Descrição de chapéu Financial Times

Noruegueses ricos fogem para a Suíça para escapar de imposto sobre fortunas

Ao menos 30 bilionários e milionários saíram do país em 2022; governo diz que grupo se beneficia de políticas e por isso precisa contribuir mais

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Richard Milne
Oslo | Financial Times

Mais de 30 dos noruegueses mais ricos fugiram para a Suíça e outros países nos últimos 12 meses, enquanto os líderes empresariais do país expressam preocupações quanto aos impostos sobre a riqueza criados pelo governo de centro-esquerda que está no poder em Oslo.

Os registros públicos de população da Noruega mostram que pelo menos 30 bilionários e milionários trocaram em 2022 a próspera nação escandinava pela jurisdição alpina, onde os impostos são mais baixos em 2022.

Entre eles está o magnata Kjell Inge Røkke, cujos negócios vão da pesca ao petróleo, e que no passado era considerado a pessoa mais rica do país. Outros se mudaram para países como Chipre, Itália e Canadá.

O magnata norueguês Kjell Inge Røkke, cujos negócios vão da pesca ao petróleo e já foi considerado o homem mais rico do país - Lise Serud - 20.jun.2012/Reuters

Røkke, que se mudou para Lugano em setembro e pagou 181 milhões de coroas norueguesas (R$ 98 milhões) em impostos em 2021, preferiu não comentar.

Um número ainda maior de noruegueses superricos deve seguir esse exemplo, porque estão preocupados com as mudanças na tributação, que dizem prejudicar a competitividade do país.

O mais recente nome nessa lista é o de Fredrik Haga, um dos fundadores do grupo Dune, de serviços de dados para operações de criptomoedas.

"Eu tinha que escolher: continuo na Noruega ou quero que minha empresa tenha sucesso? Não se trata de não querer pagar impostos. A questão é ter de pagar impostos sobre um dinheiro que não tenho", disse ao Financial Times.

O ponto central do debate é o imposto sobre a riqueza adotado pela Noruega, e aplicado a todas as fortunas líquidas de valor superior a 1,7 milhão de coroas norueguesas (US$ 168 mil, ou R$ 923 mil), com uma alíquota de 1,1% para os mais ricos.

A Suíça também tem um imposto sobre as grandes fortunas, mas oferece condições favoráveis a estrangeiros.

Para empresários como Haga, cujo patrimônio está ligado majoritariamente à sua empresa, a estrutura do imposto pode forçá-los a extrair dividendos elevados ou até mesmo vender parte do negócio. No entanto, como o Dune continua no vermelho, apesar do crescimento rápido, ele não tem como extrair dividendos da empresa e não quer vender uma participação.

"Ou eu tiro dinheiro da empresa ou preciso me mudar", disse Haga, que teme que seus impostos a pagar no próximo exercício sejam mais altos do que sua renda disponível.

O grupo de noruegueses ricos que partiu para a Suíça em 2022 tem um patrimônio combinado de 29 bilhões de coroas norueguesas (R$ 15 bilhões) e pagou 550 milhões de coroas norueguesas (R$ 299 milhões) em impostos, de acordo com os registros tributários do país.

O êxodo de 2022 é maior do que nos 13 anos anteriores somados, calculou o jornal Dagens Naeringsliv.

O imposto sobre a riqueza da Noruega, um dos poucos ainda cobrados na Europa depois que a França aboliu seu imposto sobre o patrimônio em favor de um imposto imobiliário, em 2018, vem há muito tempo atraindo queixas dos ricos do país.

"O imposto distorce os negócios noruegueses de todas as formas", disse Mathilde Fasting, especialista em impostos do instituto de pesquisa Civita. "Força os proprietários a pedir dividendos a suas empresas, às vezes maiores do que os lucros. E intensifica substancialmente a vontade de não investir em negócios."

O imposto sobre a riqueza também é uma linha divisória entre a esquerda e a direita da Noruega. A segunda gostaria de vê-lo abolido, mas o governo de centro-esquerda do primeiro-ministro Jonas Gahr Støre elevou a alíquota do imposto sobre a riqueza e dividendos este ano, além de reduzir as deduções autorizadas sobre ativos corporativos, para os noruegueses mais ricos.

Fasting disse que os impostos sobre o patrimônio de negócios provavelmente dobraram em 2022, ante o ano anterior, enquanto o imposto sobre dividendos aumentou em quase 50%. Um imposto sobre fuga de patrimônio, destinado a reprimir os milionários que fogem do país, deve ser adotado em breve.

Embora a Noruega "jamais tivesse sido considerada um país com alto risco político", os empresários agora calculam que "ainda temos alguns anos com este governo e as coisas podem ficar ainda piores", disse Fasting.

Sistema de bem-estar social beneficia mais ricos, que por isso precisam contribuir mais, diz governo

O governo não parece arrependido. Erlend Trygve Grimstad, secretário de Estado no Ministério das Finanças, disse que a gestão quer que indivíduos e empresas prosperem, mas que os mais ricos tinham que pagar mais para ajudar a manter o generoso sistema de bem-estar social do país. Ele diz ainda que a Noruega conta com milhares de milionários, uma média superior à de muitos países ricos, em base per capita.

"As pessoas se beneficiam de educação gratuita, infraestrutura nacional, assistência médica gratuita, cuidado infantil pré-escolar subsidiado, regras robustas de licença e impostos corporativos em linha com os de outros países. Isto significa que aqueles que desfrutam de sucesso sob esse modelo social devem contribuir mais que os outros", afirmou.

E nem todos os noruegueses ricos estão partindo. Nicolai Tangen, antigo administrador de fundos de hedge que hoje dirige o fundo de investimento nacional da Noruega, teve que pagar 60 milhões de coroas norueguesas a mais em impostos do que recebeu em salários, quando retornou de Londres. "Pago meus impostos com prazer. Pessoalmente acho que recebo muito em retorno pelo dinheiro dos impostos", ele disse.

Karl Johan Lier, presidente-executivo da AutoStore, uma empresa de armazenagem robotizada, e o nono maior contribuinte norueguês no ano passado, disse que entendia por que as pessoas estavam saindo, especialmente aquelas que estão apenas começando seus negócios.

"Há muitas pessoas que não deveriam ter que sair", disse, acrescentando que não se enquadra nessa categoria. "Tenho minha família aqui, meus netos. Isso é mais importante do que os impostos, nesse contexto", enfatizou.

Haga disse que não tinha muito a ganhar ao se pronunciar sobre a questão, mas que queria soar o alarme quanto aos empreendedores e ao mercado incipiente de startups da Noruega.

"A Noruega passou de um lugar ruim a um lugar horrível para construir uma empresa. A razão para isso é o imposto sobre a riqueza", disse.

Tradução de Paulo Migliacci.

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