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Centenas de projetos climáticos do Banco Mundial não têm ligação direta com o clima

Revisão de mais de 2.500 programas em duas décadas revela falta de evidências; órgão diz que prepara nova metodologia para medir impacto de seus gastos

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Aime Williams
Washington | Financial Times

Várias centenas de projetos apoiados pelo Banco Mundial com o objetivo declarado de fazer frente à mudança climática não têm nenhuma ligação evidente com mitigação climática, constatou relatório americano que questionou as cifras de gastos do banco ao longo de duas décadas.

Pesquisadores do think tank Center for Global Development e do centro de pesquisas ambientais Breakthrough Institute examinaram mais de 2.500 projetos do portfólio climático do Banco Mundial listados entre 2000 e 2022.

Descobriram que "centenas" dos projetos "parecem guardar pouca ou nenhuma relação com mitigação ou adaptação à mudança climática".

Os autores concluíram que uma leitura simples dos documentos dos projetos do Banco Mundial "não esclarece por que eles foram rotulados como projetos ligados à mudança climática".

Ajay Banga aponta para cima. Outras duas pessoas acompanham com o olhar. Eles estão em uma estufa cheia de plantas.
O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, em estufa de fazenda sustentável na Jamaica - David Lawder - 14.jun.23/Reuters

Representantes do Banco Mundial disseram que a instituição está trabalhando sobre uma nova metodologia para medir o impacto de seus gastos com adaptação e mitigação climática no futuro.

A descoberta foi feita quando Ajay Banga inicia seu mandato na presidência do Banco Mundial, que sob a égide de seu predecessor, nomeado por Trump, enfrentou pressão constante por não fazer o suficiente para combater a mudança climática. A questão será central para a pauta de uma cúpula a ser realizada em Paris na próxima semana para discutir a reforma das finanças climáticas e que terá a participação de Banga.

A pesquisa descobriu que empréstimos feitos pelo banco para melhorar a transparência municipal na Faixa de Gaza, por exemplo, para melhorar a qualidade do ensino em instituições mexicanas de ensino superior ou para aumentar o acesso de mulheres e meninas no Chade à saúde foram todos descritos como tendo algum benefício climático.

Funcionários do Banco Mundial disseram em resposta que a instituição embutiu objetivos climáticos em seus empréstimos para o desenvolvimento, em lugar de fazer empréstimos apenas para projetos especificamente climáticos.

Alguns projetos de desenvolvimento atenderiam a metas climáticas, disseram os representantes do banco. Dar apoio financeiro a um projeto de manejo da terra pode não reduzir emissões diretamente, mas pode ajudar a evitar o desmatamento mais para frente, disse um funcionário do banco.

Representantes também disseram que desde 2011 o Banco Mundial usa uma metodologia empregada por todas as instituições credoras multilaterais para expressar os benefícios previstos de um empréstimo como uma porcentagem. Isso significa que alguns projetos que teriam apenas um pequeno co-benefício climático ainda eram contabilizados proporcionalmente.

Mas os pesquisadores descobriram que, mesmo em alguns casos em que os projetos eram listados como tendo apenas 1% ou 2% de seu benefício como benefício climático, a ligação com as metas para a mudança climática não estava clara.

Eles citaram um empréstimo dado para ajudar a automação de pagamentos no Afeganistão, que recebera uma nota de benefício climático de 1%, apesar de não ter nenhum resultado claramente ligado ao clima.

Eles acrescentaram que muitos projetos de mitigação climática não têm estimativas de redução de emissões de gases estufa e que não havia um relatório padronizado de estimativas de gases de efeito estufa em todo o portfólio.

Representantes do banco responderam que o banco não revelou todos os papéis de trabalho que levaram a cada cálculo de benefícios críticos atribuído a cada projeto.

Vijaya Ramachandran, diretor de energia e desenvolvimento do The Breakthrough Institute e um dos autores do estudo, disse que é possível argumentar que o desenvolvimento econômico pode resultar numa diminuição da vulnerabilidade ao clima, "mas que essa ou qualquer outra explicação está completamente ausente dos documentos dos projetos".

"Para melhorar seus gastos climáticos, o Banco Mundial precisa exercer controle melhor de seu portfólio climático e também precisa ser capaz de medir com precisão e demonstrar a eficácia de projetos que visam lidar com a mudança climática. No momento isso simplesmente não está sendo feito."

Tradução de Clara Allain

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