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Inflação de serviços no Brasil 'preocupa um pouco mais', diz Campos Neto no Senado

Índice oficial de movimentação dos preços em julho será divulgado nesta sexta-feira (11)

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) que a inflação de serviços no Brasil ainda "preocupa um pouco mais", citando que o índice do segmento tem caído lentamente e ainda está em um patamar acima da média.

O chefe da autoridade monetária também citou que o núcleo da inflação de serviços –parâmetro que tira os itens mais voláteis– ainda continua elevado.

"No caso do Brasil, o que hoje preocupa hoje um pouco mais é a inflação de serviços, que tem caído muito lentamente. Ela preocupa especialmente quando afeta a inflação de salários, a gente não tem visto isso ainda, a gente tem visto até uma melhora recente na inflação, apesar do núcleo inflação de serviços ainda estar alto", afirmou.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, ao lado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) - Gabriela Biló/Folhapress

"A gente vê que a inflação de serviços tem caído, mas ainda se encontra em um patamar bem acima da média. Quando olha o núcleo da inflação de serviços, tirando os itens mais voláteis, quando olha o intervalo mais curto não tem caído, mostrou uma ligeira subida", acrescentou.

Campos Neto compareceu no Senado Federal para prestar contas sobre as decisões tomadas pela autoridade monetária em relação à inflação, aos juros e à estabilidade financeira. Conforme a lei de autonomia, em vigor desde 2021, o presidente do BC tem de ir ao Congresso Nacional prestar esclarecimentos ao menos duas vezes ao ano.

"Lembrando que amanhã [sexta] sai o número de inflação fechado, a gente deve ter uma pequena melhora, mas a gente está olhando a inflação de serviços como um elemento importante para convergência de todos os fatores da inflação", disse.

O presidente do BC ressaltou que o índice voltará a subir nos próximos meses por conta da queda artificial nos preços com a desoneração de combustíveis no período eleitoral no ano passado.

O índice oficial de inflação do Brasil (IPCA) atualizado será divulgado nesta sexta-feira (11). De acordo com o último dado disponibilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a alta acumulada em 12 meses desacelerou para 3,16% até junho.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que sinaliza uma tendência para os preços, teve queda de 0,07% em julho, com recuo dos preços de energia elétrica e alimentos.

No cenário de referência do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, a projeção de inflação para este ano caiu para 4,9% e, para 2024, se manteve em 3,4%. Para 2025, a estimativa é de 3%.

Atualmente, os objetivos perseguidos pelo BC são 3,25% neste ano e 3% a partir de 2024, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em junho, o CMN (Conselho Monetário Nacional) determinou que, a partir de 2025, o objetivo passará a ser perseguido de forma contínua, não mais seguindo o ano-calendário.

Na sessão do Senado, Campos Neto também fez um aceno ao ministro Fernando Haddad (Fazenda), dizendo ver nas medidas de arrecadação de receitas propostas pelo governo Lula (PT) o caminho para o ajuste fiscal no curto prazo.

A equipe econômica prevê arrecadar cerca de R$ 130 bilhões a mais com o pacote de propostas focado na tributação de ganhos financeiros para fechar as contas do Orçamento de 2024.

"É fácil falar que é importante cortar gastos de forma muito radical, mas tem de entender que parte dos gastos é indexada, é muito difícil de ser atacada", afirmou.

"É importante ao longo do tempo criar medidas para que a gente consiga ter uma estabilidade fiscal sem precisar ter aumento de receita, porque a gente tem um nível de tributação já bastante alto, mas estou de acordo que agora precisa correr atrás de um equilíbrio fiscal", continuou.

Segundo ele, com o plano desenhado pela Fazenda, se as metas fiscais forem atingidas, também abrirá espaço para juros mais baixos e mais estáveis à frente.

O Copom iniciou no dia 2 de agosto o ciclo de cortes de juros, com a redução da taxa básica em 0,5 ponto percentual —de 13,75% para 13,25% ao ano. Coube a Campos Neto dar o voto decisivo no apertado placar de 5 a 4.

A Selic ficou um ano parada no patamar de 13,75%, apesar da pressão do governo Lula e das críticas de empresários, depois de o BC ter promovido o mais longo choque de juros da história do Copom e o mais intenso aperto monetário desde a criação do sistema de metas de inflação, em 1999.

Aos senadores, o presidente do BC disse que a autoridade monetária fez um "pouso suave", reduzindo a inflação com o "mínimo de custo possível" sobre o crescimento econômico e a geração de empregos.

Para Campos Neto, à medida que a política fiscal for "se sedimentando", a inflação implícita –diferença entre a taxa de juros prefixada (nominal) e a taxa de juros indexada ao IPCA (real)– tende a melhorar. Ele disse também ver uma "desancoragem gêmea" das expectativas dos agentes do mercado financeiro.

"Digo que a inflação vai ser baixa na frente, o mercado nem sempre acredita, por outro lado o governo diz que vai fazer um fiscal melhor à frente, mercado não põe isso no preço. À medida que for passando as medidas que vão trazer mais receita, esses números devem melhorar", projetou.

"Isso também vai contribuir para uma inflação menor à frente, consigo ancorar [convergir em direção à meta] a expectativa fiscal e também consigo ancorar a expectativa monetária, isso vai fazer com que o juro fique menor à frente."

Sobre outros temas da agenda da equipe econômica, o presidente do BC afirmou que a Reforma Tributária é um assunto que está maduro para ser apreciado e que apoia a medida, embora não tenha visto os últimos detalhes do projeto. Segundo ele, o novo modelo trará melhoria de eficiência à economia brasileira no médio e longo prazo.

Na terça-feira (8), o Ministério da Fazenda divulgou estudo com estimativas para as alíquotas-padrão dos novos tributos sobre o consumo previstos na Reforma Tributária. Nas simulações do governo, elas vão variar de um mínimo de 20,73% a um teto de 27%.

Quando à reforma administrativa, Campos Neto disse aos parlamentares ver como "caminho correto". Um dia antes, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o governo Lula vai precisar entrar na discussão da reforma administrativa "forçadamente" até o fim deste ano.

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