Descrição de chapéu Folhainvest Eletrobras

Dólar dispara e volta aos R$ 4,89 após corte mais agressivo na Selic

Bolsa abre em alta, mas reverte ganhos e fecha em queda de 0,22%, aos 120.585 pontos

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São Paulo

O dólar disparou 1,91% e fechou o dia cotado a R$ 4,897, após o Copom (Comitê de Política Monetária) ter realizado um corte de 0,50 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros) e sinalizado que novas reduções da mesma magnitude devem ser feitas em reuniões futuras, o que tornaria o Brasil menos atrativo para capital estrangeiro. A moeda americana também foi apoiada pelo aumento da aversão ao risco no exterior.

Já a Bolsa brasileira abriu em forte alta e chegou a ultrapassar os 122 mil pontos na máxima do dia, mas reverteu os ganhos e fechou em queda de 0,19%, aos 120.585 pontos. Apesar de ter sido beneficiado pela queda dos juros, o Ibovespa sofreu impacto de um movimento de realização de lucros ao longo do dia.

O Copom anunciou na quarta (2) um corte de 0,50 ponto percentual, num placar de 5 a 4 que incluiu os votos de diretores indicados por Lula –Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização)– e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Em seu comunicado, o comitê destacou que a melhora do quadro de alta dos preços e a queda das expectativas de inflação para prazos mais longos deram confiança à decisão de iniciar um ciclo gradual de afrouxamento dos juros.

O colegiado do BC também antecipou que prevê um novo corte de 0,5 ponto percentual no próximo encontro, nos dias 19 e 20 de setembro.

Dólar fechou estável em dia de cautela com cenário internacional - Dado Ruvic - 17-Jul-2022/Reuters

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que o colegiado deixou claro que as próximas reduções serão da mesma magnitude e retirou fatores de risco citados em comunicados anteriores, sinalizando uma melhora nos cenários projetados pelo BC.

"O Copom retirou do comunicado a incerteza residual do arcabouço fiscal e o risco de desancoragem maior ou duradoura das expectativas de inflação mais longas, passando a usar o termo 'reancoragem parcial'. Isso significa que o processo de convergência da inflação avançou significativamente", diz a economista.

Ela aponta, ainda, que o comitê citou como risco a resiliência da inflação de serviços, mas que a alta de preços do setor já está mostrando desaceleração. O resultado da inflação de serviços, medido no IPCA-15 de julho, por exemplo, veio melhor do que o esperado pelo mercado, após ter surpreendido negativamente no resultado anterior.

Dentre as possibilidades de reduzir a inflação, o Copom cita uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global, que podem se mostrar mais fortes do que o esperado.

A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, diz que o corte de 0,50 ponto percentual na Selic veio em linha com a expectativa do banco e tem fundamento num cenário de queda mais acelerada da inflação.

"O mercado pode ajustar no curto prazo, já que as apostas estavam divididas para esse corte, mas a indicação do ritmo de 0,50 ponto para as próximas reuniões está em linha com a expectativa e não deve impactar de maneira significativa a curva de juros", diz Vitória.

A economista diz que o tamanho total do ciclo de cortes ainda está indefinido, mas que o banco mantém a projeção de 9% para a Selic em 2024, considerando novas quedas de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do comitê.

Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que os indicadores de expectativa de inflação futura já estão dentro dos limites toleráveis para o cumprimento da meta de inflação —de 3,25% ao ano para 2023, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

"Não havia outra alternativa além de reduzir em 0,50 ponto percentual", afirma Agostini, afirmando que a Austin Rating projeta quedas da mesma magnitude até meados de 2024.

A expectativa de queda mais rápida da Selic no Brasil fez o dólar disparar ante o real, já que o nível alto das taxas torna o real interessante para uso em estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado mais rentável. Quanto mais a Selic cair, mais o Brasil perderá vantagem no "carry trade".

Assim, com a expectativa de menor rentabilidade na renda fixa brasileira, investidores tendem a realocar seus recursos em mercados mais rentáveis.

Os juros futuros, aliás, tiveram forte queda nas curvas mais curtas. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 foram de 12,64% para 12,46%, enquanto os para 2025 caíram de 10,67% para 10,49%. Os para 2026 saíram de 10,04% para 9,985%.

As curvas mais longas, porém, que já tinham precificado uma queda maior da Selic, subiram nesta quinta. Os juros para 2027 foram de 10,08% para 10,11%, e os para 2028 subiram de 10,30% para 10,40%.

Além disso, a moeda americana também é apoiada pelo ambiente de aversão ao risco no exterior, após a divulgação de dados fracos sobre as economias chinesa e europeia.

Apesar da forte alta do dólar nesta quinta, economistas apontam que ainda há espaço para a moeda cair em relação ao real nos próximos meses, pois uma eventual saída de recursos da renda fixa brasileira pode ser compensada pelo otimismo na renda variável, que é beneficiada pela queda dos juros.

O início da redução de juros deve apoiar empresas da Bolsa brasileira, e as projeções sobre a Selic chegaram a impulsionar o desempenho do Ibovespa em sessões recentes.

Nesta quinta, porém, A Bolsa foi impactada por um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem ações que tiveram forte valorização recente para efetivar os ganhos, o que ofuscou o efeito positivo do corte da Selic para a renda variável brasileira.

A queda foi puxada principalmente pelas ações da Eletrobras, que caíram 5,15% após a coluna Painel S.A., da Folha, ter noticiado que a usina nuclear de Angra 3 não foi incluída no PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento), programa que o governo Lula pretende lançar em breve.

Perdas de Ambev (1,46%), que reportou queda de 15% no lucro líquido do segundo semestre, e do Bradesco (0,71%), que divulga nesta quinta seu balanço do segundo trimestre, também pressionaram o Ibovespa.

Na ponta positiva ficaram as "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, que, por consequência, são mais sensíveis às quedas de juros. Altas de Dexco (5,26%), Minerva (2,93%) e Cyrela (2,78%) foram os destaques e ficaram entre os maiores ganhos da sessão.

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também fecharam em leve queda. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq caíram 0,25%, 0,19% e 0,10%, respectivamente.

Com Reuters

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