Descrição de chapéu tecnologia

Gigante dos chips TSMC se volta para Taiwan e adia fábrica nos EUA

Fundador abre centro de pesquisa e quer 'independência'; falta de mão de obra e de demanda desestimula investir no exterior

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Taipé

A fabricante de chips TSMC abriu nesta sexta (28) seu centro global de pesquisa e desenvolvimento, em Taiwan, uma semana após adiar de 2024 para 2025 a produção na futura fábrica nos Estados Unidos. Na cerimônia, o fundador Morris Chang, de 92 anos, enfatizou que a empresa precisa ter sua própria tecnologia, deve ser "independente", autônoma em relação a tecnologias de empresas estrangeiras.

"Queremos usar esta oportunidade para mostrar a determinação da TSMC em manter suas raízes em Taiwan", acrescentou o CEO, Che-Chia Wei. "Ouvimos vozes de preocupação sobre estar mudando seu foco para o exterior. A resposta é não. Com o centro global, estamos dizendo que as nossas raízes permanecem aqui."

Chang, que se dirigiu aos funcionários em seu discurso, falou que a equipe de P&D fez tantas contribuições ao mundo na última década que acabou tornando a TSMC "um campo de batalha para estrategistas militares de todo o mundo". Brincou então que não sabia se devia agradecer por isso.

Logotipo com um círculo dividido em pequenos quadradinhos, como se fossem chips, sendo que alguns deles estão vazios, e em frente ao círculo quadriculado estão as letras tsmc, vermelhas e grandes, em letra minúscula. Logotipo está afixado numa fachada envidraçada e pessoas passam em frente a ele
Logotipo da TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) no centro global de pesquisa e desenvolvimento da empresa, em Hsinchu, Taiwan - Ann Wang/Reuters

O centro fica em Hsinchu, subúrbio da capital e onde também está a sede da TSMC. Ele vai responder pelo desenvolvimento das próximas gerações de chips, de 2 e 1,4 nanômetros.

Com 300 mil metros quadrados, equivalentes a 42 campos de futebol, deverá alcançar 7.000 engenheiros nos próximos dois meses.

A falta de mão de obra especializada foi uma das razões apresentadas por outro líder da TSMC, o presidente do Conselho de Administração, Mark Liu, para adiar a "fab" —como são chamadas as fábricas de chips— no Estado do Arizona, nos EUA. Anunciada em 2020, ela enfrenta essa escassez desde o início.

Há poucos americanos com "os conhecimentos necessários para instalar equipamentos de nível semicondutor", segundo Liu, o que estaria sendo contornado com "o envio de técnicos experientes de Taiwan para treinar os trabalhadores locais por um curto período". Outra questão seria o custo da obra, de modo geral superior ao esperado.

Não é um problema só para a TSMC. Outra empresa de referência no setor, a holandesa ASML, falou dele ao apresentar os resultados do segundo trimestre: "As pessoas não percebem, ao começarmos a construir essas 'fabs' em todo o mundo agora, que essa habilidade foi refinada nas últimas décadas em apenas alguns lugares do planeta, Taiwan, Coreia e um pouco na China".

A protelação e as justificativas saíram durante entrevista pública sobre o trimestre, em que foram divulgados outros dados da TSMC que desestimulam ampliar a produção. Os lucros caíram 23%, em relação ao período no ano anterior, e as vendas, 10%.

A demanda internacional por chips segue sem reação, daí os números e a relutância em continuar investindo em novas "fabs". A projeção da empresa taiwanesa para a queda nas vendas durante o ano todo de 2023 passou também para 10%, alcançando dois dígitos pela primeira vez.

Segundo Liu, é sobretudo a demanda da China que está baixa, em parte devido à recuperação frágil de sua economia —mas de acordo com Paul Triolo, da consultoria estratégica ASG, de Washington, as quedas se devem também às restrições americanas para exportação de chips avançados para a China.

"A Huawei já foi uma grande cliente da TSMC para SoCs de smartphone", avalia Triolo, sobre o chip que integra vários tipos de processadores (System on a Chip), central para os celulares. "Não mais." A gigante chinesa deve retornar aos smartphones 5G até o final deste ano, com chips produzidos pela também chinesa SMIC.

A fábrica da TSMC no Arizona é a estrela do projeto de incentivos do governo americano, para trazer a produção de semicondutores de volta ao país. Não houve comentário de Washington, desde o anúncio do adiamento.

Ainda não há perspectiva de melhora na demanda internacional, pelo que indica Dan Nystedt, analista financeiro em Taipé e Hong Kong, citando empresas de design de chips que veem clientes resistentes e não projetam recuperação no setor antes do terceiro trimestre do ano que vem.

Mark Liu jogou água fria até sobre a procura por chips para inteligência artificial, pós-ChatGPT. "O frenesi de curto prazo sobre a demanda por IA definitivamente não pode ser extrapolado para o longo prazo. Nem podemos prever para o próximo ano se a demanda repentina continuará ou se achatará."

RAIO-X

Fundada em 1987 por Morris Chang (Zhang Zhongmou), engenheiro nascido na China continental e formado nos EUA, a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) foi a primeira empresa a fabricar chips por contrato: não projeta ou vende seus próprios chips, só produz para outras empresas. Listada nas bolsas de Taipei e Nova York, tem acionistas pulverizados e o maior é o Fundo Nacional de Desenvolvimento de Taiwan. A receita consolidada da empresa em 2022 alcançou US$ 83 bilhões, e o lucro líquido, US$ 37 bilhões. Tinha então 73 mil funcionários.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.