Descrição de chapéu Financial Times juros América Latina

Diferença nos custos de empréstimos entre mercados desenvolvidos e emergentes tem menor nível em 16 anos

Investidores precificam cortes de juros na América Latina e no leste europeu à medida que Ocidente aperta

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Mary McDougall
Londres | Financial Times

A diferença nos custos de empréstimos do governo entre mercados emergentes e desenvolvidos caiu ao nível mais baixo desde 2007, à medida que os investidores precificam cortes iminentes nas taxas de juros em algumas grandes economias emergentes e mais aperto no Ocidente.

O spread nesta semana caiu para menos de 2,9 pontos percentuais, o menor em 16 anos, contra 4,8 pontos há um ano, segundo dados da Allianz Global Investors.

"Houve uma enorme divergência entre a dívida em moeda local dos mercados emergentes e os mercados desenvolvidos este ano", disse Richard House, diretor de investimentos para dívida de mercados emergentes da Allianz Global Investors.

"Os investidores estão reconhecendo o estreitamento da lacuna de credibilidade entre os formuladores de políticas [...] Os mercados emergentes fizeram um bom trabalho ao lidar com esse choque inflacionário, e não tenho certeza se você poderia dizer o mesmo sobre alguns dos bancos centrais ocidentais."

Feira de rua no bairro do Catete, zona sul do Rio de Janeiro (RJ) - Eduardo Anizelli - 19.abr.2022/Folhapress

Os bancos centrais da América Latina e da Europa Oriental –regiões que abrigam os mercados de títulos de melhor desempenho do mundo este ano– agiram mais rapidamente para aumentar as taxas em resposta às pressões inflacionárias quando as economias reabriram após as restrições na pandemia de coronavírus.

O índice de referência amplamente seguido do JPMorgan de títulos governamentais em moedas locais de mercados emergentes apresentou um retorno total de 7,5% ao ano até o momento, impulsionado pelo subíndice da América Latina, que subiu 21%, e pela Europa Central e Oriental, que ganhou 11%.

Em contraste, os títulos do governo dos EUA geraram retornos totais de apenas 1,6% este ano, conforme medido pelo Índice de títulos do governo ICE Bank of America, enquanto os títulos alemães –a referência de fato para a zona do euro– geraram retornos totais de 1,2%.

Dados os rendimentos reais ainda altos oferecidos em dívida de mercados emergentes, a queda da inflação e a perspectiva de cortes nas taxas que devem impulsionar os preços dos títulos, muitos investidores estão se posicionando para ganhos adicionais.

"As taxas e os títulos em moeda local apresentam uma oportunidade muito atraente para os próximos seis meses e além", disse Liam Spillane, chefe de dívida de mercados emergentes da Aviva Investors, destacando México, Peru, África do Sul, República Tcheca e Polônia, onde ele acredita que os mercados subestimaram o potencial de cortes nas taxas.

Iain Stealey, diretor de investimentos internacionais em renda fixa do JPMorgan Asset Management, disse esperar que os títulos em moedas locais de mercados emergentes "continuem a se sair bem dadas as altas taxas reais e bancos centrais que estão geralmente cansados com o sobe e desce da inflação".

"Nossa preferência é por países com altas taxas reais como Brasil, México e Indonésia, bem como países onde esperamos que a inflação caia fortemente, como a República Tcheca", acrescentou.

As perspectivas econômicas no mundo em desenvolvimento também parecem relativamente fortes. Em uma nota recente aos clientes, o Bank of America previu que as economias emergentes crescerão em média 4,1% em 2024, diante de um crescimento de 0,5% nos EUA, que seria o maior diferencial de crescimento em uma década.

O desempenho da dívida em moeda local reflete a resiliência relativa de algumas das maiores economias emergentes, que normalmente possuem mercados de títulos locais profundos. Mercados emergentes menores e menos desenvolvidos, que dependem mais fortemente de empréstimos em moeda estrangeira, têm enfrentado dificuldades este ano, já que o aumento dos rendimentos dos títulos no Ocidente ofusca a atração de suas dívidas denominadas em dólares.

Taxas de juros mais altas nos EUA levaram alguns países que dependem de dívidas denominadas em dólares, incluindo Paquistão, Tunísia e Egito, a um estresse de dívida e para mais perto da inadimplência, segundo David Hauner, chefe de estratégia e economia de ativos cruzados de mercados emergentes do Bank of America.

"Você tem uma história muito positiva que beneficia os mercados convencionais e mais líquidos e, ao mesmo tempo, há uma crise de dívida silenciosa nos mercados fronteiriços", disse Hauner.

Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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