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Morangos boicotados na Europa: falta d'água cria corrida tecnológica

Crise hídrica será definidora nas próximas décadas e criará novas oportunidades e novos riscos para os investidores

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Lex
Financial Times

Os morangos espanhóis são uma delícia de primavera para os europeus do norte. Eles também são um ponto crítico numa disputa mais ampla pelo acesso a recursos hídricos cada vez menores. Ativistas alemães estão pedindo um boicote aos "morangos da seca". A extração ilegal de água para essa cultura drenou um pântano antes pujante na Andaluzia.

A escassez de água será uma característica definidora das próximas décadas. Isso criará novas oportunidades e novos riscos para os investidores.

A demanda por água potável está aumentando em conjunto com a população e a prosperidade. A mudança climática está reduzindo as chuvas. Embora o estresse hídrico na Europa como um todo tenha diminuído, a Espanha foi particularmente atingida: o último mês de abril foi o mais quente e seco já registrado, prolongando uma seca persistente.

Imagem mostra morangos em meio a folhas.
Morango vendido no Mercado Municipal de Sao Paulo, o Mercadão - Eduardo Knapp - 16.jan.13/Folhapress

Até 2030, a demanda de água será 40% maior que a oferta, segundo um estudo da consultoria McKinsey. Preencher essa lacuna exigirá investimentos em três tecnologias hídricas principais.

A conservação de água é a mais baixa na curva de custos. É particularmente importante na agricultura, que responde por 70% da água consumida globalmente. Algumas empresas, como a israelense Netafim, focam na irrigação por gotejamento. Outras estão desenvolvendo culturas tolerantes à seca. Subsídios estatais poderão ser necessários para financiar a adaptação dos agricultores mais pobres.

Em seguida, estão as tecnologias para tratar e reutilizar a água. A escassez de água representa uma ameaça existencial para negócios que são usuários intensivos, como minas. A menos que possam criar sistemas de água em circuito fechado, elas correm o risco de perder suas licenças de operação. Isso cria oportunidades para empreendedores de "tecnologia hídrica". O primeiro unicórnio da tecnologia hídrica, Gradiant, desenvolveu novos métodos de purificar águas residuais industriais.

Mais acima na curva de custos da tecnologia hídrica está a dessalinização. Esta usa tecnologias semelhantes às plantas de purificação, mas separa moléculas menores. Nos últimos 15 anos, o custo de produção de água doce a partir da água do mar caiu de US$ 1,50 (pouco mais de R$ 7) para US$ 0,50 (cerca de R$ 2,40) por metro cúbico. Cairá ainda mais à medida que as energias renováveis ficarem mais baratas. Isso tornará a dessalinização uma opção real para áreas costeiras com escassez de água.

A ACWA Power da Arábia Saudita construiu a maior planta do mundo em Abu Dhabi. A corretora Jefferies diz que várias empresas oferecem exposição ao setor, incluindo a sueca Azelio AB e a japonesa Hitachi Zosen Corporation.

Projetos de big data e aprendizado de máquina podem ajudar a otimizar os três tipos de tecnologia. A americana Xylem, por exemplo, vende tecnologias de sensores, medição inteligente e análise de dados para infraestrutura subterrânea.

No passado, a adoção de tecnologia hídrica ocorria num ritmo glacial. A recente rodada de secas poderá —finalmente– encorajar o fluxo de investimentos.

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