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Bolsa sobe 4% na semana e dólar recua ao menor patamar desde junho de 2022

Queda da inflação e perspectiva de redução dos juros impulsionam recuperação dos mercados

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira encerrou a semana com ganhos de 3,96%, os maiores desde a semana de 14 de abril, quando teve alta de 5,41%. Foi a sétima semana seguida de alta acumulada do principal índice de ações da Bolsa brasileira.

O retorno positivo das ações reflete os dados de inflação divulgados nos últimos dias, que reforçaram as apostas dos agentes financeiros quanto ao início do ciclo de corte dos juros pelo BC (Banco Central) nos próximos meses.

Nesta sexta, após permanecer fechada na véspera por conta do feriado de Corpus Christi, a Bolsa engatou a sexta alta seguida. O Ibovespa encerrou os negócios do dia em alta de 1,33%, aos 117.019 pontos, no maior patamar desde o pregão de 4 de novembro de 2022 (118.155 pontos).

"Com o rompimento deste patamar, o mercado já enxerga como próximo objetivo a casa dos 120 mil pontos", diz Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e sócio-fundador do escritório GT Capital.

Homem fotografa painel eletrônico da Bolsa de Valores do Brasil, em São Paulo
Homem fotografa painel eletrônico da Bolsa de Valores do Brasil, em São Paulo - Amanda Perobelli - 28.out.2021/Reuters

No câmbio, o dólar reverteu o movimento de alta do pregão anterior e fechou em baixa de 0,97% frente ao real, negociado a R$ 4,877 na venda, alcançando o menor patamar desde 7 de junho de 2022 (R$ 4,874). Na semana, a moeda americana acumulou queda de 1,55%.

Entre os dados de inflação divulgados na semana, na quarta (7), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou para 0,23% em maio, a menor variação para o mês desde 2020 (-0,38%), quando o início da pandemia paralisava a economia. Projeções indicavam alta de 0,33%.

Na quinta (8), reforçou a tendência de desaceleração dos preços a divulgação pela FGV (Fundação Getulio Vargas) do IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna), que caiu 1,01% em abril, depois de ter recuado 0,34% no mês anterior.

A perda de ímpeto dos preços reforça as apostas de uma queda dos juros à frente e abre espaço para uma recuperação mais consistente da economia, que já teve um desempenho acima do esperado no primeiro trimestre.

Na quarta, a XP revisou de 1,4% para 2,2% a estimativa para o crescimento do Brasil em 2023, reforçando a onda de revisões após os dados do PIB. "O aumento da renda pessoal disponível, na esteira da resiliência do mercado de trabalho e maiores transferências diretas do governo, sustenta o consumo no curto prazo", dizem os analistas da XP em relatório.

Em sintonia com o dia de redução da aversão ao risco generalizada entre os agentes financeiros e com o corte de juros ganhando força, no mercado local de juros futuros, que reflete as expectativas para os rumos da política monetária do BC (Banco Central), as taxas dos títulos tiveram forte queda —o contrato para janeiro de 2024 recuou de 13,09% na sessão anterior para 13,02%, enquanto o título para janeiro de 2026 cedeu de 10,63% para 10,48%.

"A expectativa de cortes na taxa Selic e a queda firme dos juros futuros ajudaram as ações voltadas à economia local, bem como as da Petrobras, visto que as atenções agora estão voltadas para o desempenho da empresa no segundo trimestre e a tendência é favorável em termos de resultados e distribuição de dividendos", diz João Frota Salles, analista da Senso Investimentos.

As ações preferenciais da Petrobras saltaram 4,88% nesta sexta, enquanto as da Gol subiram 7,3% e as do Banco do Brasil avançaram 4,9%.

Ainda entre as maiores valorizações da Bolsa nesta sexta, as ações da CVC registraram apreciação de 9,8%, após a companhia do setor de turismo ter anunciado a contratação de Citigroup e Itaú BBA para coordenação de uma potencial oferta primária de ações para captar pelo menos R$ 200 milhões.

Estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno afirma que o movimento dos mercados nesta sexta no Brasil representou um alinhamento ao sentimento positivo que prevaleceu nas Bolsas globais na quinta e que prosseguiu no último pregão da semana.

Segundo Rostagno, dados de emprego nos Estados Unidos são o principal fator que sustenta a alta das ações. O Departamento do Trabalho americano informou na véspera que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego saltaram de 28 mil para 261 mil na semana encerrada em 3 de junho, enquanto economistas consultados pela Reuters previam 235 mil.

O estrategista-chefe do Mizuho afirma que o mercado de trabalho dando sinais de que começa a perder o ímpeto reforça a expectativa dos agentes financeiros de uma pausa no processo de alta dos juros promovido ao longo dos últimos meses pelo Fed, tanto na reunião da semana que vem, como possivelmente também na de julho.

"Essa tendência [de aumento dos pedidos de auxílio-desemprego] pode indicar que a desaceleração econômica está começando a afetar o mercado de trabalho. Esses resultados estão alinhados com a perspectiva da XP de que o Federal Reserve não realizará mais aumentos nas taxas de juros neste ano", dizem os analistas da XP.

O processo de aperto monetário na maior economia mundial reduziu as projeções de lucros futuros das empresas com ações negociadas na Bolsa, em especial do setor de tecnologia, e diminuiu o apetite dos investidores pela renda variável. Com a pausa no ciclo de alta, consequentemente o interesse pelas ações volta a aumentar —o S&P fechou nesta sexta em alta de 0,11%, o Dow Jones subiu 0,13% e o Nasdaq ganhou 0,16%. Na semana, os índices tiveram alta de 0,39%, 0,34% e queda de 0,13%, respectivamente.

Rostagno acrescenta que dados de inflação ao produtor na China que indicaram uma deflação em maio também ajudam para o dia positivo para as Bolsas, com investidores passando a apostar em uma possível queda dos juros a ser promovida nas próximas semanas pelo banco central do gigante asiático.

O índice de preços ao produtor na China caiu pelo oitavo mês consecutivo, a uma taxa de 4,6% em maio, informou a Agência Nacional de Estatísticas nesta sexta. Foi o declínio mais rápido desde fevereiro de 2016 e maior do que a expectativa de queda de 4,3% segundo pesquisa da Reuters.

"Esse cenário de que o pior da inflação ficou para trás, com sinais de que os preços mundiais estão experimentando algum alívio, pode fazer com que o Fed não suba mais os juros", afirma o estrategista-chefe do Mizuho, acrescentando que o dia de emenda de feriado reduz a liquidez, o que potencializa os movimentos dos preços nos mercados.

Com Reuters

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