Descrição de chapéu Banco Central

Estou à disposição de Lula para jogar na posição que for mais adequada, diz Galípolo

Secretário é aposta do governo para presidir BC no futuro, mas ele diz não ter recebido sinalização nesse sentido

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Brasília

Escolhido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma das vagas abertas na diretoria do Banco Central, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (9) que está à disposição do presidente da República para atuar onde for melhor para o governo.

Indicado ao cargo de diretor de política monetária da instituição, Galípolo é uma das apostas do governo para se tornar o futuro presidente do BC, sucedendo Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerra em 31 de dezembro de 2024.

O atual secretário negou ter recebido sinalização nesse sentido quando perguntado por jornalistas, mas disse estar à disposição de Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para atuar na posição mais adequada na avaliação do governo.

O secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, em coletiva em frente ao ministério - Gabriela Biló - 9.mai.2023/Folhapress

"Não, não [sobre ter recebido a sinalização de presidir o BC]. Na verdade assim. O que conversei, tanto com o ministro, e também o presidente sabe disso, [é que] eu não vim aqui para cá para ter nenhum projeto de carreira pessoal, não faz nenhum sentido para mim. A minha posição sempre foi, tanto com o presidente quanto com o ministro, que estou aqui para tentar colaborar com o projeto", disse Galípolo a jornalistas em entrevista na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília.

"Desde que se entenda que eu possa colaborar e, na posição que se entenda que eu possa colaborar, eu me sinta confortável em desempenhar, eu estou à disposição do presidente e do ministro Fernando Haddad para desempenhar e jogar na posição que eles entenderem que é a mais adequada", afirmou.

A ligação de Galípolo com Haddad, de quem é o número dois na Fazenda, e Lula, com quem conversa sobre temas econômicos desde o período pré-campanha eleitoral, tem preocupado agentes do mercado financeiro, que veem sua indicação como uma tentativa do governo de influenciar as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre o rumo da taxa de juros.

O atual patamar da Selic, que está em 13,75% ao ano, tem sido um alvo preferencial das críticas entoadas não só por Lula, mas também por outros membros do governo e por parlamentares do PT. A avaliação é que um corte na taxa de juros pode impulsionar a atividade econômica, algo tido como crucial para consolidar o apoio popular e político à gestão petista.

Com a indicação de Galípolo e de Ailton de Aquino Santos, servidor do BC, Lula inaugura as primeiras duas escolhas que cabem a seu governo. Outras duas vagas na diretoria ficarão disponíveis no fim deste ano. O Copom tem ao todo nove membros com direito a voto —oito diretores e o presidente da autoridade monetária.

Apesar dos temores de influência do governo sobre o BC, que tem autonomia garantida por lei, o secretário tratou com naturalidade a afinidade de ideias com a atual gestão. "Me parece que a crítica está associada à ideia de o ministro Fernando Haddad e o presidente indicarem alguém que está afinado com o governo. O que seria muito estranho [é] se fosse diferente, não é? Se ele indicasse alguém que está desafinado com eles", disse.

"Me parece que está sendo cumprido o que prevê a lei da autonomia do Banco Central. Cada governo que vai chegar vai indicar os seus diretores. E me parece que é trivial, esperado, que os diretores sejam indicados [a partir] de algum tipo afinamento e alinhamento com o governo que foi eleito. Aliás, é saudável do ponto democrático que assim seja", acrescentou Galípolo.

No próprio governo, interlocutores citam que a indicação de Galípolo é uma forma de "marcar território" dentro do BC, que hoje tem a diretoria composta integralmente por nomes escolhidos pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) —o que inclui Campos Neto, alvo preferencial das críticas de Lula e petistas.

Na entrevista, Galípolo disse que pretende atuar como um "facilitador" da convergência entre as políticas fiscal e monetária e "não necessariamente" vai ingressar na diretoria do BC para baixar os juros, mas disse crer que "todo mundo" tem esse desejo. "Tenho convicção de que toda a diretoria do Banco Central não tem nenhum tipo de satisfação, nem profissional, nem pessoal, de ter um juro mais alto. Tenho absoluta convicção disso", afirmou.

"O que vem sendo feito pelo pela Fazenda é tentar criar um ambiente para que o mercado possa colocar os preços na maneira adequada e que o Banco Central possa sancionar essa redução de juros", disse.

Ele ressaltou também que seu objetivo, ao se tornar diretor do BC, será buscar consensos nas discussões do Copom, "O que não significa, obrigatoriamente, que todo mundo vai pensar igual em economia", afirmou.

No governo, a expectativa é de que o ingresso de Galípolo no colegiado do BC contribua para abrir divergência ou ampliar as discussões nas reuniões do, iniciando um processo de convencimento por dentro da instituição para cortar a taxa básica.

Mais tarde, em entrevista à CNN Brasil, o secretário demonstrou já ver na economia brasileira alguns sinais que abrem espaço para a redução da Selic. Segundo ele, o ceticismo inicial do mercado financeiro em relação à agenda de Haddad deu lugar a uma percepção de que as medidas estão avançando, tanto no Congresso quanto no Judiciário.

"Quando a gente volta a olhar para os preços, vendo um cenário onde o patamar do câmbio melhorou, ou seja, o real se apreciou, os juros longos vêm caindo de maneira sistemática. Tudo isso proporciona um cenário mais fácil para que o BC possa ir analisando as expectativas, ir analisando os preços de mercado e possa inaugurar um ciclo de baixa, a se confirmar esse cenário", disse.

Galípolo também evitou dar pistas sobre a intenção ou não do governo de retomar a discussão de mudar a meta de inflação, hoje em 3,25% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O patamar atual da meta de inflação já foi tema das críticas de Lula ao BC. Há a crença de que, ao perseguir uma meta muito baixa, o BC é obrigado a manter uma postura mais rígida na condução dos juros. "Se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta", disse o presidente em abril.

A autoridade monetária, por sua vez, já alertou que uma alteração no alvo central da política monetária pode produzir efeito contrário ao esperado, ou seja, impulsionar as expectativas de inflação ao transmitir a mensagem de um BC mais leniente com o avanço dos preços.

Na entrevista, o secretário disse que o debate sobre a meta "é contínuo" e envolve Fazenda, BC e Planejamento (os três órgãos com assento no Conselho Monetário Nacional). "Em nenhum momento ele [o debate] foi colocado de maneira casuística, mirando algum objetivo específico de curto prazo", afirmou.

Galípolo foi anunciado por Haddad como um dos indicados pelo governo para a diretoria do Banco Central na segunda-feira (8). Seu nome ainda será apresentado formalmente ao Senado e precisa ser aprovado pela Casa, após sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

Em sua atuação na Fazenda, o secretário ajudou a conduzir todas as discussões estratégicas do Ministério da Fazenda e esteve diretamente envolvido na elaboração do novo arcabouço fiscal e nos pacotes de medidas para recuperar as contas públicas —o que o colocou na linha de frente das conversas com o Congresso e com o próprio Banco Central.

Com a saída de Galípolo, que tinha bom diálogo com parlamentares e é elogiado por parlamentares inclusive da oposição, o chefe de gabinete de Haddad, Laio Correia Morais, deve assumir o papel de articulação política da pasta.

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