Investimento em minérios eleva chance de mundo alcançar metas climáticas; entenda

Oferta de recursos minerais pode afetar demanda de transição para energia limpa, mas China domina gastos, diz agência internacional

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Harry Dempsey
Londres | Financial Times

Os investimentos em minerais críticos estão próximos ao patamar suficiente para as ambições de energia limpa do mundo, segundo a Agência Internacional de Energia. Ao mesmo tempo, porém, ela avisou que os esforços para diversificar as fontes de minerais têm sido insuficientes no caso de metais como lítio, níquel e cobalto.

A AIE, sediada em Paris, disse que investimentos no desenvolvimento de minerais cruciais aumentaram 30% no ano passado, superando os US$ 40 bilhões (R$ 196 bilhões), depois de terem subido 20% em 2021. Os investimentos foram liderados por um aumento grande nos gastos da China, gerando o receio de que Pequim vai ampliar o controle que exerce sobre o mercado de determinados produtos.

Se todos os projetos anunciados de desenvolvimento de recursos minerais críticos –que ajudam a alimentar carros elétricos, turbinas eólicas e painéis solares— forem entregues dentro dos prazos previstos, a oferta deve ser suficiente para que as promessas climáticas nacionais sejam cumpridas até 2030, acrescentou o informe da AIE.

Produção de lítio no Vale do Jequitinhonha (MG). Caminhão deposita resíduo de mineração do lítio da empresa CBL, que faz poeira e é motivo de reclamação de moradores próximos ao local, na zona rural da cidade de Araçuaí (MG)
Produção de lítio no Vale do Jequitinhonha (MG). Caminhão deposita resíduo de mineração do lítio da empresa CBL, que faz poeira e é motivo de reclamação de moradores próximos ao local, na zona rural da cidade de Araçuaí (MG) - Eduardo Knapp/Folhapress

"A demanda continua a aumentar de modo significativo, mas há algumas notícias animadoras relativas à oferta", disse o diretor executivo da AIE, Fatih Birol. "Estamos menos preocupados com a disponibilidade de minerais críticos do que estávamos dois anos atrás."

A escassez de matérias-primas, incluindo lítio e cobre, é um dos maiores problemas que pode atrasar a transição para a energia limpa, e o informe da AIE destaca como os preços crescentes de uma commodity como o lítio vêm levando ao aumento dos investimentos.

Mas o informe também apontou para a alta probabilidade de atrasos em projetos de mineração que podem sofrer problemas como "questões de permissão", problemas de financiamento e riscos técnicos.

Não obstante os aumentos de investimento e oferta, Birol disse que o progresso "limitado" na diversificação das fontes de matéria-prima nos últimos três anos, além da falha em reduzir os níveis elevados de emissões e água normalmente necessários para gerar produtos metálicos, são "duas preocupações importantes".

Empresas chinesas estão avançando para obter os materiais necessários para a energia limpa, tendo quase dobrado seus gastos com investimentos em 2022, enquanto empresas de mineração ocidentais com BHP, Anglo American e Glencore, aumentaram seus investimentos em 25%, em média, segundo a AIE.

A agência disse que na etapa de processamento dos minerais cruciais, a dependência crescente de um número reduzido de países cresceu ainda mais. Metade das fábricas de lítio químico futuras estão sendo planejadas para ser construídas na China e 90% das novas refinarias de níquel serão localizadas na Indonésia, ela disse.

As evidências da hegemonia crescente da China sobre as cadeias de fornecimento de minerais críticos surgiram uma semana depois de Pequim ter anunciado planos para limitar suas exportações de gálio e germânio, matérias-primas cruciais para a fabricação de chips, em resposta à adoção de restrições lideradas pelos EUA às exportações de semicondutores.

Os EUA estão nas etapas iniciais da adoção de políticas para reformular as cadeias de fornecimento globais de minerais estratégicos, com seu pacote de US$369 bilhões da Lei de Redução da Inflação. Mas projetos de mineração geralmente levam algo entre sete e 20 anos para entrarem em operação.

A demanda de minerais críticos está prevista para mais que dobrar até 2030, intensificando as dificuldades do setor de mineração, de ação lenta, em aumentar sua produção em tempo. O mercado, que no ano passado movimentou receita de US$320 bilhões, dobrou de tamanho nos cinco anos anteriores, em parte em função dos preços mais altos, segundo o relatório.

Birol alertou que, se o mundo quiser limitar o aquecimento global para até 1,5º acima das temperaturas pré-industriais –uma meta mais elevada que a maioria das metas climáticas nacionais atuais—, ele só terá três quartos dos minerais que necessita até 2030.

Tradução de Clara Allain

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