Descrição de chapéu
Financial Times Apple

Como é usar o Vision Pro, óculos de realidade aumentada da Apple

Correspondente do FT foi um dos primeiros a experimentar o headset de 'realidade mista'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Patrick McGee
Cupertino (EUA) | Financial Times

A Apple fez de novo. O headset Vision Pro de US$ 3.500 (R$ 17.200) pega todas as principais tendências de computação das últimas duas décadas, coloca-as ao redor dos olhos de uma maneira elegante e confortável e oferece uma interface intuitiva que é nova e íntima.

Após a apresentação de duas horas da Apple na segunda-feira (5), fui uma das primeiras pessoas a receber uma demonstração privada de 30 minutos do Vision Pro e tive a oportunidade de experimentar uma variedade de recursos –incluindo um "aplicativo matador" não mencionado no discurso do executivo-chefe Tim Cook, assistido por milhões de pessoas online.

O CEO da Apple, Tim Cook, fala durante a Conferência Mundial de Desenvolvedores da Apple (WWDC) no campus Apple Park em Cupertino, Califórnia, em 5 de junho de 2023 - Josh Edelson -6.jun.23/AFP

Mover-se de aplicativo para aplicativo usando o headset (combinação de óculos de realidade virtual com fone de ouvido) dificilmente poderia ser mais intuitivo, graças ao rastreamento ocular e manual. Clique num botão com a mão direita e aparecerá uma tela inicial semelhante ao iPhone. Dê uma olhada numa foto ou ícone e aperte os dedos para "clicar duas vezes". Você pode percorrer as fotos com um gesto de deslizar ou ampliar como se um smartphone gigante fosse projetado na frente do seu rosto.

O dispositivo pode transitar facilmente entre a realidade virtual, na qual o usuário está totalmente imerso num mundo digital, e a "realidade aumentada", que sobrepõe imagens ao ambiente real. Um mostrador semelhante ao Apple Watch permite que você alterne manualmente entre esses dois modos ou, em algumas configurações, o efeito é automático: se uma pessoa estiver ao seu lado, basta olhar para ela e sua imagem aparecerá lentamente, tornando-se mais nítida com o tempo.

Entre os recursos que a Apple não pôde mostrar em sua apresentação estavam as fotos e vídeos 3D que o headset poderia capturar. Na minha demonstração particular, eu podia sentar em volta de uma fogueira com amigos ou sentar à mesa enquanto crianças sopravam velas de aniversário com uma profundidade incrível.

Gene Munster, gerente de portfólio da Deepwater Asset Management, disse que esta parte da demonstração o surpreendeu. "As memórias 3D vão mudar a forma como nos lembramos das coisas", disse ele. "Não vou querer fazer um vídeo de festa de aniversário de novo, a menos que seja assim."

A Apple proclamou uma "nova era" em "computação espacial", sugerindo que o Vision Pro poderá fazer para RA/RV [realidade aumentada/realidade virtual] o que o iPhone fez para revolucionar a computação móvel.

Wall Street, no entanto, encolheu os ombros. As ações da Apple caíram menos de 1% depois que o headset foi revelado, com seu alto preço que provavelmente o tornará inacessível para muitas pessoas. Ainda assim, os especialistas do setor ficaram surpresos com a sofisticação do dispositivo.

"Todas as outras empresas de realidade virtual estão com sérios problemas porque a Apple elevou o parâmetro", disse Rony Abovitz, fundador e ex-chefe da Magic Leap, fabricante de óculos de realidade aumentada. "Eles apenas lançaram um desafio para empresas como HTC, Samsung e Meta perseguirem. E superaram todas elas de uma só vez."

Poucos dias antes da demonstração, participei da AWE, importante conferência de realidade mista em Santa Clara, onde start-ups exibiram todo tipo de tecnologia de ponta que indicava um futuro pós-smartphone. Mas nada era essencial, poucos aparelhos eram voltados para o consumidor e não eram necessariamente mais baratos.

Os óculos Magic Leap 2 custam US$ 3.200, enquanto os headsets topo de linha do grupo finlandês Varjo custam US$ 6.500. Saí pensando que esse tipo de tecnologia tem futuro, mas distante. O evento da Apple mudou isso.

A Apple conseguiu demonstrar uma visão de RA/RV que parecia aqui e agora, em total contraste com o "metaverso" cheio de avatares imaginado pelo chefe da Meta, Mark Zuckerberg.

"Para muitos, o conceito de metaverso soa e parece muito distante, gerando descrença de quando se materializará", disse Sam Cole, CEO do aplicativo de fitness imersivo FitXR. "O que vimos hoje parecia natural, óbvio, acessível."

