Puxado para baixo por Bradesco e Santander, lucro dos grandes bancos recua 6% no 1º trimestre

Banco do Brasil e Itaú impediram queda maior dos resultados no setor

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São Paulo

A temporada de balanços do primeiro trimestre dos grandes bancos mostrou uma postura conservadora na concessão de crédito, em meio a um cenário de juros altos e endividamento de famílias e empresas que pressiona os índices de inadimplência e reduz o poder de compra.

Na avaliação dos próprios bancos, a tendência é que a cautela prossiga ao longo dos próximos meses, frente a um ambiente macroeconômico que continua desafiador e impede a adoção de estratégias mais arrojadas.

Fachada de agências dos bancos Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil
Agências dos bancos Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil - Eduardo Anizelli, Rubens Cavallari/ Folhapress - Fernando Bizerra/Agência Senado

"O crescimento do crédito no primeiro trimestre já foi bem mais modesto em comparação aos últimos resultados", afirma Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating. Segundo o especialista, esse direcionamento decorre de uma série de fatores, como o aumento no número de empresas em dificuldades financeiras e os efeitos da política monetária sobre a economia.

Como reflexo da atuação mais tímida, em conjunto, os quatro grandes bancos —Itaú, Bradesco, Santander e BB (Banco do Brasil)— reportaram um lucro líquido de R$ 23,3 bilhões no primeiro quarto do ano, o que corresponde a uma queda de 6% em relação ao mesmo período de 2022.

A queda foi puxada por Bradesco e Santander, que viram os lucros recuarem 37% e 46%, respectivamente. Eles são bancos mais expostos a clientes de baixa renda e viram um aumento expressivo da inadimplência pressionando os resultados, diz Pedro Gonzaga, analista e sócio da gestora Mantaro Capital.

A diminuição dos lucros não foi maior devido à alta de 30% e 14,6% nos lucros de BB e Itaú. Enquanto o BB se beneficia da exposição ao agro, o Itaú soube trabalhar o atual ciclo de crédito de forma mais assertiva, com uma redução na concessão para classes de menor renda que resultou em um resultado melhor da inadimplência, diz Gonzaga.

Agronegócio sustenta alta do lucro do BB no 1º trimestre

O agronegócio contribuiu de maneira relevante para os resultados do BB. A carteira de crédito do agronegócio foi a que teve o maior crescimento no banco no primeiro quarto do ano, em torno de 26%, e impulsionou a expansão dos resultados de forma mais ampla.

Presidente do banco público, Tarciana Medeiros afirmou que o agronegócio "é e sempre será estratégico para o BB". "O BB é o banco do agronegócio brasileiro e vamos consolidar essa posição cada vez mais", disse Tarciana durante conversa com jornalistas nesta terça.

Os números do banco foram bem recebidos pelos analistas de mercado. Os analistas do Itaú BBA avaliaram que o banco público apresentou o melhor conjunto de resultados do setor e dizem que o número reforçou sua preferência pelas ações do BB em comparação aos pares na Bolsa.

Itaú é o destaque positivo entre os bancos privados

Entre as instituições privadas, o destaque positivo ficou com o Itaú, que viu o lucro aumentar 14,6% de janeiro a março, para R$ 8,4 bilhões.

Segundo o banco, entre os fatores que mais influenciaram os resultados estão o aumento da receita com prestação de serviços e seguros e o crescimento da margem financeira com clientes (receitas com a intermediação financeira de operações de crédito).

O presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que o crescimento do crédito refletiu uma postura mais cautelosa na oferta por parte do banco e também houve menor procura das empresas.

"A gente continua sendo bastante cauteloso, mas não é só uma questão de oferta do banco. Muito pelo contrário. A demanda tem caído e temos percebido em vários segmentos uma redução importante, sobretudo nas empresas", afirmou o presidente do Itaú.

Especialistas reforçaram a visão positiva para as ações do Itaú na Bolsa.

"Acreditamos que o resultado do trimestre [do Itaú] foi positivo, mantendo uma forte e consistente rentabilidade acima de seus pares, em linha com as nossas expectativas", afirmaram os analistas da Genial Investimentos.

Bradesco com resultados ainda pressionados e queda de quase 50% do Santander

O Bradesco, por sua vez, viu o lucro recuar 37,3%, para R$ 4,3 bilhões. Mesmo tendo superado as expectativas do mercado, o banco ainda deve seguir com os resultados pressionados durante o segundo trimestre. Uma melhora estrutural do desempenho deve ocorrer apenas ao longo da segunda metade do ano.

"Vemos o nosso desempenho do segundo trimestre ainda pressionado, principalmente por conta da PDD (Provisões para Devedores Duvidosos), mas reforçamos a mensagem de que vemos os nossos resultados evoluindo ao longo do ano de 2023, com um desempenho superior no segundo semestre", afirmou o presidente do banco Octavio de Lazari Junior.

"O Bradesco reportou resultados ruins", dizem os analistas da Ativa Investimentos. Eles destacam que a inadimplência avançou em ritmo ainda mais forte do que as expectativas já pessimistas.

No caso do Santander, o banco viu o lucro recuar 46,6% no primeiro trimestre, para R$ 2,14 bilhões, em linha com a expectativa dos analistas e do próprio banco.

Segundo Mario Leão, CEO do Santander Brasil, a performance apresentada pelo banco ficou dentro do esperado e refletiu uma maior seletividade na concessão de crédito iniciada ainda no final de 2021, com um foco concentrado em linhas mais conservadoras, como empréstimo consignado e imobiliário.

Ele disse que ainda não vê uma melhora do mercado e do quadro macro de forma mais ampla no curto prazo e que, por isso, a tendência é manter a postura mais cautelosa ao longo de todo o ano de 2023.

"Iniciamos 2023 focados no fortalecimento de nosso balanço. A seletividade do crédito, que estamos adotando a partir do final do quarto trimestre de 2021, com foco em produtos com garantias e clientes com melhor perfil de rating, permite uma melhor qualidade de balanço", afirmou. "Não acredito que, ao longo do ano, a gente deve mudar o apetite."

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