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Recados da ata do Copom mostram influência da política no BC

Comitê repete pedidos de 'serenidade e paciência' enquanto Lula critica atuação

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Brasília

Integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, pelo que vem sendo escrito nos comunicados e atas, se deixaram envolver na briga pública sobre os juros com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ata desta terça-feira (9) tem exemplos dessa toada.

Uma das afirmações que mais chama atenção é aquela destacando que o "Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."

Fachada do Banco Central, em Brasília - Gabriela Biló - 14.abr.2023/Folhapress

O Copom adota esse tipo de aviso desde antes do primeiro turno da eleição presidencial, como se houvesse algum risco de ele titubear. A permanência de tal destaque já vem sendo considerada no mínimo "infeliz" por alguns economistas. O Copom existe para não hesitar nesses casos. Nem quem questiona o alto patamar dos juros hoje tem dúvida de que ele reagiria em caso de repique dos preços.

O texto também volta a pedir que se tenha, com a condução da política monetária, "paciência e serenidade". A recomendação é citada não uma, mas três vezes na edição atual. Na ata da reunião anterior, tal recomendação foi citada duas vezes.

Impossível não ler a reiterada afirmação como um comentário direto para os integrantes do governo, especialmente ao presidente Lula, que tem nitidamente perdido a paciência e a serenidade quando fala dos juros no Brasil.

A ata aborda a questão fiscal e seus efeitos sobre a inflação em quatro parágrafos. Afirma que a apresentação da proposta de arcabouço fiscal reduz parte da incerteza nesse terreno. Porém, volta a afirmar que "não há relação mecânica entre a política monetária e o arcabouço fiscal". Pela descrição da ata, a cúpula do BC sinaliza que um fiscal ruim contribui contra, mas regras novas, mesmo que funcionem, não pesam a favor.

Não foi a mensagem do Copom na ata de janeiro de 2017, após a aprovação do teto de gastos.

O texto da época lembra que todos os membros do Comitê reiteraram que a aprovação da emenda constitucional que travou os gastos públicos era "uma contribuição importante para a economia brasileira".

"Enfatizaram, ainda, a relevância de outras reformas no âmbito fiscal para a continuidade do processo desinflacionário em curso e para as perspectivas de manutenção da inflação em torno da meta, com benefícios para a sociedade", diz o texto da época.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já afirmou que a instituição não faz política fiscal, mas pode jogar luz sobre o debate. Pelo descrito nas atas, a voltagem pode variar.

O combate à inflação é um desafio global. As atas destacam isso. Entender a dinâmica dos preços durante e depois da pandemia se mostrou um novo tipo de desafio. Nem todas as velhas fórmulas funcionam. Os custos dispararam, elevando os preços de itens tão díspares quanto repolhos e automóveis. No gradual retorno à normalidade, ocorreram vários repiques, no comércio, na indústria e, mais recentemente, nos serviços.

Há uma desaceleração da inflação, gradual e nada homogênea. Boa parte dos preços estacionou em patamares elevados. Muitas convicções e pouco debate, o que vem sendo demonstrado tanto pelo governo como pelo BC, não parecem o caminho mais racional para a solução neste momento atípico.

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