Descrição de chapéu Banco Central

Banco Central deve ser instituição de Estado, não de governo, diz diretor do BC

Em meio a embate com Lula, Bruno Serra, diretor de política monetária, diz que autonomia do BC beneficia a sociedade

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Isabel Versiani
Brasília | Reuters

Em meio às tensões recentes entre o governo Lula e o Banco Central, o diretor de política monetária da autarquia, Bruno Serra, fez nesta quarta-feira (8) uma defesa contundente da autonomia do banco, ressaltando que ela favorece a sociedade ao permitir que a autoridade monetária tome decisões técnicas, sem interferência dos ciclos políticos.

"O Banco Central é para ser uma instituição de Estado, não de governo", disse Serra durante palestra em evento empresarial em Macaé (RJ).

"A autonomia do Banco Central nos beneficia, beneficia a sociedade, por segregar o ciclo político do ciclo da economia. A economia não obedece ao ciclo político."

Prédio visto de baixo, com árvore seca em primeiro plano, bate sol no prédio e ao fundo céu azul
Sede do Banco Central em Brasília - Pedro Ladeira - 4.mai.22/Folhapress

Serra, cujo mandato termina no final deste mês, reiterou ainda argumento da última ata do Comitê de Política Monetária sobre a importância de ancorar as expectativas de inflação, o que ele classificou como o principal desafio do BC no momento.

"Até alguns meses atrás, os agentes entendiam que a meta era crível, achavam que pelo menos em 2025, 2026, o Banco Central seria capaz de entregar, mas recentemente a gente teve um aumento das expectativas mais longas, que precisa ser compreendido", disse Serra.

Ele afirmou que não pode haver leniência do BC.

"Um banco central que não tenha credibilidade para entregar a meta, seja lá qual for a meta que lhe for definida, é ruim para a sociedade, é ruim para o governo", disse o diretor, acrescentando que isso aumenta o custo necessário para reduzir a inflação.

As declarações de Serra se dão após sucessivos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros membros do governo federal ao nível da taxa de juros, à autonomia do Banco Central e ao próprio presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Na véspera, Campos Neto já havia reagido indiretamente às críticas ao falar que a autonomia do Banco Central é importante porque desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político.

Serra argumentou que a diretoria do Banco Central que levou a taxa a 13,75% é praticamente a mesma que reduziu a Selic para 2% em meio à pandemia e disse que o aperto atual tem se dado em meio a um ciclo global de alta de juros.

"Vamos ter ciclo de flexibilização monetária em algum momento futuro, quando as condições permitirem", afirmou.

A nomeação do substituto de Serra está sendo vista como um importante termômetro da relação do governo com o BC, em meio a especulações de que Lula pode dar preferência a profissionais de carreira do banco, ou a perfis que possam se contrapor a Campos Neto, que trabalhou por anos no mercado financeiro antes de ir para o BC na administração Jair Bolsonaro.

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