segundo ano consecutivo

IPCA desacelera frente a 2021 com corte de impostos, mas fica acima das projeções e ainda pressiona consumidor

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Rio de Janeiro

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou o ano de 2022 com alta acumulada de 5,79%, de acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (10).

Com os cortes de impostos sobre combustíveis e energia elétrica, o IPCA perdeu força em relação a 2021, quando havia subido 10,06%.

Apesar da trégua, os preços seguem em um patamar elevado para o bolso dos brasileiros. Pelo segundo ano consecutivo, o IPCA estourou a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).

A variação de 5,79% também surpreendeu o mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam uma alta menor, de 5,60%.

Pesquisadora faz coleta de preços em supermercado para índices de inflação da FGV - Zanone Fraissat - 9.jun.22/Folhapress

O centro da meta de inflação era de 3,5% no ano passado, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5%) ou para baixo (2%).

Com o dado final acima dessa faixa, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem de escrever uma carta explicando o descumprimento da medida de referência. O documento deve ser divulgado nesta terça.

Na variação mensal de dezembro, o IPCA acelerou para 0,62%, depois da alta de 0,41% em novembro.

O novo resultado também veio acima das estimativas. Analistas consultados pela Bloomberg projetavam avanço de 0,44% em dezembro.

A devolução de parte dos descontos da Black Friday de novembro ajuda a explicar o resultado maior no último mês do ano, dizem economistas.

Segundo eles, as projeções ainda sugerem uma inflação elevada em 2023, o que representa um desafio para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em um cenário de incertezas fiscais com possíveis gastos da gestão petista, instituições do mercado financeiro aumentaram as estimativas para o IPCA deste ano.

A alta prevista para o acumulado de 2023 subiu de 5,31% para 5,36%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (9).

Se a projeção for confirmada, 2023 marcará o terceiro estouro consecutivo da meta de inflação. O centro da meta foi definido em 3,25% para este ano. O intervalo de tolerância, novamente, é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Considerando todo o governo Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022, a alta acumulada pelo IPCA foi de 26,93%. O cálculo é do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, avalia que o país atravessa um período de "inflação muito pressionada" e diz que a alta dos juros promovida pelo BC ainda não conseguiu controlar totalmente o avanço dos preços.

Recentemente, a Rio Bravo elevou a previsão para o IPCA de 2023, de 5,2% para 5,4%.

"A preocupação fiscal vai ganhando força. Faz com que as expectativas de inflação se deteriorem", afirma Mercadante.

Conforme o economista, a retomada da demanda por serviços, após as restrições na pandemia, é outro fator que desafia a trégua do IPCA neste ano.

Alimentos sobem, gasolina cai

A alta acumulada pelo índice oficial em 2022 (5,79%) foi puxada pelo grupo alimentação e bebidas, apontou o IBGE. O segmento subiu 11,64% no ano.

Com isso, teve o maior impacto no IPCA (2,41 pontos percentuais) entre os nove grupos pesquisados.

Marcos de Oliveira Julio, 38, precisou adaptar a rotina para lidar com a inflação. O morador da capital paulista reduziu o consumo de carne e substituiu produtos em busca de preços mais em conta no supermercado.

"A inflação vai acabando com os planos", afirma Julio, que trabalha como editor de vídeos e mora com a namorada desde fevereiro de 2022.

"Como colocamos tudo na ponta do lápis, iríamos pagar o aluguel e guardar parte do dinheiro para comprar um imóvel próprio. Mas esse dinheiro foi corroído", lamenta.

Ao contrário de alimentação e bebidas, o grupo dos transportes teve queda de preços em 2022. A baixa foi de 1,29%, a mais intensa entre os segmentos pesquisados.

Assim, os transportes responderam pelo principal impacto negativo sobre o IPCA (-0,28 ponto percentual). O recuo do grupo é explicado, em grande parte, pela gasolina, que caiu 25,78%.

De forma individual, o produto foi o responsável pela influência negativa mais intensa (-1,70 ponto percentual) entre os 377 subitens do IPCA.

Os preços da gasolina caíram em decorrência das reduções nas refinarias e da aplicação da lei que limitou a cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre os combustíveis, destacou o IBGE.

Esse alívio tributário também afetou serviços como a energia elétrica residencial, que recuou 19,01% em 2022.

Inflação seria maior sem alívio tributário

Em uma simulação, se a gasolina e a energia elétrica fossem retiradas do cálculo do IPCA, o índice teria subido 9,56% no ano passado, e não 5,79%, afirma André Almeida, analista do IBGE.

A alta de alimentação e bebidas, por sua vez, refletiu especialmente a carestia da alimentação no domicílio (13,23%).

Os destaques foram a cebola, que saltou 130,14%, a maior variação entre os 377 subitens do IPCA, e o leite longa vida (26,18%).

Nos transportes, houve alta de emplacamento e licença (22,59%). Esse foi o subitem com a maior influência individual (0,49 ponto percentual) para o avanço do IPCA em 2022, apontou o IBGE.

O instituto ressaltou que a alta do IPVA está associada ao aumento dos preços dos automóveis em 2021, já que a cobrança é baseada no valor venal dos veículos ao final do ano anterior.

Entre os grupos, vestuário foi aquele que registrou a variação de preços mais intensa no ano passado: 18,02%. Foi a maior alta do segmento desde dezembro de 1994, segundo o IBGE.

"Quando a gente olha os dados fechados de 2022, vê que a inflação dos preços livres subiu bastante, mas foi parcialmente compensada por preços administrados no terreno negativo. A energia elétrica caiu, a gasolina caiu bastante", analisa a economista Júlia Passabom, do Itaú Unibanco.

A instituição prevê IPCA de 5,7% em 2023. No curto prazo, diz Passabom, há um viés de alta nas projeções em razão de dois fatores: a surpresa com a inflação de dezembro e o avanço dos preços da gasolina neste início de ano.

Ao longo de 2022, o IPCA chegou a bater em 12,13% no acumulado de 12 meses até abril. A perda de fôlego nas divulgações posteriores foi puxada pelos cortes tributários sobre itens como os combustíveis.

O índice registrou três meses consecutivos de deflação (queda), de julho a setembro. O corte de tributos veio em meio aos planos de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), que acabaram frustrados pela derrota para Lula nas urnas.

Enquanto isso, os preços dos alimentos seguiram pressionados com os efeitos do clima adverso e da Guerra da Ucrânia, que elevou as cotações de commodities agrícolas.

Segundo o IBGE, o grupo alimentação e bebidas respondeu por 21,86% do IPCA em dezembro de 2022. É o maior peso entre os segmentos que compõem o índice, acima de transportes (20,52%).

Em dezembro de 2021, a ordem era inversa. Os transportes tinham o maior peso (21,92%), seguidos por alimentação e bebidas (20,69%).

A mudança reflete o aumento dos preços da comida e a queda dos combustíveis no ano passado.

O banco Original projeta IPCA de 0,60% em janeiro de 2023, além do impacto de 0,6 ponto percentual de um retorno da cobrança de PIS e Cofins sobre a gasolina, distribuído entre os meses de março e abril. No acumulado deste ano, o banco projeta IPCA de 5,8%.

INPC fecha 2022 em 5,93%

O IBGE também informou nesta terça que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fechou 2022 com alta acumulada de 5,93%, abaixo de 2021 (10,16%).

O INPC é usado como referência para correção de benefícios como aposentadorias. O indicador reflete os preços de bens e serviços com maior peso no consumo das famílias de renda menor (entre um e cinco salários mínimos).

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