Descrição de chapéu América Latina inflação

Dólar paralelo dispara e chega a quase 500 pesos na Argentina, e governo acusa oposição e especuladores

Executivo tem recorrido a uma forte emissão monetária para sustentar as finanças públicas

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Buenos Aires | AFP

O preço do dólar no mercado paralelo da Argentina registra uma escalada nos últimos dias e chegou a 497 pesos argentinos nesta terça-feira (25), 35 pesos a mais que na segunda (24), refletindo a alta inflação, segundo economistas. Para o governo, a subida é fruto de "rumores e notícias falsas".

Além do dólar paralelo, ou "azul", ser negociado em pequenas quantidades, seu preço é tomado como um sinal do humor dos mercados, em um país com poucas reservas cambiais e acesso muito restrito ou quase inexistente ao mercado de dólar oficial, que é vendido a 227,54 pesos nesta terça, em meio a um rígido controle cambial.

"Há vários dias vivemos uma situação atípica de boatos, versões, notícias falsas e seu consequente impacto nos instrumentos financeiros atrelados ao dólar. Vamos usar todas as ferramentas do Estado para ordenar essa situação", tuitou o ministro da Economia, Sergio Massa.

Inflação argentina atingiu os três dígitos pela primeira vez desde 1991, quando o país estava saindo da hiperinflação - Agustin Macarian - 14.mar.2023/Reuters

O ministro afirmou que o governo vai usar a Justiça para apurar e esclarecer condutas do mercado e a Unidade de Informações Financeiras e a Comissão Nacional de Valores Mobiliários do país para analisar operações relacionadas a lavagem de dinheiro.

Após o pronunciamento de Massa, o dólar paralelo parou de subir e cedeu levemente em relação a sua máxima do dia.

A economista María Castiglioni explicou ao canal de notícias TN que, em um contexto em que a inflação, longe de convergir com a meta oficial, está acelerando ainda mais, os argentinos buscam refúgio no dólar para preservar seu poder de compra.

O país registra inflação de 104% em 12 meses, o que corrói a renda dos argentinos.

Há menos de duas semanas, na sexta-feira (14), o dólar "azul" foi vendido a 392 pesos, enquanto nesta terça chegou perto de 500 pesos por cédula no final do dia, com uma diferença de 120% em relação ao oficial.

A seis meses das eleições presidenciais, a Argentina vive uma incerteza, com um cenário político aberto entre a coalizão governista de centro-esquerda e a oposição de direita, depois que o presidente Alberto Fernández anunciou na última sexta-feira (21) que não se candidatará à reeleição.

Tensão financeira

Em entrevista a jornalistas com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, na Casa Rosada, o presidente argentino culpou a direita por operar nos mercados para manter lucros extraordinários.

"É uma prática permanente da direita argentina: primeiro instalam boatos pela manhã, operam ao longo do dia e quando termina a tarde retiram sua rentabilidade do mercado de câmbio e assim prejudicam a poupança de argentinos", disse Fernández .

O governo tem recorrido a uma forte emissão monetária para sustentar as finanças públicas, num contexto de acesso muito limitado ao crédito internacional. A Argentina também mantém um programa de crédito de US$ 44 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que a obriga a cumprir as metas de déficit fiscal.

Buscando fortalecer as reservas, o Executivo tem promovido mecanismos como o chamado "dólar da soja" para estimular o setor agrícola a vender a produção a um câmbio mais favorável do que o oficial, com o objetivo de melhorar a arrecadação. Mas uma forte seca e o avanço do 'azul' limitaram o alcance desta iniciativa.

No âmbito da corrida cambial, Fernández reuniu-se na segunda-feira com o presidente do banco central do país, Miguel Angel Pesce, sem qualquer informação sobre o que foi discutido. O presidente disse estar trabalhando com Massa e garantiu que a presidência de Pesce na autoridade monetária "nunca esteve em discussão".

Tradução de Marcelo Azevedo

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