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Anne-Sylvaine Chassany

A China está de volta, trazendo lucro e perplexidade para os negócios ocidentais

Reabertura econômica pós-Covid vai complicar os esforços para reduzir dependência do país asiático

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Anne-Sylvaine Chassany
Financial Times

A China de Xi Jinping está se recuperando e procurando negócios com empresas ocidentais. Ao mesmo tempo que dá nova vida aos resultados das multinacionais, esse esforço também está criando um novo dilema: investir ou não na segunda maior economia do planeta, à medida que as tensões geopolíticas quanto ao destino de Taiwan se intensificam?

Desde que Pequim abandonou todas as restrições quanto à Covid-19, em dezembro, a procura reprimida no setor varejista vem alimentado uma recuperação mais rápida do que a esperada. A expansão econômica chinesa de 4,5% no primeiro trimestre teve efeito sobre a receita das marcas ocidentais, especialmente no extremo superior do espectro de consumo.

Loja em feira de importação e exportação da China, em Cantão - Ellen Zhang - 16.abr.2023/Reuters

Tomemos a Porsche, que relatou um salto recorde de 18% de vendas, impulsionado pela China, o maior mercado para os automóveis de luxo alemães. Ou o LVMH, igualmente impulsionado pelo dinamismo no maior mercado mundial de produtos de luxo, que o grupo francês disse ter gerado um aumento de 17% nas vendas do primeiro trimestre, o exato momento em que o crescimento dos Estados Unidos vacilou. Enquanto isso, a Hermès, outra rival sediada em Paris, saudou "um ano novo chinês muito bom", com crescimento de 23% em suas receitas asiáticas. Nessas esferas superiores, os consumidores podem pagar até 30% mais por bens de luxo na China do que na Europa, de acordo com o banco Morgan Stanley.

Mas há um "elefante na sala", como observou Erik Nielsen, economista do UniCredit em um briefing depois da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) no segundo trimestre: as crescentes tensões geopolíticas entre a China e o Ocidente estão trazendo "a mudança mais profunda em uma geração no pensamento de política econômica, e nas prioridades de políticas públicas".

Nos Estados Unidos, ele escreveu, "só se fala de conter a China". Na Europa, isso acontece igualmente, se bem que em versão mais suave. Isto significa que se (ou quando?) as relações entre Estados Unidos e China se deteriorarem ainda mais nesse cabo de guerra, levando a mais medidas protecionistas, incluindo proibições de exportação e sanções, "as empresas europeias serão muito provavelmente apanhadas entre os dois lados".

Sven Behrendt, sócio na Berlin Global Advisors, disse que o mundo empresarial está em um estranho momento "no qual o hedonismo pós-pandemia encontra o risco geopolítico".

As empresas vêm tomando consciência desse risco desde que o ex-presidente americano Donald Trump impôs uma série de sanções econômicas a empresas chinesas, adotando uma política de mais confronto com relação a Pequim, que continuou sob o seu sucessor democrata Joe Biden. Para as cadeias de suprimento, essa postura, aliada a enormes perturbações comerciais durante a pandemia da Covid, levou as empresas a abandonar a noção de "just in time" e adotar a de "just in case" –da Intel à Apple, empresas estão revendo sua dependência com relação à China e tentam transferir partes de sua produção para outros países, tais como a Índia e o Vietnã.

Mas a interdependência com a China construída nas últimas duas décadas é tamanha que essa não é uma tarefa fácil, como o demonstram as dificuldades da Apple na Índia. E se há uma lição a retirar do desacoplamento muito menor entre a Rússia e o Ocidente após a invasão da Ucrânia é que o processo é doloroso para as marcas ocidentais, e estas só o adotam com relutância.

A recuperação econômica da China só tornará mais difíceis esses planos de diversificação das cadeias de suprimento, especialmente para as empresas de capital aberto. Com a crescente pressão dos acionistas, e o pagamento de incentivos vinculados ao desempenho do preço das ações, a tentação de minimizar os riscos geopolíticos ou ignorá-los será maior (um general dos Estados Unidos previu recentemente que Washington e Pequim provavelmente entrariam em guerra por causa de Taiwan em 2025).

Uma prova é a montadora alemã de automóveis Volkswagen, proprietária da Porsche, que anunciou esta semana um plano para investir um bilhão de euros na construção de um centro de inovação na China. Isso veio depois de uma decisão no ano passado de investir 2,4 bilhões de euros em um empreendimento com o designer chinês de chips Horizon Robotics. Não é exatamente um sinal de prudência em relação a um país que um número crescente de autoridades políticas considera como a maior ameaça para o Ocidente.

Tradução de Paulo Migliacci

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