Descrição de chapéu PIB Selic juros

Perda de ritmo da economia consolida cenário para corte do juro, dizem analistas

Indicadores mostram queda da atividade econômica em maio com fim da safra de soja e aperto monetário no consumo

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Rio de Janeiro

A atividade econômica perde ritmo no Brasil com o fim dos principais meses da colheita de soja e a manutenção dos juros altos sobre o consumo de bens e serviços. Essa é a avaliação de analistas a partir da divulgação de indicadores que apontam resultados negativos em maio.

Nesta quarta-feira (19), o Monitor do PIB, da FGV (Fundação Getulio Vargas), sinalizou queda de 3% na atividade econômica ante abril. Antes, na segunda (17), o IBC-Br, divulgado pelo BC (Banco Central), já havia indicado baixa de 2% na mesma base de comparação.

Para analistas ouvidos pela Folha, o freio da atividade ajuda a consolidar o cenário para o início dos cortes da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), do BC. O encontro está agendado para os dias 1º e 2 de agosto.

Máquina é usada na colheita de soja em Ponta Grossa (PR); fim da safra desacelera PIB, dizem analistas - Rodolfo Buhrer - 25.abr.2023/Reuters

"Esses dados mais fracos da atividade econômica ajudam na justificativa para o Banco Central começar a cortar os juros em agosto", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

A principal dúvida, segundo ele, é se a redução será de 0,25 ponto percentual ou de 0,5 ponto percentual. Por ora, a MB prevê baixa de 0,25 ponto percentual. A Selic tem sido mantida pelo BC em 13,75% ao ano nos últimos meses.

"Não vejo motivos para o Banco Central não reduzir os juros em agosto", diz Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating.

"Se ele demorar mais, vai jogar a atividade econômica no chão", acrescenta. A Austin prevê queda de 0,5 ponto percentual na Selic em agosto.

O BC vem mantendo a taxa básica em 13,75% como forma de esfriar a demanda por bens e serviços para conter os preços e ancorar as expectativas de inflação.

O efeito colateral previsto é a perda de ritmo da atividade econômica, já que o crédito fica mais caro para as famílias e as empresas. Essa desaceleração preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem pressionando o BC pela redução da Selic.

De acordo com a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a queda de 3% sinalizada pelo Monitor do PIB em maio reflete principalmente o impacto do fim da colheita de soja, mais concentrada no primeiro trimestre.

Além disso, segundo ela, os juros altos vêm trazendo dificuldades para um desempenho mais robusto da indústria e dos serviços.

"A queda de 3% assusta, mas está muito relacionada com o fim da colheita de soja. É um número ruim, óbvio, mas parece pior do que realmente é", pondera Trece.

Ela também avalia que a perda de ritmo da atividade pode favorecer a redução dos juros nos próximos meses. "No início do ano, a agropecuária deu uma mascarada nos problemas que a atividade econômica teve com os juros. O início do ano não foi tão bom como pareceu, e nem agora está tão ruim como pode parecer", afirma.

Por ora, a projeção do FGV Ibre para o PIB é de alta de 1,6% no acumulado de 2023. Analistas do mercado financeiro, contudo, já veem um avanço superior a 2%, apesar da perda de ritmo trimestral após os maiores impactos da safra.

O Monitor do PIB estima mensalmente o comportamento da atividade econômica no Brasil. O cálculo oficial do PIB é divulgado de três em três meses pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado mais recente do IBGE é relativo ao primeiro trimestre, quando houve crescimento de 1,9%. A alta ficou acima das projeções de analistas na ocasião.

À época, o PIB teve impulso da agropecuária, que registrou salto de 21,6% de janeiro a março. O setor foi beneficiado pela melhoria das condições climáticas neste ano, o que levou a projeções de recorde na safra.

Sergio Vale, da MB associados, projeta variação negativa de 0,2% para o PIB no segundo trimestre. Conforme o economista, a estimativa está associada ao fim dos principais efeitos da colheita.

"Mesmo assim, a economia continua forte, porque subiu 1,9% no primeiro trimestre e cai só 0,2% no segundo. É uma economia resiliente, que deve entregar um crescimento próximo de 2,5% no acumulado do ano", prevê. A estimativa da MB, por ora, é de avanço de 2,1% para o PIB de 2023.

A Austin Rating, por sua vez, subiu a projeção para o indicador no acumulado deste ano de 2% para 2,4%. Alex Agostini, economista-chefe da instituição, afirma que os possíveis cortes dos juros e a trégua da inflação tendem a beneficiar o consumo.

Além disso, medidas como o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária também contribuem para melhorar as expectativas na economia, segundo ele.

"O governo conseguiu mitigar boa parte dos riscos, que eram muito altos, e de uma forma até muito rápida. Tudo isso deve contribuir para melhorar as expectativas no segundo semestre", diz Agostini.

O economista André Perfeito avalia que os dados do Monitor do PIB, assim como os do IBC-Br, "jogam pressão" sobre o Copom por cortes mais fortes nos juros. Ele prevê Selic de 11,75% ao final do ano.

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