Munster, da Deepwater Asset Management, disse que inicialmente ficou "chocado" com o preço de US$ 3.500 e redigiu uma nota aos clientes enfatizando sua decepção. Depois de usá-lo, ele admitiu que sua perspectiva mudou "totalmente". "Acho que tem um preço justo", disse.

Os analistas apontaram que o headset parecia "familiar". O design do aparelho traz elementos do Apple Watch e dos fones de ouvido AirPods Max, enquanto o software visionOS lembra o do iPhone e do iPad. Ele é equipado com chips de "silício da Apple", ressaltando ainda mais como o esforço da Apple para fazer o design e a produção de muitos de seus componentes internamente lhe dá outra vantagem sobre as rivais.

"O que me chamou a atenção imediatamente foi o fato de que qualquer pessoa que usa um produto da Apple terá familiaridade instantânea com o dispositivo", disse Ben Wood, analista da CCS Insight.

Por mais impressionante que seja, é difícil argumentar que algum consumidor "precisa" desse dispositivo. Foi divertido assistir a clipes de filme, ver fotos e atender uma chamada, e fiquei surpreso com a clareza e o conforto de simplesmente ler um documento PDF. Mas a Apple ainda tem alguns grandes desafios para convencer o público em geral a investir.

Organizar milhares de demonstrações para consumidores em potencial nas lojas de varejo da Apple em todo o mundo será difícil. Mas não consegui encontrar ninguém que ficasse decepcionado depois de experimentar. A maioria dos testadores estava extremamente entusiasmada.

"Vi a apresentação e achei que parecia bom, mas imaginei que, quando experimentássemos, veríamos falhas", disse Francisco Jeronimo, analista da IDC. "Mas minha demonstração foi completamente perfeita. Tudo funcionou, como se o produto estivesse pronto para chegar às lojas. Fiquei realmente impressionado."

Jeronimo acrescentou que, aos 20 minutos, estava pronto para retirá-lo. Apesar da tecnologia "EyeSight" da Apple –que mostra os olhos do usuário para outras pessoas na vida real para que o dispositivo não pareça antissocial–, ele não tinha certeza se o usaria num ambiente social.

"Mesmo que a bateria dure o dia todo, não vejo pessoas interagindo com outras em seus escritórios com uma tela diante dos olhos", disse ele.

Alguns analistas argumentaram que o Vision Pro não oferecia RA de verdade porque, ao contrário do Magic Leap, por exemplo, o dispositivo da Apple é imersivo –tudo é visto através de câmeras, até mesmo a sala em que se está, em vez de imagens digitais sobrepostas a uma visão do mundo real.

Mas a semântica dessa distinção provavelmente não importa. A latência do feed de vídeo é de apenas 12 milissegundos –oito vezes mais rápido que um piscar de olhos– e seu cérebro terá dificuldade para distinguir a diferença entre a tela dentro do fone de ouvido e seu ambiente físico.

Durante minha demonstração, conversei com dois funcionários da Apple na mesma sala e uma terceira apareceu numa janela móvel em uma ligação do FaceTime. Ela estava usando o Vision Pro, mas a Apple o tornou invisível para que eu pudesse ver seu rosto inteiro. A Apple chama isso de "persona", o que soa caricatural, mas mesmo quando eu pedi que ela olhasse para frente e para trás ou a fiz rir, suas reações foram realistas.

Para meu constrangimento, até gritei quando um dinossauro surgiu da parede da sala de demonstração, reconheceu minha presença e tentou morder minha mão. Disseram que isso aconteceu o dia todo.

A Apple também desenvolveu câmeras proprietárias para gravar vídeos em 3D de jogos esportivos e eventos como um show em estúdio, permitindo que o usuário sinta que a ação está bem à sua frente. Foi impressionante o suficiente para me perguntar se a Ticketmaster estaria prestes a fechar.

A decepção com o fato de o headset não estar à venda até o "início do próximo ano" era palpável. Akash Nigam, CEO da Genies, empresa de ferramentas de avatar, disse que ficou surpreso com o fato de a Apple ter feito pouca ou nenhuma tentativa de direcionar o dispositivo para os consumidores da Geração Z. Não havia nada sobre redes sociais ou aplicativos de namoro, por exemplo.

Mas milhões de desenvolvedores agora têm meses para criar conteúdo. Quando o fizerem, o potencial do Vision Pro poderá surgir de maneiras que nem mesmo a Apple entende.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.