Descrição de chapéu juros

Desconto em carro popular beneficiará mais as montadoras que consumidor, diz associação de usados

Para Emilson Sales, governo precisa facilitar o acesso ao crédito e melhorar a renda do brasileiro

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São Paulo

O plano para baixar o preço dos carros anunciado pelo governo Lula (PT) deve beneficiar mais as montadoras e locadoras do que o cliente final, avalia Emilson Sales, presidente da Fenauto, entidade que representa concessionárias de carros usados.

"Se o governo quiser resolver o problema das montadoras, dá isenção de imposto. Agora se quiser resolver o problema do consumo, precisa recuperar a capacidade de renda do brasileiro e facilitar o crédito. A taxa de juros está alta, os bancos têm medo de inadimplência. Vai baratear o carro em 3%, mas se o cara continua sem dinheiro e sem crédito, não vai comprar o carro", avalia.

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Concessionária de carros usados na zona leste de São Paulo - Fabiano Vito - 15.fev.2022/Folhapress

Sales aponta que, atualmente, mais de 50% dos carros novos são comprados por locadoras e frotistas. "Eles pagam o IPVA mais barato [ao comprar] e na hora de vender, pagam menos impostos porque chamam isso de desmobilização de frota. Já o setor de [concessionárias de] seminovos paga ICMS cheio", questiona.

O presidente da Fenauto diz que o anúncio do plano pelo governo deixou lojistas e consumidores confusos, por não detalhar como a redução de impostos funcionará na prática.

"Vocês [da imprensa] ficam perdidos, eu fico perdido. A gente não sabe explicar para o consumidor. Não existem parâmetros para fazer estudos do impacto nos preços. Não existe detalhamento, existe um anúncio e isso é muito vago. As concessionárias ficam reféns. Se o cara chegar lá hoje e disser 'já quero deixar a palavra para compra de um carro com desconto', qual o preço? Não tem", diz.

Em 25 de maio, o governo anunciou um plano para reduzir o preço dos carros populares novos por meio do corte de impostos. As reduções nos preços finais vão variar de 1,5% a 10,96% —os descontos serão maiores para os modelos mais baratos. Além do preço, dois outros fatores serão levados em conta para determinar o tamanho do desconto: a eficiência energética do motor e o nível de produção nacional adotado em cada modelo.

No entanto, o governo ainda não explicou como os critérios serão aplicados nem a data exata em que os descontos entrarão em vigor. Na data do anúncio, foi informado que o detalhamento da medida seria feito em até 15 dias.

Nos primeiros dias após o anúncio, os revendedores filiados à Fenauto relataram terem notado pouco impacto nas vendas. A entidade reúne dados semanalmente, e espera ter um retrato mais claro dos impactos quando apurar os dados totais desta semana.

O mercado de usados começou 2023 em alta. Após uma queda em 2022, o setor comercializou 4,39 milhões de veículos até abril, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). No mesmo período do ano passado, o total foi de 4,2 milhões, 4,15% a menos.

Já a venda de veículos novos teve queda depois do anúncio do governo. Os emplacamentos caíram cerca de 30% no período de 25 a 30 de maio, na comparação com o mesmo período de abril, mostram dados de mercado obtidos pela Folha. De 25 a 30 de abril, foram licenciados 47.815 veículos no país. Já de 25 a 30 de maio, o total foi de 33.417, 30,1% a menos.

Sales avalia que o impacto do plano do governo nos preços dos usados deve se dar com mais força nos seminovos, categoria dos modelos com até três anos de uso, mas diz que ainda não é possível fazer uma estimativa segura de quanto será a queda.

O presidente da entidade explica que o preço dos usados é definido por mais variáveis do que o dos novos. "No mercado de carros zero, montadoras e concessionárias definem o preço dentro de suas margens de negociação. Você vai em três concessionárias e verá carros iguais, nas mesmas condições. Já cada carro usado é diferente do outro, por ter quilometragens diferentes, estado de conservação variado, e isso impacta cada negociação", compara.

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