Descrição de chapéu Financial Times juros

Alta de juros derruba chefe do banco central da Austrália; órgão terá 1ª mulher no comando

Michele Bullock substituirá Philip Lowe para implementar uma série de reformas e controlar a inflação

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Nic Fildes
Sydney | Financial Times

O governo da Austrália rejeitou Philip Lowe para um novo mandato de presidente do banco central do país, decidindo em vez disso promover sua vice, Michele Bullock, para implementar uma série de reformas e controlar a inflação.

Bullock, que será a primeira mulher a chefiar o Banco de Reserva da Austrália (RBA, na sigla em inglês), foi a principal candidata interna para substituir Lowe, que administra a instituição desde 2016. É a primeira vez que a Austrália não prorroga o mandato de um governador do RBA em quase três décadas.

Lowe sofreu uma forte reação pública desde que o RBA iniciou um ciclo de aperto nas taxas de juros no ano passado, desmentindo sua orientação anterior de que as taxas deveriam seguir baixas. A taxa básica de juros do banco foi elevada uma dúzia de vezes, de 0,1% para 4,1%, nos últimos 15 meses, e o banco indicou que mais aumentos podem ser necessários.

O presidente do banco central australiano, Philip Lowe - Jason Reed - 22.set.2016/Reuters

A decisão do Tesouro australiano de mudar o chefe do banco central durante um ciclo de aumento de juros deve atrair um escrutínio mais amplo em todo o mundo, enquanto os governos fazem indagações sobre se os bancos centrais demoraram demais para reagir à ameaça de inflação.

Shane Oliver, economista-chefe do grupo de serviços financeiros AMP, disse que a raiva do público pelo aumento das taxas de juros em uma crise de custo de vida não se limitou à Austrália.

"Há uma reação pública devido às taxas mais altas e uma irritação com os bancos centrais", disse ele. "Essa irritação chegou aos políticos."

Espera-se que Bullock implemente as recomendações de uma análise do banco, que detalhou mais de 50 pontos para fortalecer sua governança e comunicação com o público.

Jim Chalmers, tesoureiro do governo da Austrália (equivalente ao ministro da Fazenda brasileiro), que já havia descrito a decisão sobre a direção do RBA como uma das maiores de seu governo, disse na sexta-feira (14) que a nomeação de Bullock "combina experiência e conhecimento com uma nova perspectiva de liderança".

A futura presidente do banco central australiano, Michele Bullock - AAP Image via Reuters

Bullock disse que é um "momento desafiador" para assumir o cargo. "Estou empenhada em garantir que o Reserve Bank cumpra sua política e seus objetivos operacionais em benefício da população australiana", disse ela.

O RBA realizará coletivas de imprensa após as decisões sobre a taxa de juros a partir do próximo ano para abordar as preocupações sobre suas políticas de comunicação que foram levantadas na análise. Um plano para separar o conselho de definição de taxas do conselho principal do RBA também deverá fazer parte das reformas. "Conforme os tempos mudam, precisamos mudar também", disse Lowe esta semana.

Josh Williamson, economista-chefe do Citi, disse que Bullock é a "candidata mais adequada" para substituir Lowe, após um processo de nomeação que se tornou "prolongado e anormalmente politizado".

A vice-presidente, formada pela London School of Economics e pela Universidade da Nova Inglaterra, está há mais de três décadas no RBA. Seus dois principais rivais para o cargo eram pessoas de fora dos departamentos de Tesouro e Finanças, que poderiam ter um mandato mais claro para fazer reformas radicais na operação e na cultura do banco.

Bullock é amplamente considerada uma boa comunicadora em comparação com Lowe, que foi forçado a defender as ações do banco como necessárias para conter a ameaça de uma inflação desenfreada. Ele também alertou para o impacto de um forte aumento de salários sem ganhos de produtividade.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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