Elevação no rating do Brasil contribui para retomada dos IPOs na Bolsa, dizem especialistas

Banqueiros esperam até R$ 60 bilhões em ofertas de ações em 2023

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São Paulo

Quase dois anos depois da última abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa brasileira —a empresa de medicamentos Viveo fez a sua estreia na B3 em agosto de 2021—, a expectativa do mercado é de uma retomada das ofertas iniciais de ações até o final do ano.

Segundo pessoas familiarizadas com as ofertas em estudo, nomes que já tentaram abrir o capital, como a empresa de logística voltado ao setor marítimo CBO (Companhia Brasileira de Offshore) e a chinesa do setor de energia CTG (China Three Gorges), estão entre as principais candidatas para reabrir o mercado brasileiro de IPOs nos próximos meses.

A Compass, empresa da Cosan com atuação no setor de gás, e as empresas de saneamento Aegea, Iguá e Corsan também são apontadas entre as que podem fazer a abertura de capital na B3 entre o final de 2023, ou, no mais tardar, no início de 2024.

Homem fotografa painel eletrônico que indica movimentação das ações na Bolsa de Valores brasileira, a B3, em São Paulo
Homem fotografa painel eletrônico que indica movimentação das ações na Bolsa de Valores brasileira, a B3, em São Paulo - Amanda Perobelli - 3.abr.2019/Reuters

O avanço da agenda econômica do governo, com o andamento de pautas caras aos investidores no Congresso, como a Reforma Tributária e o arcabouço fiscal, e a melhoria nas projeções para a inflação e o PIB (Produto Interno Bruto), que ganharam o selo de reconhecimento da Fitch na ultima semana, abrem caminho para que as empresas se sintam mais confiantes para voltar a acessar o bolso dos investidores.

"A mudança na nota de crédito pela Fitch é resultado de uma política correta que o governo está fazendo, e sem dúvida pode contribuir para a retomada das ofertas de ações e IPOs na Bolsa", diz Bernardo Parnes, sócio-fundador da Investment One Partners.

A melhora no rating pela Fitch, que se seguiu à alteração na perspectiva da nota de crédito feita algumas semanas atrás pela Standard & Poor´s, "mostra uma confiança maior dos agentes externos em relação ao Brasil e com certeza também contribui para nosso otimismo em relação às perspectivas de mercado", endossa Roderick Greenlees, diretor do banco de investimento do Itaú BBA.

Ao longo do primeiro semestre, as ofertas de ações movimentaram cerca de R$ 13,5 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), mas envolveram apenas follow-ons (ofertas subsequentes), de empresas que já têm ações negociadas na Bolsa.

Neste ano, Assaí, Hapvida, Dasa, Orizon, SmartFit, Oncoclínicas, CVC Brasil, Localiza e Vamos buscaram com acionistas capital para tocar suas operações.

Grenenlees, do BBA, estima que o ano deve terminar com um total de 25 a 35 ofertas de ações no mercado brasileiro, com potencial para movimentar entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões, já considerando as ofertas em andamento da Copel e da Viveo —com potencial para movimentar cerca de R$ 7 bilhões.

O executivo diz que a maior parte das operações esperadas para o ano ainda deve ser composta por follow-ons, mas que "é uma questão de tempo" até que um novo IPO apareça na Bolsa brasileira.

"Muito provavelmente no último trimestre do ano a gente vai ter uma retomada dos IPOs no Brasil", diz Felipe Thut, diretor do Bradesco BBI.

O diretor do BBI afirma que, das ofertas de ações realizadas até aqui em 2023, a demanda tem superado o tamanho da oferta entre 3 e 7 vezes, o que indica o tamanho do apetite do investidor por ações de boas companhias neste momento.

Thut diz que, frente ao pipeline de novas operações, também trabalha com uma estimativa de até R$ 60 bilhões em ofertas de ações neste ano. "Com as incertezas sendo dissipadas no país, estamos à beira de ver um fluxo relevante de estrangeiros vindo para o Brasil", acrescenta Thut.

Em linha com os pares, Teodora Barone, responsável pela área de mercado de ações do UBS BB, estima que as ofertas de empresas que já têm ações negociadas na Bolsa têm potencial para movimentar entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões na segunda metade do ano, com uma participação importante de ao menos 50% dos estrangeiros nas operações.

"Nossa expectativa é que a aceleração que vimos no número de ofertas no final do primeiro semestre continue após as férias do hemisfério norte", afirma a especialista. Ela lembra que, das 8 ofertas de ações no primeiro semestre, 4 foram no mês de junho.

Com a volta dos grandes investidores estrangeiros ao mercado após o recesso de agosto, os meses de setembro e outubro devem ser bastante aquecidos em termos de ofertas de ações, prevê Teodora.

Ela acrescenta que o ambiente aquecido para as ofertas de ações e uma possível continuidade do desempenho positivo da Bolsa, com o Ibovespa testando níveis ao redor dos 130 mil pontos, devem contribuir de fato para que as aberturas de capital voltem a acontecer.

"O mercado de IPOs começa a se aquecer. Companhias que já tentaram o IPO no passado começam a reavaliar a abertura de capital", afirma Teodora.

A executiva do UBS BB diz ainda que as ofertas de abertura de capital devem envolver volumes elevados, acima de R$ 1 bilhão, de modo a dar conforto aos grandes investidores que miram operações com capacidade de negociação robusta, de entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões diários, no mercado secundário.

Thut, do BBI, assinala que iniciativas como o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária tiraram do radar o risco de uma postura irresponsável do governo na condução da economia e deram conforto tanto para os investidores quanto para as próprias agências de rating adotarem uma visão mais positiva para o mercado brasileiro.

O setor imobiliário, fomentado pelo Minha Casa, Minha Vida, o de infraestrutura, que demanda capital intensivo, e o varejo, beneficiado pela queda dos juros, deverão estar entre os que vão buscar financiamento para novos investimentos nos próximos seis meses, prevê Thut.

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