Descrição de chapéu Folhainvest juros

Presidente do Itaú recomenda que grandes empresas diminuam endividamento

Credor da Americanas, banco triplicou em um ano sua reserva de prevenção contra calotes

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São Paulo

O maior banco da América Latina quer que grandes empresas diminuam seu apetite por empréstimos. O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, recomendou que as companhias "diminuam seus níveis de endividamento" para enfrentar o momento atual de juros altos e incertezas.

Durante conversa com jornalistas nesta quarta (8), Maluhy comentou o salto no índice de cobertura do banco, que consiste em valores separados para se precaver contra atrasos maiores que 90 dias no pagamento de empréstimos.

Itaú faz análise constante de números das grandes empresas, e procura reestruturar dívidas antes de atraso - Sergio Moraes - 29.abr.2019/Reuters

No caso da carteira de grandes empresas do Itaú, esse índice passou de 588% ao final de 2021 para 1.857% no fim do ano passado. Em setembro, a cobertura do Itaú contra inadimplência de grandes empresas estava em 1.371%.

"No último trimestre de 2022, o principal fator para esse aumento é o caso isolado que tivemos de uma empresa que pediu recuperação judicial", afirma Maluhy, em referência à Americanas. Na lista de credores entregue pela varejista à Justiça, constam dívidas de R$ 2,9 bilhões com o Itaú.

Mas o caso Americanas sozinho não explica essa maior precaução tomada pelo Itaú em relação às grandes empresas, que começou já no segundo trimestre de 2022, quando o Índice de Cobertura saiu de 599% para 1.125%, quase dobrando em três meses.

A explicação desse aumento passa pelo processo de análise das grandes empresas pelo Itaú. O presidente do banco afirma que há um acompanhamento constante dos fundamentos das companhias, e que na maioria dos casos, é possível detectar problemas antes que ocorra um atraso efetivo no pagamento das dívidas.

"Quando percebemos que a empresa está em um momento mais difícil, já procuramos reestruturar a dívida. Por isso, ver o nível de inadimplência das grandes empresas não é o mais adequado. Quando ocorre, é por um curto espaço de tempo", explica Maluhy.

Juros altos complicam grandes empresas

Maluhy afirma que há uma cautela maior do banco em relação ao crédito para grandes empresas. Mas evita comparar outras situações com a que ocorre na Americanas. "Fraude não é algo corriqueiro, é algo muito eventual."

Além dos números, a preocupação aparece nos caminhos apontados pelo executivo do Itaú para que as empresas voltem a ficar saudáveis no curto prazo. "Neste momento, as empresas precisam diminuir seus níveis de endividamento. O ambiente econômico atual não favorece empresas muito alavancadas."

O Itaú espera que a taxa básica de juros (Selic) chegue a 12,50% ao ano no fim de 2023. Mas Maluhy ressalta que, mesmo se confirmado, ainda é um patamar muito alto. "Isso prejudica demais as despesas financeiras das empresas. O Brasil precisa ter condições para que os juros caiam de forma mais estrutural", diz Maluhy.

O executivo faz um paralelo com a crise de 2015 e 2016, que antecedeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Naquela época, as empresas estavam muito alavancadas, em ambiente de recessão. Hoje, os níveis de endividamento são menores, mas os juros estão altos."

Ele acrescenta que é necessário fazer um trabalho mais amplo para diminuir os spreads das operações de crédito, que consistem na diferença entre o custo que o banco tem para captar dinheiro e os juros cobrados de quem toma empréstimos.

"Precisamos melhorar as regras para execução de garantias. A parte tributária também pesa. Os bancos no Brasil estão entre os mais tributados do mundo", diz o presidente do Itaú.

2023 será o ano do 'apetite reduzido'

Em relação ao chamado segmento de varejo, que inclui pessoas físicas, micro, pequenas e médias empresas, o Itaú resolveu adotar uma estratégia mais conservadora, diminuindo as concessões de crédito, especialmente em linhas mais arriscadas.

"No cartão de crédito, resolvemos cortar em 90% as concessões. Também diminuímos muito o crédito para compra de veículos", diz Maluhy. O executivo afirma que o Itaú deve manter este "apetite reduzido" por um tempo.

Alexsandro Broedel, diretor financeiro do Itaú, ressalta que a projeção de desaceleração no crescimento da carteira de crédito para 2023, que está no intervalo entre 6% e 9%, é baseada nesta estratégia. No ano passado, a carteira do Itaú cresceu 11,1%.

Com isso, segundo Broedel, o banco pretende que os níveis de inadimplência permaneçam saudáveis. "Estamos vendo uma estabilidade nos atrasos acima de 90 dias, e vamos buscar a manutenção deste cenário em 2023", afirma.

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