Polícia prende suspeitos de manter pacientes em condição análoga à escravidão no Rio

Segundo delegado, suspeitos "alegaram que tratavam todos os pacientes muito bem"

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Rio de Janeiro

Dez pessoas em situação análoga à escravidão foram resgatadas de uma clínica ilegal de reabilitação em Magé, na Baixada Fluminense. A Polícia Civil chegou ao local, nesta quinta-feira (27), após uma denúncia anônima. Entre as vítimas, estavam idosos, portadores de HIV e dependentes químicos que dividiam as dependências sem condições mínimas de higiene.

Dois homens foram presos em flagrante. Gilberto Cabral Leão, que se diz pastor, é apontado como o dono do imóvel junto com a mulher, que não estava no local. Cristiano Santos da Silva atuava como o gerente da clínica.

O delegado João Garcia, da 65ªDP, afirmou à Folha que os suspeitos "alegaram que tratavam todos os pacientes muito bem". Os presos, que ainda não têm advogados, foram encaminhados ao sistema prisional e estão à disposição da Justiça. A mulher do pastor ainda não foi localizada pela polícia.

Imagem colorida mostra carro da Polícia Civil em frente à uma casa antiga com tintura amarela
Polícia prende suspeitos de manter 10 pessoas em condição análoga à escravidão na Baixada Fluminense - Divulgação/PCERJ

Os agentes foram ao local, após receberam informações do Disque-Denúncia. Lá, constataram que a clínica não tem licença para funcionamento. Os policiais ainda encontraram uma ligação ilegal de energia no imóvel durante a perícia.

A visita da polícia aconteceu com o apoio da vigilância sanitária de Magé, que constatou mais de 10 tipos de irregularidades. Imagens feitas pelos policiais mostram o interior da casa.

Em um dos quartos, havia colchões e lençóis sujos, as paredes mofadas com manchas de sujeira e, em algumas partes, com reboco quebrado. O espaço onde funcionava uma cozinha não tinha janelas ou porta; havia uma geladeira enferrujada e com manchas escuras por dentro, além de algumas panelas, e restos de comida.

De acordo com o delegado João Garcia, todos eram obrigados a trabalhar no local e pagavam para permanecer no abrigo.

"Eles eram forçados a trabalhar para ter direito a condições mínimas de sobrevivência, e isso nenhuma clínica de reabilitação faz. Também podemos tipificar nessa situação o crime de tortura, que também ocorre quando uma pessoa é mantida a intenso sofrimento físico e mental, que era o caso. Tudo isso será investigado", afirmou.

Além disso, os documentos das vítimas eram retidos e falsificados pelos donos da 'clínica' que ficava com o dinheiro oriundo de benefícios dos internos.

As vítimas ainda relataram à polícia que eram impedidas de se ausentar da residência e de fazer contato com seus familiares. "Caso desobedecessem às ordens dos administradores, os pacientes perdiam o direito de se alimentar e ficavam trancados em um quarto em condições sub-humanas", disse o delegado.

Os internos foram encaminhados para o hospital da prefeitura para serem submetidos a exames. Após a avaliação médica, os pacientes serão reencaminhados para um abrigo da prefeitura.

A investigação do caso segue na 65ª DP, em Magé.

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