Terceirizada da JBS nos EUA é multada em US$ 1,5 milhão por uso de trabalho infantil

Empresa usava crianças e adolescentes para limpar fábricas; OUTRO LADO: frigorífico diz que rescindiu contrato e convocou auditoria

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São Paulo

A americana Packers Sanitation Services, empresa responsável pela limpeza de fábricas nos EUA da brasileira JBS, a maior processadora de carnes do mundo, foi multada em fevereiro em US$ 1,5 milhão pelo uso de mão de obra infantil imigrante no país.

O caso foi relatado pelo jornal The New York Times, cuja reportagem acompanhou nos últimos meses mais de cem crianças trabalhadoras imigrantes em 20 estados americanos. A origem das crianças é a América Latina, principalmente Guatemala. Na maioria das vezes elas imigraram sozinhas, para trabalhar nos EUA e enviar dinheiro à família que ficou na terra natal.

Entre os contratantes estão grandes empresas ou terceiros contratados por elas. Segundo o jornal, teriam envolvimento JBS, Pepsico, General Mills, Ford, General Motors, entre outras, de acordo com reportagem da jornalista Hannah Dreier, do Times.

Questionada pela Folha, a JBS respondeu que "exige contratualmente de seus parceiros a adesão aos mais altos princípios éticos, conforme descrito em seu código de conduta de associados de negócios". Também alegou que, ao ser informada do ocorrido, "cancelou o contrato com a empresa terceirizada e contratou uma auditoria independente em todas as suas instalações para avaliar minuciosamente essa situação".

A Folha questionou a companhia sobre o período de vigência do contrato com a Packers Sanitation Services e quantas fábricas foram atendidas pela terceirizada nos Estados Unidos. Mas, por meio da sua assessoria de imprensa, a JBS respondeu que não poderia informar porque se tratava de um assunto da JBS USA.

jovens entram em uma fábrica à noite
Jovens trabalhadores saem da fábrica de suínos da JBS após um turno noturno de limpeza em Worthington, Minnesota, em 18 de outubro de 2022. - Kirsten Luce/The New York Times

Veja a reportagem do jornal The New York Times:

Sozinhas e exploradas, crianças imigrantes fazem trabalho brutal nos EUA

A força de trabalho paralela formada pelas crianças imigrantes se estende por setores em todos os estados, desrespeitando as leis de trabalho infantil que estão em vigor há quase um século no território americano.

Em grande parte da América Central, as crianças são movidas pelo desespero econômico que foi agravado pela pandemia. Essa força de trabalho vem crescendo lentamente há quase uma década, mas explodiu desde 2021, enquanto os sistemas destinados a proteger as crianças falharam.

Em Worthington, no estado de Minnesota, há muito tempo é de conhecimento geral que crianças imigrantes liberadas pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) estavam limpando um matadouro administrado pela JBS.

A cidade recebeu mais crianças imigrantes desacompanhadas per capita do que quase qualquer outro lugar do país.

Do lado de fora da fábrica de suínos da JBS, o Times conversou com trabalhadores que tinham "cara de bebê". Muitos riscaram seus nomes falsos dos crachás da empresa para esconder evidências de que estavam trabalhando com identidades falsas. Alguns disseram que sofreram queimaduras químicas dos produtos de limpeza corrosivos usados.

Inspetores do trabalho, respondendo a uma denúncia, encontraram 22 crianças que falavam espanhol trabalhando para a empresa contratada para limpar a fábrica da JBS em Worthington; dezenas de outras tinham o mesmo emprego em fábricas de processamento de carne nos Estados Unidos.

O Departamento do Trabalho geralmente só pode emitir multas. A empresa de limpeza pagou uma penalidade de US$ 1,5 milhão e teve seu contrato rescindido com a JBS.

Muitas das crianças que trabalhavam lá encontraram novos empregos em outras fábricas, depois da intervenção federal.

"Ainda tenho que pagar minha dívida, então ainda tenho que trabalhar", disse Mauricio Ramirez, 17, que encontrou um emprego no processamento de carne na cidade vizinha.

O número de menores desacompanhados entrando nos Estados Unidos subiu para 130 mil no ano passado –três vezes o que era cinco anos antes– e espera-se que os próximos meses tragam outra onda.

Estas não são crianças que entraram furtivamente no país sem serem detectadas. O governo federal sabe que eles estão nos Estados Unidos, e o HHS é responsável por garantir que os padrinhos dessas crianças os apoiem e os protejam do tráfico ou exploração.

Mas, à medida que mais e mais crianças chegam, a Casa Branca de Joe Biden aumenta as exigências dos funcionários para retirar as crianças rapidamente dos abrigos e liberá-las para os adultos. Os assistentes sociais dizem que se apressam em verificar os padrinhos.

Enquanto o HHS verifica todos os menores ligando para eles um mês depois de começarem a morar com seus padrinhos, dados obtidos pelo Times mostraram que, nos últimos dois anos, a agência não conseguiu atingir mais de 85 mil crianças. No geral, a agência perdeu contato imediato com um terço das crianças imigrantes.

Uma porta-voz do HHS disse que a agência queria liberar as crianças rapidamente, pelo bem de seu bem-estar, mas não havia comprometido a segurança. "Existem vários lugares ao longo do processo para garantir continuamente que a colocação seja no melhor interesse da criança", disse a porta-voz, Kamara Jones.

Longe de casa, muitas dessas crianças estão sob intensa pressão para ganhar dinheiro. Eles enviam dinheiro de volta para suas famílias, embora muitas vezes estejam em dívida com seus patrocinadores por taxas de contrabando, aluguel e despesas de subsistência.

"É o novo trabalho infantil. Você está pegando crianças de outro país e colocando-as em servidão quase obrigatória."

Somente nos últimos dois anos, mais de 250 mil crianças entraram sozinhas nos Estados Unidos.

A lei federal proíbe os menores de uma longa lista de trabalhos perigosos, incluindo conserto ou instalação de telhados, processamento de carne e panificação comercial. Exceto nas fazendas, menores de 16 anos não devem trabalhar por mais de três horas ou depois das 19h em dias de aula.

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