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Retomada perde força na China, mas deve poupar Brasil

Expansão do PIB em ritmo menor já faz crescer pressão do mercado financeiro por mais estímulo de Pequim

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Taipé

Coube ao economista Cao Heping, da Universidade de Pequim, passar a ideia de que a recuperação continua na China, com a expansão de 6,3% no PIB do segundo trimestre de 2023, na comparação ano a ano.

"É um feito duramente conquistado em meio a múltiplos desafios internos e externos", avaliou. "Reflete que a confiança dos consumidores chineses não foi seriamente prejudicada. E que o paradigma de desenvolvimento de circulação dupla [a priorização do consumo interno por Xi Jinping] compensa a desaceleração da demanda externa."

É a formulação oficial, para defender o resultado. Mas serviços financeiros como Yicai, de Xangai, e Caixin, de Pequim, não tinham como esconder que as suas próprias pesquisas, junto a economistas-chefes do mercado financeiro chinês, haviam ambas projetado 7%.

Centro financeiro de Pequim, na China; PIB do país cresceu 6,3% no segundo trimestre deste ano - Thomas Peter - 12.jul.2023/Reuters

O número à primeira vista positivo, 6,3%, causa frustração porque a base de comparação é o segundo trimestre de 2022, quando o crescimento foi mínimo (0,4%) devido às restrições ainda em vigor do programa de Covid zero. Em comparação ao primeiro trimestre de 2023, mais significativa, a expansão do segundo trimestre foi de 0,8%.

Diferentes economistas de bancos e consultorias, como China Minsheng, Zheshang e Zhixin, opinaram que a desaceleração da retomada reflete a cautela na indústria, o mercado imobiliário apagado e um consumo de serviços ainda pouco sólido.

Para o futuro, o que esperam é mais estímulo do governo Xi, inclusive ou sobretudo para melhorar a situação do desemprego entre jovens, que alcançou novo recorde, 21,3% na faixa até 24 anos. É o dado de potencial mais explosivo, politicamente, na própria China.

Projetam-se também os efeitos que os resultados negativos possam ter na economia global, no Brasil inclusive.

Procurada, a secretária do Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, ressalta que no primeiro semestre deste ano a exportação brasileira para a China, na verdade, cresceu 5,9%. Afirma que "bens mais essenciais", como alimentos, são pouco influenciados pelos movimentos da economia chinesa, como as variações na renda dos consumidores.

"Mesmo que a China cresça num ritmo mais lento, ela continuará demandando soja, milho e carne do Brasil", diz. O maior risco seria para commodities industriais, como minério de ferro e petróleo, que podem ser afetadas por um crescimento mais lento da renda dos consumidores chineses.

"Entretanto, o minério de ferro brasileiro é extremamente competitivo e uma menor demanda global afeta a receita pela diminuição do preço e não do volume, uma vez que outros fornecedores que ofertam pior qualidade são preteridos em relação ao produto nacional", diz Prazeres.

"Quanto ao petróleo, parece também haver uma preferência chinesa pelo brasileiro. Recentemente foi noticiado que a [gigante chinesa] Sinopec deverá comprar mais petróleo brasileiro em detrimento do óleo mais caro da Arábia Saudita."

De sua parte, o governo chinês não promete estímulo, mas acelera as mensagens de confiança, com o banco central garantindo que o país vai evitar deflação, um temor recente no mercado financeiro, e os reguladores financeiros chamando investidores internacionais para um encontro, sexta que vem.

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