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Apple vai fazer grande corte no plano de produção do Vision Pro

Previsão inicial de 1 milhão de unidades no lançamento em 2024 é frustrada por problemas na fabricação

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Qianer Liu Patrick McGee Kana Inagaki
Hong Kong, San Francisco e Tóquio | Financial Times

A Apple foi forçada a fazer cortes drásticos nas previsões de produção do headset de realidade mista Vision Pro, lançado no mês passado após sete anos em desenvolvimento e aclamado como o mais importante lançamento de produto desde o iPhone.

A complexidade do design dos óculos e as dificuldades na produção estão por trás da redução das metas, enquanto os planos de uma versão mais acessível do dispositivo tiveram que ser adiados, segundo várias pessoas com conhecimento direto do processo de fabricação.

A Apple já sinalizou que o dispositivo para cabeça de "computação espacial" de US$ 3.500 (R$ 16,8 mil) não estará à venda até o "início do próximo ano", uma longa lacuna desde o lançamento em 5 de junho. Os analistas interpretaram que isso tem mais a ver com problemas na cadeia de suprimentos do que dar tempo aos desenvolvedores para criar aplicativos para o Vision Pro.

Tim Cook, CEO da Apple, debaixo de imagem do Apple Vision Pro, na Califórnia, EUA - Joe Pugliese - 5.jun.2023/Apple Inc./Handout via Reuters

Duas pessoas próximas à Apple e à Luxshare, fabricante chinesa terceirizada que inicialmente montará o dispositivo, disseram que ela está se preparando para fabricar menos de 400 mil unidades em 2024.

Várias fontes da indústria disseram que a Luxshare é atualmente a única montadora do dispositivo. Separadamente, dois fornecedores únicos baseados na China de certos componentes do Vision Pro disseram que a Apple está pedindo apenas o suficiente para 130 mil a 150 mil unidades no primeiro ano.

Ambas as projeções implicam um corte significativo na produção, em relação a uma meta anterior de vendas internas de 1 milhão de unidades nos primeiros 12 meses. A previsão de volumes menores reflete a incerteza da Apple sobre se conseguirá escalar a produção, segundo analistas e especialistas do setor, após anos de prazos descumpridos para o lançamento do aparelho.

As previsões dos analistas de Wall Street para as vendas do Vision Pro variam amplamente, de centenas de milhares a vários milhões no primeiro ano.

Na época do lançamento do headset, um mês atrás, a Wedbush previu que a Apple entregaria cerca de 150 mil unidades no primeiro ano, enquanto a estimativa do Morgan Stanley era de cerca de 850 mil e a Goldman Sachs acreditava que poderia chegar a 5 milhões de remessas em 2024. Em comparação, a Apple vendeu 1,4 milhão de iPhones em seu primeiro ano no mercado.

A companhia, cuja avaliação de mercado fechou acima de US$ 3 trilhões (R$ 14,4 trilhões) na sexta-feira (30), três semanas após o anúncio do Vision Pro, se recusou a comentar sobre o headset.

Procurada pelo Financial Times, a Luxshare não respondeu até a publicação deste texto.

Entre os principais obstáculos enfrentados está a fabricação das telas do aparelho. Elas consistem em dois monitores micro-OLED –um para cada olho– e uma lente "lenticular" curva voltada para fora. Os displays internos oferecem uma resolução superior a qualquer coisa atualmente no mercado, enquanto as lentes externas projetam os olhos do usuário do headset para o mundo exterior.

Os monitores micro-OLED dos protótipos na demonstração feita em junho foram fornecidos pela Sony e pela fabricante de chips TSMC, segundo duas pessoas familiarizadas com a produção. Procuradas, a Sony e a TSMC se recusaram a comentar sobre qualquer participação no Vision Pro.

A Apple está insatisfeita com a produtividade dos fornecedores, disseram essas pessoas, principalmente com o rendimento das micro-OLEDs sem defeitos. Os displays são o componente mais caro do Vision Pro.

"Grande parte disso são problemas normais de crescimento", disse Jay Goldberg, fundador da consultoria de tecnologia D/D Advisors. "Este é o equipamentos de consumo mais complexo que alguém já fez."

Goldberg disse que o preço de US$ 3.500, acima do esperado, já implicava que a Apple havia incluído o custo das ineficiências de produção, sabendo que os rendimentos de fabricação são especialmente baixos em comparação com os produtos maduros no portfólio da empresa.

"Alguém tem que pagar por isso", acrescentou. "Acho que a Apple entrou nisso com muito 'rendimento ruim' embutido no modelo. Há muita tecnologia no Vision Pro, e eles sabiam que levaria um tempo para escalar. A Apple sabe que não vai ganhar dinheiro com ele no primeiro ano."

A Sony estava cautelosa sobre a expansão do mercado de headsets de realidade mista e relutou em aumentar significativamente a produção, disse Terushi Shimizu, chefe da unidade de semicondutores da Sony, numa mesa-redonda recente com a mídia.

"Estaremos atentos para ver o quanto aumentará a demanda [por monitores micro-OLED]", disse ele. "Porém, não acho que seremos agressivos [na produção] na mesma escala dos sensores de imagem", para os quais a Sony está construindo uma nova fábrica para aumentar a produção dos chips usados nas câmeras dos smartphones.

Enquanto isso, a Apple já está trabalhando nas próximas gerações do headset, incluindo uma versão mais acessível que deverá atrair mais consumidores do mercado de massa, disseram duas pessoas com conhecimento direto.

A Apple está trabalhando com os fabricantes coreanos de monitores Samsung e LG nesses óculos de segunda geração. Para reduzir o preço, a fabricante do iPhone explorou o uso de outras tecnologias de tela, incluindo mini-LED, mas duas pessoas disseram que a Apple insistia em usar micro-OLED mesmo para o dispositivo mais simples, apesar de até agora nenhum fornecedor ter correspondido às suas expectativas.

O corte nas previsões para 2024 decepcionou a Luxshare, que vem preparando sua capacidade para fabricar quase 18 milhões de unidades anualmente nos próximos anos, informou uma pessoa próxima à montadora.

Analistas disseram que toda a cadeia de produção de headsets na Ásia não está recebendo muito impulso do Vision Pro. "A Apple não fez um produto melhor do que a indústria imaginava [...] a confiança dos fabricantes não é alta", disse Eddie Han, analista da Isaiah Research, com sede em Taiwan.

Apesar dos contratempos, o grupo de inteligência de mercado Canalys acreditava que a Apple ultrapassaria uma base de usuários de 20 milhões em cinco anos após o lançamento.

"Dado o número limitado da produção, ele sairá voando das prateleiras, pré-encomendado pelos fãs leais da Apple e usuários de alta renda nos Estados Unidos", disse Jason Low, analista da Canalys. Sua projeção atual é que a Apple produzirá 350 mil unidades no próximo ano, aumentando para 12,6 milhões de unidades cinco anos depois.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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