Fundadores do Kabum! querem desfazer venda para o Magalu

Irmãos Ramos dizem que Itaú BBA, que assessorou o negócio, privilegiou varejista; banco nega, e Magalu não respondeu até a tarde deste sábado (29)

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São Paulo

O principal negócio da história do Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo do país, corre o risco de voltar atrás. A compra do Kabum! —a maior plataforma de ecommerce de tecnologia e games do país—, realizada em julho de 2021 por R$ 1 bilhão, pode ser desfeita.

Isso porque os irmãos Leandro e Thiago Ramos, fundadores do Kabum!, alegam que o Magalu se propôs a pagar, além dos R$ 1 bilhão em dinheiro, mais R$ 2,5 bilhões em ações da varejista. Os Ramos se tornariam sócios do Magalu. Mas, no mesmo dia em que anunciou a compra do Kabum!, o Magalu anunciou também um follow-on (oferta subsequente de ações), que fez o preço da ação cair.

Em 15 de julho de 2021, a ação do Magalu fechou em R$ 23,72. Na última sexta (28), foi negociada a R$ 3,17. Levantamento da consultoria Economatica à época apontou que a varejista ganhou mais de R$ 16 bilhões em valor de mercado com a aquisição, passando de R$ 159,8 bilhões para R$ 176,8 bilhões.

Por conta da desvalorização do papel, o negócio, que seria de R$ 3,5 bilhões, acabou ficando pela metade do preço, R$ 1,7 bilhão, alegam os irmãos Ramos, que acabam de entrar com requerimento para abertura de arbitragem contra o Magalu, na Câmara de Comércio Brasil Canadá. Querem que o negócio seja desfeito ou, então, que a varejista complete o valor acordado, de R$ 3,5 bilhões.

Mulher carrega uma caixa de eletrodoméstico em uma loja
Consumidora durante a 30ª Liquidação Fantástica da loja do Magalu da Marginal Tietê, em janeiro. - Adriano Vizoni/Folhapress

Na ação, à qual a Folha teve acesso, os irmãos Ramos também questionam o papel do Itaú BBA, que agiu em meio a um conflito de interesses, segundo eles. Isso porque o Itaú BBA foi contratado pelos fundadores do Kabum! para encontrar um comprador para a empresa no mercado. Ao mesmo tempo, o Itaú BBA foi chamado pelo Magalu para coordenar a operação de follow-on —sem que os irmãos Ramos soubessem disso.

De acordo com a defesa dos fundadores do Kabum!, representada pelo Warde Advogados, todo o negócio foi encaminhado pelo banco para que o Magalu fosse o comprador. A defesa alega que houve sondagens de empresas como Americanas e Havan, mas as conversas não evoluíram, porque acabaram sendo direcionadas para o Magalu.

O Itaú BBA, que acabou sendo alvo de um processo dos irmãos Ramos na Justiça, nega as acusações e diz que o "processo foi competitivo, diligente e transparente".

Procurado, o Magalu não respondeu até a tarde deste sábado (29).

Um detalhe importante, segundo os irmãos Ramos, foi descoberto depois que ambos contrataram uma empresa de espionagem, a Kroll, para investigar os bastidores do negócio: o diretor do Itaú BBA Ubiratan dos Santos Machado é concunhado de Fred Trajano, CEO do Magalu (a mulher de Fred é irmã da mulher de Machado).

Para os fundadores do Kabum!, o Itaú BBA agiu duplamente em meio a um conflito de interesses: os executivos do banco e da varejista tinham relações não só comerciais, mas também pessoais.

Fred Trajano também é membro do conselho de administração do Itaú Unibanco desde 2020.

Os irmãos Ramos tornaram a história pública em fevereiro deste ano, quando entraram com uma ação contra o Itaú BBA. Em abril, foram demitidos da presidência do Kabum! pelo Magalu (a continuidade deles à frente do negócio fazia parte do acordo). Agora, os fundadores entraram com ação na Câmara de Arbitragem para desfazer o negócio.

Procurado pela Folha, o banco diz que "todas as acusações imputadas ao banco são absolutamente inverídicas".

"Todos os potenciais compradores tiveram ampla e equânime oportunidade de análise do negócio e envio de propostas, sendo que cinco desses potenciais compradores efetivamente enviaram propostas pela companhia", diz nota enviada pelo Itaú BBA.

O banco afirma também que os antigos acionistas do Kabum! sempre estiveram à frente das negociações e tomaram todas as decisões ao longo do processo.

"Por fim, as alegações se apresentam ainda mais descabidas quando colocam suspeita sobre a parceria mantida há anos entre o Itaú e o Magalu e a participação do presidente da varejista no conselho de administração da instituição financeira. Ambos são fatos públicos e notórios, de total conhecimento não apenas dos antigos acionistas do Kabum, mas do público em geral", diz a nota.

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