Venda de veículos novos cai 30% em meio a espera por pacote de redução de impostos

Montadoras oferecem descontos no preço de tabela e bônus e concessionárias dizem que mercado esfriou

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São Paulo

A venda de veículos novos teve queda de cerca de 30% no período de 25 a 30 de maio, na comparação com o mesmo período de abril, mostram dados de mercado obtidos pela Folha.

De 25 a 30 de abril, foram licenciados 47.815 veículos no país. A maioria foram carros de passeio, mas a conta inclui também outras categorias, como caminhões e ônibus. Já de 25 a 30 de maio, o total foi de 33.417, o que representa 30,1% a menos.

Renault Kwid 2023
Renault Kwid 2023, um dos modelos que devem ser beneficiados pela redução de impostos, ainda a ser detalhada - Divulgação

Em 25 de maio, quinta-feira passada, o governo anunciou um plano para reduzir o preço dos carros populares novos por meio do corte de impostos.

As reduções nos preços finais dos veículos vão variar de 1,5% a 10,96% —os descontos serão maiores para os carros mais baratos. Além do preço, dois outros fatores serão levados em conta para determinar o tamanho do desconto: a eficiência energética e a produção nacional.

No entanto, o governo ainda não detalhou como funcionarão os descontos nem a data exata em que entrarão em vigor. Com isso, analistas avaliam que os consumidores estão esperando a chegada dos descontos para fechar a compra de carros novos. Na data do anúncio, foi informado que o detalhamento da medida seria feito em até 15 dias.

"Quando há qualquer anúncio de redução de imposto, as pessoas esperam para ver o que vai acontecer. Com a definição, as coisas devem voltar ao normal. A situação ainda está meio confusa", avalia Joel Leite, diretor da agência Autoinforme.

Leite explica que, tradicionalmente, os emplacamentos na segunda quinzena do mês costumam ser maiores do que na primeira. Em maio, os números ficaram na mesma faixa, na média ao longo do mês.

Isso ocorre porque é comum que as locadoras de veículos, que são grandes compradoras, fechem mais negócios nos últimos dias do mês. Os dados não fazem distinção entre compra por pessoas físicas e empresas.

Algumas montadoras têm feito promoções para tentar reduzir o estoque e movimentar as concessionárias, mas o foco principal está na oferta de taxas mais atraentes no financiamento. As reduções de preço ainda não atingiram o que é previsto pelo governo.

A Renault oferece o Kwid Zen por R$ 66.490, um desconto de R$ 2.500 sobre o preço de tabela. O plano promocional tem entrada de 60,5% (R$ 40.226,45) e 48 parcelas de R$ 799. A taxa é de 0,99% ao mês —o que resulta em juros anuais de 12,55%.

Há, contudo, tarifas de cadastro e registro de contrato, além do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). No fim do contrato, o consumidor terá pago R$ 78.232,05.

Na Citroën, o compacto C3 é anunciado pelo preço sugerido na tabela (R$ 72.990), mas com parcelamento em 72 prestações e entrada de 40% (R$ 29.196). As parcelas ficam em R$ 999, com taxa mensal de 1,19%. O custo total no fim do parcelamento, incluindo as taxas, é de R$ 101.124.

A Fiat anuncia o compacto Mobi por R$ 66.990, um desconto de R$ 2.000 sobre o preço de tabela. Já a Peugeot lançou uma nova versão do 208, chamada Like, que é produzida na Argentina e comercializada por R$ 69.990.

Na Chevrolet, as promoções que começaram logo após o anúncio do governo incluem bônus de R$ 3.000 para o Onix LT, cujo preço foi reduzido de R$ 89.250 para R$ 86.250.

'Está todo mundo esperando. Isso esfria o mercado', diz gerente

Para vendedores de concessionárias, o pacote foi anunciado sem planejamento e impactou o mercado.

Em uma loja da Renault Carrera em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, foram vendidos neste mês sete carros zero-quilômetro e dez seminovos, de acordo com o gerente, Erivan da Costa. Ele diz que o patamar médio é de 35 veículos comercializados por mês, entre novos e usados. Na opinião dele, o desempenho comercial da concessionária foi afetado pelo anúncio do governo.

"Está todo mundo esperando. É o que estamos escutando a semana inteira. A gente fica o dia inteiro respondendo a cliente e conversando com eles sobre valores. A gente quer dar o fechamento [da venda], mas eles não querem. E aí esfria o mercado", afirma.

Em três lojas da Renault em São Paulo consultadas pela Folha, o preço do Kwid, o carro mais barato do país, registrou queda, após ganhar desconto da própria montadora na última sexta (26), segundo os funcionários.

"Isso é uma estratégia para não brecar o varejo", diz o gerente de uma das unidades, que preferiu não se identificar. "A gente sente um impacto porque o cliente está aguardando essa posição das montadoras, mas a gente vendeu normalmente o que já estava em negociação. Alguns clientes estão questionando os valores. Perguntam por que é só para o Kwid, não para a gama inteira. Tradicionalmente, a gente vê que o cliente segura um pouquinho para poder efetuar a compra", diz Renata Dias, funcionária da Renault RPoint em Casa Verde.

De acordo com os funcionários, o Kwid, que antes partia dos R$ 68.990, pode ser encontrado a partir de R$ 61.550. Procurada pela Folha, a Renault diz que não mudou sua política de vendas e que a promoção é uma ação pontual das concessionárias.

Em uma unidade da Hyundai na capital paulista, o gerente, que não quis ser identificado, disse que, após o anúncio do governo, as vendas caíram pela metade. Na unidade, a média é de 70 carros zero-quilômetro comercializados por mês.

"Eu acredito que, assim que for assinado, o mercado vai voltar ao que era antes. Todo mundo cria essa expectativa de esperar sair a redução para vir comprar", afirma.

Ricardo Fonseca, gerente de uma unidade da Nissan no Cambuci, diz que as vendas da concessionária ainda não foram afetadas. "Se teve redução de vendas, nós não sentimos, porque a faixa de preço que a gente trabalha normalmente fica fora da isenção do IPI. Só se foi por algum cliente que não se informou direito."

Segundo um funcionário de uma unidade da Peugeot do grupo Sinal que pediu para não ser identificado, as vendas registradas pela loja caíram 27% neste mês. "[O governo] fez o anúncio e parou de vir clientes."

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