Ministro diz que política de gás é 'desproporcional' e cobra mudança da Petrobras

Estatal diz que país 'não tem tanto gás assim' e que não é comparável a outros grandes produtores

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Rio de Janeiro

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, criticou nesta sexta-feira (16) a política de gás natural em vigor no Brasil e cobrou mudanças na postura da Petrobras, em mais um embate com a direção da estatal sobre o tema.

O aumento da oferta do combustível a menores preços se tornou uma das bandeiras do ministro, que lançou um programa chamado Gás para Empregar. Mas a Petrobras e suas sócias no pré-sal questionam as alegações de Silveira e dizem que não há sobra de gás no país.

Em seminário promovido pelo grupo Esfera Brasil no Rio de Janeiro, o ministro voltou a criticar a reinjeção de gás natural nos poços produtores em alto-mar, defendendo que esse combustível chegue ao continente para auxiliar a atividade industrial.

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O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) participa de entrevista em Brasília em fevereiro - Pedro Ladeira - 28.fev.2023/Folhapress

"Os Estados Unidos reinjetam 12,5% [do gás] para poder produzir e impulsionar a produção de petróleo. A África reinjeta 23,9%. A Europa, 24,7%, e o Brasil reinjeta 44,6%", afirmou. "Sem uma explicação, e até agora não conseguiram mostrá-la, é uma reinjeção completamente desproporcional".

Na quinta (15), em entrevista ao jornal Valor Econômico, Silveira já havia feito críticas à Petrobras devido à política para o combustível. Na ocasião, o ministro subiu o tom e chegou a acusar o comando da empresa de negligência em relação ao assunto.

Nesta sexta, ele avaliou que a governança da estatal precisa ser respeitada, mas que a companhia também tem que "cumprir seu papel social".

"Estamos dialogando permanentemente para que a política de gás, de reinjeção, mude para que a gente possa ter maior oferta", afirmou o ministro. "É uma constatação, não é uma crítica isolada. Houve desdém com a política de gás nos últimos anos."

Ainda na quinta, logo após a publicação da entrevista, o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, refutou as críticas em palestra promovida pela Coppe/UFRJ.

"O Brasil não tem tanto gás assim. A gente é um país petrolífero mas não é um país gasífero", afirmou. "A primeira coisa que a gente tem que entender é isso, senão criamos muitas frustrações."

"Outra questão é que nosso gás está localizado a distância muito grande da costa e a profundidades muito grandes. Ou seja, a gente não tem como competir com o 'shale gas' [gás de xisto] dos Estados Unidos, ou com o gás da Rússia, que estão em terra", continuou.

Tolmasquim defende que os números sobre a reinjeção são equivocados. Segundo ele, 40% de todo o gás que volta para poços tem a função de levar de volta também gás carbônico. Outros 40% servem para aumentar a pressão dos poços e, consequentemente, a produção de petróleo.

Dos 20% restantes, alega, metade será escoada para o continente com a conclusão das obras de gasoduto ligando o pré-sal ao litoral fluminense, prevista para 2024. A outra metade, está na Amazônia e é reinjetada por falta de demanda local.

"Sempre me surpreendeu essa percepção de que o país tem abundância de gás enquanto os fatos mostram exatamente o contrário", reforçou, também no evento da Coppe, o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa.

Ele destacou que o Brasil tem cerca de 340 bilhões de metros cúbicos em reservas. Dados do governo americano mostram que os Estados Unidos têm cerca de 13 trilhões de metros cúbicos e a Rússia, mais de 47 trilhões de metros cúbicos.

Em outro momento do painel desta sexta, Silveira afirmou que o governo lançará na semana que vem a consulta pública sobre a renovação de contratos de distribuição de energia elétrica, em processo que se inicia com as concessionárias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Silveira disse que o governo será "cuidadoso" com o tema, para assegurar tranquilidade aos consumidores e não cometer injustiças.

Com Reuters

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