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Todos sofrem com juros altos, diz CEO da Rumo

Abreu afirma, por outro lado, que país tem risco de inflação e que prefere deixar discussão com BC

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Rio Verde (GO)

O diretor-presidente da operadora logística Rumo, João Alberto Fernandez de Abreu, disse que a taxa de juros de 13,75% ao ano é alta e que todo o país sofre com isso. O executivo, contudo, afirmou que prefere deixar o debate com os técnicos do Banco Central porque vê riscos com uma eventual aceleração da inflação.

"A taxa de juros está muito alta, claro, todos sofrem com isso. O capital privado, que precisa captar para fazer esses investimentos, paga uma conta muito mais alta", afirmou à Folha. "Agora, existe gente técnica avaliando isso. É muito mais caro para o Brasil um país com inflação", disse.

João Alberto de Abreu, presidente da Rumo - Julio Bittencourt - 7.jun.22/Valor Econômico/Agência O Globo

A entrevista foi concedida em Rio Verde (GO), onde a Rumo inauguraria com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o trecho final da ferrovia Norte-Sul. O evento foi adiado, ainda sem nova data, porque o avião presidencial não conseguiria pousar na cidade goiana devido às condições climáticas.

Com a conclusão, a ferrovia passa a ter 1.537 quilômetros de trilhos entre Estrela D’Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), que passam por quatro das cinco regiões do país. Com o trecho operado por outra empresa, a VLI, a extensão da Norte-Sul chega a 2.257 quilômetros.

A Norte-Sul é uma ferrovia cuja história se arrasta desde a década de 1980 e que, agora, finalmente, foi concluída. De acordo com o executivo, a malha passa a atender de forma abrangente tanto a exportação como o mercado interno para uma ampla gama de produtos.

"Não vamos ficar aqui simplesmente concentrados em grãos, falando aqui principalmente de farelo, soja, milho. Abre muita oportunidade de carga geral, principalmente com Anápolis, que é o terceiro maior polo industrial do Brasil em importações e exportação", disse.

Ele afirmou que a empresa, por exemplo, prepara a inauguração de uma operação de combustível. Goiás é o terceiro maior produtor de etanol e de biodiesel do Brasil e os trens da companhia podem levar a carga para o principal centro consumidor, que é o mercado de São Paulo, e voltar com gasolina e diesel.

De acordo com ele, foram investidos R$ 4 bilhões tanto na ferrovia como em terminais pela Rumo e seus parceiros. Boa parte da infraestrutura encontrada na ferrovia foi trocada pela empresa. Além disso, todo o material rodante foi adquirido pela companhia ao longo dos últimos três anos.

"Estamos falando de 37 anos para concluir uma obra. Em 37 anos, as coisas passam por um processo de deterioração e é normal. Então, o que não estava no estado adequado foi registrado, enviado para a agência reguladora e foi trocado, para que a operação pudesse caminhar. Hoje a ferrovia inteira está em perfeito estado."

Além disso, a companhia tem feito aportes em outras malhas ferroviárias sob sua gestão, como em São Paulo e em Mato Grosso. "Precisamos agora nos concentrar em executar o que está já no papel, no pipeline [lista de projetos] assinado. Neste momento, não temos planos de fazer novas ferrovias além dessas em que nós estamos concentrados", disse.

Ele afirmou que o cenário do país para novas obras exige recursos públicos em grande parte dos casos, embora as empresas privadas consigam tocar os projetos em geral com mais velocidade.

"Existe uma série de outras coisas, principalmente ligadas à mobilidade urbana, que, se o poder público não entrar com recurso, é muito difícil que a gente consiga oferecer à sociedade."

Às vésperas de o governo lançar o novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), o executivo disse ainda que os investimentos de infraestrutura devem ser encarados como políticas de Estado, e não de governo, e ressalvou que é necessário observar o risco de os vários projetos sobrecarregarem a oferta de mão de obra e de empresas no país.

"Um alerta que nós fazemos é também avaliar o que está já contratado. Tem muita coisa para ser feita, e a gente precisa, principalmente, de mão de obra qualificada", diz. "Então, é importante olhar novos projetos, mas com cuidado de não colocar dentro de um sistema que já está cheio e que precisa de gente capacitada, de empresas de engenharia, para eles serem executados", afirmou.

*O jornalista Marcelo Toledo viajou a convite da Rumo.

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