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Tangerina é o produto com a inflação acumulada mais alta no Brasil

Chamada também de bergamota ou mexerica, fruta registra avanço de 52,5% nos preços em 12 meses

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Rio de Janeiro

Ela tem diferentes nomes, é fácil de descascar, possui um cheiro marcante e, para o azar do consumidor, ficou mais cara. Trata-se da tangerina.

No acumulado de 12 meses até junho, os preços da fruta acumularam alta de 52,5%, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Trata-se do subitem com a maior inflação entre os 377 bens e serviços que compõem o índice oficial de inflação do Brasil, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O órgão chama o produto de tangerina, que também recebe os nomes de mexerica em locais como São Paulo e de bergamota no Rio Grande do Sul.

Tangerinas à venda em supermercado - Christophe Simon - 3.nov.2022/AFP

A alta de 52,5% é a mais intensa para a fruta desde maio de 2019 no IPCA. À época, ela havia acumulado inflação de 59,36% em 12 meses.

Diferentes fatores contribuem para a tangerina ser a vilã da vez, mas esse comportamento não é inédito. Devido à sazonalidade, ela já registrou picos de inflação em outros anos. Agora, a carestia reflete, sobretudo, as restrições de oferta com uma conjuntura adversa na passagem de 2022 para 2023.

Antonio Carlos Simonetti, conselheiro da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), diz que o excesso de chuva em regiões produtoras do Sul e do Sudeste "lavou" o adubo de plantações. Também houve perdas devido a um fungo beneficiado pela umidade e da doença de greening, comum na citricultura.

"O aumento de preços é consequência de todas essas questões."

O maior volume de colheita da tangerina costuma ocorrer de maio a agosto, mas, neste ano, o período deve se estender, segundo ele. Houve registros de problemas na produção no interior de São Paulo, em Minas Gerais, no Paraná e no Rio Grande do Sul.

A oferta da variedade murcote vai de, mais ou menos, julho a dezembro, e a da ponkan, de abril a agosto. "Não é como a manga ou outra fruta que encontramos no mercado em qualquer época do ano. Em alguns meses, ela fica mais rara", diz o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

"Soma-se a isso o custo, que subiu muito nos últimos 12 meses. Insumos agrícolas derivados de petróleo encareceram, como defensivos, agrotóxicos, e tudo isso pressionou o custo da produção", acrescenta. O cenário, no entanto, já se alterou com as recentes baixas nos preços do diesel e do petróleo, e a fruta não deve registrar o mesmo tipo de alta nos próximos 12 meses.

"Também houve uma situação climática atípica, com chuva de granizo no fim do ano passado que comprometeu parte dos pomares e impactou a oferta deste ano, elevando os preços", diz Braz.

Embora o cálculo do IPCA abranja 16 capitais e regiões metropolitanas do país, nem todos os itens são monitorados nessas regiões. A coleta dos preços da tangerina só acontece em São Paulo e em Curitiba (PR). Na capital paranaense, a inflação chegou a 72,34% em 12 meses.

Mesmo nesse patamar, a tangerina não fica cara como a nectarina ou como uma caixa de uva sem semente, por exemplo. O quilo da variedade ponkan, a mais consumida, pode custar R$ 5,90 num supermercado da zona sul do Rio de Janeiro, ou variar de, mais ou menos, R$ 1,90 a R$ 3 em Ceasas, a depender do tamanho.

Já o quilo da variedade murcote, um cruzamento de tangerina com laranja doce, está na faixa de R$ 2,15 a R$ 3,30 nas centrais de abastecimento. Há, ainda, entre as mais populares, a cravo, disponível praticamente só no primeiro semestre.

Depois da fruta, os subitens com as maiores altas no acumulado de 12 meses até junho do IPCA são inhame (46,95%), filhote de peixe (40,79%), farinha de mandioca (34,93%), banana-maçã (32,62%), batata-doce (29,6%), melancia (24,9%), alimento infantil (23,27%), ovo de galinha (22,93%) e mamão (22,66%).

Por outro lado, o óleo de soja teve a queda mais intensa entre os 377 subitens do IPCA. A baixa acumulada foi de 35,37%. O produto disparou durante a pandemia, mas vem caindo em meio à trégua das cotações de soja no mercado internacional e à projeção de safra recorde do grão no Brasil.

Óleo diesel (-27,42%), gasolina (-26,8%), etanol (-23,21%) e gás veicular (-19,96%) vêm na sequência do ranking das maiores quedas do IPCA. O governo Jair Bolsonaro (PL) havia cortado tributos sobre combustíveis para conter a inflação às vésperas das eleições do segundo semestre de 2022.

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