Otimismo de fabricantes de tratores e máquinas cresce diante de impacto menor da guerra

Gigantes do setor estimam crescer até 5% neste ano; em apenas três meses, Embraer vende 33 aviões agrícolas movidos a etanol

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Ribeirão Preto

A redução dos reflexos da Guerra na Ucrânia e da pandemia nos preços de insumos e na produção de componentes eletrônicos e a safra recorde de grãos no Brasil geram otimismo entre alguns dos principais fabricantes de tratores e máquinas do mundo.

Se nos últimos anos havia empresas que falavam em prazo de até oito meses para a entrega de máquinas devido à espera pela chegada de chips –e hoje a quase totalidade delas dependem desses componentes–, atualmente o mercado afirma que, quando há, o tempo de espera para a entrega de um equipamento foi reduzido. Mas, como existem as exceções, as fábricas dizem que o produtor rural tem de se programar para comprar a máquina no tempo certo de utilizá-la para o plantio ou a colheita.

Imagem mostra colheitadeiras trabalhando em lavoura de grãos
Agrishow começa com projeção de bater recorde de vendas de máquinas e implementos agrícolas - Divulgação

A Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) tem a previsão de negociar mais que os R$ 11,243 bilhões do ano passado em máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem (R$ 11,77 bilhões, em valores atualizados). São aguardados 190 mil visitantes.

Além de ver as vendas para produtores brasileiros crescerem, há marcas que projetam comercializar mais também na América do Sul.

A John Deere tem expectativa de ampliar as vendas em até 5% para tratores e colheitadeiras na América do Sul, sendo o Brasil o propulsor desse crescimento, segundo o diretor de vendas da fabricante no Brasil, Marcelo Lopes.

Ele afirmou que a pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia impactaram fortemente toda a cadeia logística em muitos setores e que diversas empresas buscam alternativas para manter o equilíbrio neste cenário global.

"Para nós e para os clientes, o planejamento antecipado de investimentos e de negociações se tornou fundamental para a viabilidade das operações e para a disponibilidade de produtos. Apesar de as operações fabris estarem rodando de forma mais otimizada nos últimos meses, a demanda sustentada por equipamentos específicos exige uma decisão de compra antecipada. Por outro lado, em muitos casos, temos boas condições de oferecer produtos à pronta-entrega", disse.

Já o vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina, Eduardo Kerbauy, disse estar alinhado com as projeções da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) de redução de 3,5% nas vendas em relação ao ano anterior, mas que isso não é ruim devido à forte demanda dos últimos anos.

"As vendas estão dentro do esperado. Conforme as projeções da Anfavea, o volume de vendas da indústria de máquinas agrícolas deve ser um pouco menor em relação ao ano passado. No entanto, se analisarmos o crescimento registrado nos últimos anos, o saldo ainda é positivo. Afinal, o agro nacional continua com apetite e tem a perspectiva de uma nova safra recorde de grãos, o que deve continuar demandando a indústria de máquinas", disse.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou que a safra de grãos 2022/23 será de 312,5 milhões de toneladas, o que significa 15% mais que no período 2021/22. O aumento esperado para área plantada é de 3,3%, o que significa que o forte crescimento se deve à ampliação da produtividade nas lavouras.

Kerbauy afirmou que os desajustes na cadeia de fornecimento causados pela guerra e pela pandemia estão sendo resolvidos e que ocorrem problemas eventuais de atraso na entrega de componentes.

"O prazo de entrega varia conforme o produto. Os que têm um índice maior de nacionalização das peças têm sofrido menos atrasos do que os produtos cujos componentes são fabricados majoritariamente em outros países, por exemplo."

Esses mesmos desajustes resultaram em atraso na entrega de máquinas em 2021 e no ano passado na Case IH, de acordo com o diretor de marketing e comunicação da empresa para a América Latina, Eduardo Penha. A marca não informou a projeção de vendas para este ano por estar cotada em Bolsa, segundo ele.

"Investimos em várias ações como maior diversificação de fornecedores e outras alternativas para a logística. Para este ano, praticamente atingimos a normalidade e quase não temos mais falta de componentes. Diferentemente dos últimos anos, que a rede de concessionárias tinha maior dependência da fábrica, ajustamos seus níveis de estoque e temos produtos à pronta-entrega, já pensando no período de pré-plantio que se aproxima."

Na Massey Ferguson, a projeção de crescimento é de 2,4%, alinhada com a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), segundo o diretor de vendas, Alexandre Stucchi.

Ele disse que isso se deve à projeção de novo recorde na produção de grãos e queda dos custos dos insumos. "Diante desse cenário, o agricultor passa a ter uma visão melhor sobre a sua rentabilidade para investir em novos equipamentos."

Assim como em outras fabricantes, houve melhora na cadeia de fornecimento de componentes de matéria-prima no decorrer do ano passado, mas Stucchi afirmou haver instabilidade em alguns fornecedores, que tende a diminuir a partir do segundo semestre.

"Para minimizar a dependência por componentes importados, ampliamos nossa cadeia de fornecedores e estamos desenvolvendo novos, nacionais e internacionais. A nossa estratégia é ter um número otimizado de fornecedores, com um relacionamento muito próximo em ganho de capacidade, produtividade, competitividade, qualidade e desenvolvimento de novas soluções e tecnologias", afirmou.

NO AR


O otimismo do setor frente à projeção de safra recorde de grãos se reflete não só nas expectativas de vendas de tratores, plantadeiras e colheitadeiras, mas também em setores como a aviação.

A Embraer, fabricante do avião agrícola Ipanema (movido a etanol), vendeu 33 unidades somente nos três primeiros meses do ano, 38% mais que as 24 aeronaves comercializadas no mesmo período do ano passado.

A fabricante diz esperar terminar o ano com vendas similares ou melhores que as de 2022, quando 66 aviões foram vendidos. Novas encomendas a partir de agora, segundo a Embraer, entrarão no planejamento de produção e entregas de 2024.

A feira terá 800 marcas nacionais e estrangeiras expostas numa área de 530 mil metros quadrados, em que o produtor poderá comparar as máquinas das mais variadas empresas, ver o funcionamento nas demonstrações de campo e financiar no seu banco dentro do próprio evento. São aguardados 190 mil visitantes até sexta-feira (5).

A Agrishow é realizada no km 321 da rodovia Antônio Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto, com funcionamento das 9h às 18h.

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