Descrição de chapéu Folhainvest Banco Central

Galípolo no BC é elogiado até por oposição no Senado

Nome de secretário-executivo da Fazenda agrada de Pacheco a Ciro; ex-ministro de Bolsonaro diz que ele vai deixar 'vácuo' na economia

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Brasília

O nome do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria do BC (Banco Central) foi bem recebido pelo Senado Federal e arrancou elogios até da oposição. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a escolha "certamente" agrada.

"Eu considero o Gabriel Galípolo um excelente quadro da República. Hoje cumpre uma função importante na Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda, [tem] um excelente diálogo com o Congresso Nacional", disse Pacheco.

"O vejo como alguém com predicados próprios para ocupar essa posição. Vejo [a indicação] com bastante otimismo, é um nome que agrada certamente o Senado Federal", completou após agenda na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Gabriel Galípolo, número 2 no Ministério da Fazenda e indicado para o BC, ao lado do ministro Fernando Haddad em dezembro - Pedro Ladeira-13.dez.2022/Folhapress

O nome de Galípolo foi anunciado nesta segunda pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a política monetária do Banco Central. O servidor Ailton Aquino dos Santos foi apontado para assumir a diretoria de fiscalização da autarquia.

Ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que Galípolo "é o melhor nome da economia" e deve ser aprovado para o BC sem grandes dificuldades. "Grande indicação, mas vai deixar um vácuo muito grande na economia", disse o senador, que é líder da minoria e membro da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

O presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), disse que a data da sabatina de Galípolo e Aquino Santos ainda será negociada com as lideranças da Casa, mas ressaltou que os dois nomes tiveram boa recepção entre os parlamentares. "Creio que vai ser tranquilo, os dois são muito técnicos", afirmou.

Em meio às críticas do governo e de congressistas à atual política monetária do BC, Cardoso disse que o "prato principal" das sabatinas deve ser o atual patamar da taxa de juros.

Para o presidente da CAE, se por um lado a escolha de Galípolo pode ser vista como uma indicação do PT para o Copom, por outro chamou atenção a declaração de Haddad de que a sugestão do nome partiu primeiro de Campos Neto —alvo contumaz dos ataques petistas. "Ele [Haddad] está sinalizando que quer continuar com o diálogo", avaliou.

O ex-secretário da Pesca de Bolsonaro e vice-líder do PL, Jorge Seif (PL-SC), também elogiou Galípolo e desejou sorte. O senador disse que torce para que "o governo passe a nomear pessoas que tenham perfis técnicos" e que "sem dúvida nenhuma o Gabriel reúne condições".

"O que mais me chama atenção na pesquisa sobre ele é que ele contrário à ideia do embate do mercado versus Estado. Apesar de ser um senador de oposição, eu torço para que ele faça um brilhante trabalho no Banco Central e consiga realmente pacificar os ataques que hoje o Banco Central sofre por estar segurando o poder de compra da nossa moeda."

Integrante da CAE e líder do Podemos no Senado —sigla independente ao governo—, Oriovisto Guimarães (PR) afirmou que Galípolo tem bom diálogo com o parlamento e deve ser aprovado pela comissão com facilidade.

"Lula vai ter dois votos [no Banco Central]. Qualquer coisa ele perde de 7 a 2. Não vejo com grandes preocupações, acho que o nome dele passa fácil. Claro que a oposição vai fazer perguntas, mas o fato de [a sabatina] ser um pouco mais dura é uma chance também para ele se sair bem", disse.

Outros senadores da oposição afirmam querer esperar, no entanto, a sabatina de Galípolo. Antes de serem nomeados, os indicados pelo presidente da República para a diretoria do BC devem ser aprovados pela CAE e pelo plenário da Casa.

"Ali só cabe aprovar ou rejeitar [o nome], não cabe discutir. Quem indica é o presidente, quem aprova ou reprova é o Senado. Vai depender muito da fala dele, da resposta dele às questões que serão levantadas", afirmou o líder do PSDB, senador Izalci Lucas (DF).

Líder da oposição e titular da CAE, o também ex-ministro de Bolsonaro Rogério Marinho (PL-RN) afirmou que a indicação dos diretores do Banco Central é prerrogativa do presidente da República, e que aguarda a sabatina para saber o que Galípolo está pensando sobre política monetária.

"Eu sei o que ele já escreveu, mas vamos saber o que ele pensa. Vamos aguardar a sabatina. Só espero que ele leve em consideração a necessidade, caso seja aprovado, de que tenhamos responsabilidade no trato da política monetária. Não seja diapasão do presidente, que quer mudar taxa de juros esmurrando mesa", disse.

A indicação de Galípolo se dá em meio à insatisfação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, pelo patamar atual da taxa básica de juros, Selic —mantida em 13,75% ao ano na semana passada.

A escolha deixa aberta a possibilidade de Galípolo futuramente assumir o lugar do atual presidente da autarquia, cujo mandato acaba em dezembro do ano que vem.

Vice-líder do governo Lula no Senado e líder do PSB, Jorge Kajuru (PSB-GO) diz que as indicações são importantes para que Campos Neto não fique "nadando de braçada, fazendo o que quer".

Outros senadores da base de Lula reforçaram que Galípolo e Aquino são nomes técnicos, e que não há motivos para barrá-los.

"Gabriel Galípolo e Ailton Aquino são quadros experientes. Ambos bons nomes técnicos. Acredito que serão bem recebidos pelos colegas no Senado, onde serão analisadas as indicações", afirmou o líder do MDB, senador Eduardo Braga (AM).

"As sabatinas irão ser reveladoras, mas, a priori, não se encontram motivos para vetar o nome [de Galípolo]. É um nome que tem perfil técnico, e acredito que terá o acompanhamento da bancada com o desenvolvimento dele na comissão", declarou o líder da União no Senado, Efraim Filho (PB).

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, também disse nesta segunda que Gabriel Galípolo foi uma "boa escolha", ressaltando que o economista é experiente e poderá "pacificar" a discussão em torno da política monetária.

"Vai contribuir muito, primeiro, para pacificar essa pauta. Acho que já deu o que tinha que dar em matéria de politização", disse Tebet a jornalistas.

Após o evento da Fiesp, Pacheco também voltou a endossar as críticas de Lula ao patamar atual da taxa básica de juros, mas repetiu que o Congresso não deve rever a autonomia do Banco Central nem tomar "medida mais drástica".

"As críticas são à realidade fática da taxa básica de juros no Brasil, que nós entendemos que está hoje em um patamar muito elevado. Não são críticas pessoais, absolutamente, nem são críticas àquilo que nós fizemos no Senado Federal, que foi a aprovação da lei da autonomia do Banco Central", disse.

"Nosso papel não é de criar polêmica, não é de criar divisões, é de um ambiente propício para que haja essa redução da taxa de juros. E quero fazer isso obviamente com o Ministério da Fazendo, Ministério do Planejamento e o próprio Banco Central. Não há cogitação de qualquer medida mais drástica. Até porque medidas como essa não dependem do Senado."

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