Descrição de chapéu Financial Times

Japão dará R$ 40 mil por criança para que famílias deixem Tóquio

Governo tenta reverter décadas de declínio demográfico longe das grandes cidades

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Leo Lewis
Tóquio | Financial Times

O Japão planeja aumentar o incentivo financeiro para os pais que optarem por se mudar de Tóquio, enquanto o governo tenta reverter décadas de declínio demográfico, migração econômica e a atração da maior metrópole do mundo.

Autoridades informadas sobre o plano dizem que o governo tentará convencer as famílias a se mudarem com um generoso pagamento de até 1 milhão de ienes (R$ 41 mil) por criança se elas trocarem a superpopulosa Tóquio por municípios do interior e prefeituras vizinhas. O valor é mais que o triplo dos 300 mil ienes (R$ 12,3 mil) oferecidos em um esquema existente desde 2019.

O aumento do pagamento por criança é apenas uma parte do compromisso do governo de incentivar famílias jovens a deixarem Tóquio. As famílias que se mudam já recebem até 3 milhões de ienes em apoio financeiro único e poderão receber ainda mais se abrirem um negócio.

A cidade de Tóquio, no Japão - Zhang Xiaoyu - 19.dez.2022/Xinhua

As que receberem o dinheiro devem abraçar a vida provincial por no mínimo cinco anos, ou reembolsar o Estado.

O encolhimento e o envelhecimento da população do Japão e a migração de pessoas mais jovens para a capital atingiram desproporcionalmente as regiões fora Tóquio, Osaka e algumas outras grandes cidades.

Muitas cidades e vilas rurais foram esvaziadas, com suas empresas carentes de clientes e de funcionários disponíveis. O excedente estimado de residências vazias no Japão –habitações que muitas vezes não foram reclamadas pelos herdeiros– deve chegar a cerca de 10 milhões em 2023.

Ao mesmo tempo, a posição de Tóquio como principal ímã para a atividade econômica e a migração cresceu. Em 2021, apesar da desaceleração causada pela pandemia e da suposta nova popularidade do trabalho remoto, o preço médio de um novo apartamento em Tóquio, segundo o Instituto Econômico Imobiliário, superou o pico alcançado no auge da bolha imobiliária do Japão, em 1989.

Cerca de 1.300 municípios japoneses já se inscreveram para receber os migrantes de Tóquio. De acordo com fontes do governo, pouco menos de 2.400 pessoas aproveitaram o pagamento de realocação no ano fiscal de 2021 –número que equivale a cerca de 0,006% da população de 38 milhões da grande Tóquio.

Os sites dos municípios que tentam atrair os recém-chegados combinam a publicidade sobre seus encantos rurais com uma honestidade reveladora sobre sua situação. O vilarejo de Umaji, na província de Kochi (820 habitantes), oferece uma creche gratuita "e, é claro, nenhuma criança na lista de espera". A cidade vizinha de Tano oferece a atração de uma rara fábrica de sal seco ao sol, mas observa que 42% da população local têm mais de 65 anos.

Os municípios rurais são assistidos pela emissora estatal do Japão, NHK, que promove fortemente a ideia da mudança para o campo em um programa que acompanha a vida de famílias que deram o salto.

"Assistimos a esse programa e, naturalmente, você pensa em fazer o mesmo", disse Erika Horiguchi, uma mãe trabalhadora que se mudou para um apartamento no centro de Tóquio com o marido e a filha em 2018, mas não pretende trocar a cidade pelo interior. "Meu marido deixou a prefeitura de Aomori quando era jovem porque sabia que seria mais difícil encontrar trabalho lá. Há uma razão pela qual os japoneses estão vindo para Tóquio, e não acho que o governo conseguirá mudar isso."

Online, a reação às reportagens sobre a oferta do governo de 1 milhão de ienes por criança realocada foi marcada por ceticismo semelhante. "Parece muito dinheiro, mas não é o suficiente para realmente fazer alguém decidir ter filhos", disse um post.

A medida do governo para encorajar as pessoas a se mudarem ocorre em meio à preocupação sobre a taxa de natalidade abaixo do nível de reposição do Japão –uma realidade demográfica há várias décadas e uma teimosa resistência a diversos esforços para estimular a formação de famílias maiores.

O número de bebês do Japão também está diminuindo mais rapidamente do que se previa. Em 2021, o número de nascimentos no Japão caiu para pouco mais de 811 mil. As previsões baseadas nos primeiros nove meses de 2022 sugerem que o número ficará em menos de 800 mil pela primeira vez desde o início dos registros, no final do século 19.

Em suas previsões abrangentes para o futuro tamanho da população, publicadas em 2017, o Instituto Nacional de Pesquisa de População e Seguridade Social, afiliado ao governo, acreditava que essa linha não seria ultrapassada até 2030.

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