Mark Mobius descarta impacto negativo de atos golpistas sobre investimentos no Brasil

Megainvestidor americano diz que episódio pode ajudar a unir Brasil polarizado

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São Paulo

Apelidado de "guru dos mercados emergentes", o megainvestidor americano Mark Mobius diz que os ataques golpistas de domingo (8) podem ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a romper com a polarização política pela qual o Brasil passa.

Em entrevista à Folha feita por email, o gestor afirmou que os atos de violência e vandalismo promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram "um evento chocante" e devem ser vistos como um ataque às instituições democráticas brasileiras.

Contudo, ele pondera que o episódio vem de "uma minoria violenta" e as atitudes não são predominantes entre os seguidores de Bolsonaro.

"Pelo contrário, muitos políticos de direita foram rápidos em se distanciar dos acontecimentos. Acho que, no mínimo, esses ataques podem ajudar a aproximar o país e ajudar Lula em sua missão declarada de pacificar um país muito polarizado", afirma.

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Mark Mobius, 85, investidor especializado em mercados emergentes da gestora de recursos global Mobius Capital Partners - Leo Pinheiro - 6.fev.2014/Valor/Agência O Globo

Tão logo os atos golpistas começaram em Brasília, representantes dos Três Poderes, empresas e associações da sociedade civil vieram a público condenar o movimento. Já o ex-presidente se limitou a dizer nas redes sociais que depredações e invasões de prédios públicos "fogem à regra" da democracia.

Bolsonaro tem sido criticado, inclusive por Lula, por ter insuflado atos golpistas ao longo dos últimos anos. Pesquisa do Datafolha indica que 55% consideram o ex-presidente responsável pelos ataques golpistas.

A pesquisa —realizada nesta terça (10) e quarta (11), com 1.214 pessoas espalhadas pelo país— também mostra que 87% dos brasileiros acreditam que o episódio vai prejudicar a imagem do Brasil.

Mobius pensa diferente, pelo menos em relação ao apetite dos investidores no país. Segundo ele, não há risco de fuga de capitais.

"Quando visitamos o Brasil pela última vez, encontramos uma forte crença nos freios e contrapesos fundamentais, no cenário poderoso e livre da mídia e na independência do sistema judicial e do Banco Central. Agora estamos vendo o sistema judicial tomar as medidas necessárias para encontrar os responsáveis pelos ataques", disse.

Na visão do gestor, o Brasil é um mercado atraente para investidores, com empresas "altamente inovadoras e bem geridas". No entanto, ele ressalta que 2023 provavelmente será um ano difícil, com custo de financiamento mais alto, inflação elevada e crescimento moderado.

"O mercado de ações precificou isso de acordo e agora está oferecendo avaliações [valuations] razoáveis. Mas o que eu diria é que os investidores vão querer ver uma política fiscal sólida. Acho que o aumento do teto de gastos, por exemplo, precisa ser observado com atenção", afirma.

A avaliação de Mobius se aproxima do que outros investidores estrangeiros disseram sobre o impacto dos atos golpistas no mercado. Para analistas, economistas e gestores ouvidos pela Folha na segunda (9), os ataques preocupam menos que os rumos que o governo de Lula pode tomar na agenda econômica, sobretudo em seu aspecto fiscal.

Reflexo disso pode ser visto nos principais indicadores do mercado financeiro, que praticamente não reagiram às invasões em Brasília no começo da semana.

Não é incomum que o mercado de ações passe ao largo de grandes protestos e atos violentos. No dia seguinte à invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, os principais índices financeiros dos EUA também tiveram alta.

Na ocasião, o apresentador de TV Jim Cramer questionou: "Foi um dia horrível para a democracia, mas foi um dia horrível para o capitalismo?".

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