Descrição de chapéu Financial Times China inflação

O resto do mundo sentirá a dor da deflação na China?

Queda dos preços reduzirá o custo das importações, mas é improvável que tenha grande impacto em outros lugares

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Chris Giles
Londres | Financial Times

Os problemas econômicos de Pequim se agravaram na semana passada, depois que se soube que a China havia caído em deflação. A notícia destaca como o país está lutando para corresponder às expectativas de uma forte recuperação após emergir dos prolongados bloqueios da Covid.

Mas será que a queda dos preços terá impacto além das fronteiras chinesas, em lugares onde o risco maior ainda é de que continue o longo período de inflação alta?

Imagem mostra bandeira chinesa hasteada em um mastro em frente a um prédio. Em primeiro plano, é possível ver um semáforo.
A bandeira chinesa é vista em frente a um prédio em Beijing - Tingshu Wang - 15.ago.23/Reuters

Por enquanto, os economistas dizem que há poucos motivos para preocupação, pois:

A deflação chinesa provavelmente será temporária

A deflação é preocupante principalmente quando é generalizada e causada por empresas desesperadas para vender a consumidores que não querem ou não podem comprar porque estão passando por dificuldades.

Isso não descreve nem a economia da China nem seus movimentos de preços.

A recuperação econômica após a reabertura foi decepcionante –o setor imobiliário continua sendo uma grande preocupação–, mas a produção continua crescendo e está prevista uma expansão de quase 5% para este ano.

"A recuperação do consumo na China continua suave e desigual, mas está muito longe da deflação ao estilo do Japão", disse Duncan Wrigley, economista-chefe para a China da Pantheon Macroeconomics, referindo-se à experiência de décadas do país com preços em queda.

Enquanto os preços ao consumidor chinês caíram 0,3% no ano até julho, uma pequena queda nos custos também ocorreu em 2021. Agora, como então, a deflação parece temporária –mais resultado de efeitos básicos do que de problemas profundos.

Somente em julho, os preços subiram 0,2%, e aumentaram 0,5% nos primeiros sete meses de 2023. A deflação medida surgiu porque os preços –principalmente da carne suína, que caiu 26% nos últimos 12 meses– não aumentaram no mesmo ritmo de 2022, quando a China passou por vários bloqueios importantes.

Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, disse que o aumento do núcleo da inflação –que exclui alimentos e energia e é considerado uma medida melhor das pressões de preços subjacentes– de 0,4% em junho para 0,8% em julho demonstrou a falta de deflação consolidada na China. "Na medida em que a fraqueza crônica da demanda aparecer nos dados de inflação, ela aparecerá nos números principais", disse ele.

A inflação raramente é tão contagiosa quanto parece

O mundo –exceto a China– parece ter sofrido um boom inflacionário nos últimos dois anos. Embora o ritmo dos aumentos de preços tenha sido alto na maioria dos países, as razões diferem acentuadamente.

Os aumentos de preços provocados por congestionamentos nas cadeias de suprimentos globais podem ter sido universais. Mas eles foram amplificados nos Estados Unidos pelo crescimento extremamente forte da demanda do consumidor. O aumento da demanda ocorreu após uma enorme expansão fiscal em 2020 e 2021, quando os governos Trump e Biden enviaram grandes cheques às famílias para combater a crise da Covid-19.

A forte demanda foi um problema muito menor na Europa e nas economias emergentes. Estas sofreram muito mais com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Na Europa, o aperto veio do aumento dos preços do gás natural. Nos países mais pobres, os preços mais altos dos alimentos e os custos da energia provocaram um aumento mais amplo no nível de preços.

Paul Donovan, economista-chefe do UBS, disse que, no caso da deflação chinesa, é provável que as pressões de preços se mostrem "intensamente locais".

Embora o preço das importações chinesas provavelmente caia em consequência dos problemas econômicos do país, Donovan observou que "muita coisa acontece" com as exportações antes de chegarem ao seu destino final. "Geralmente, a maior parte do preço de algo fabricado na China e vendido nos Estados Unidos será pago aos trabalhadores americanos –em custos de transporte ou publicidade, etc.", disse ele.

Deflação chinesa pode ajudar na Europa

O grande problema da inflação, especialmente na Europa e nas economias emergentes, tem sido o custo mais alto das importações, diminuindo o padrão de vida e desencadeando um processo em que as empresas nacionais tentam defender suas margens de lucro aumentando os preços, e os trabalhadores lutam para alcançá-los.

Os preços dos produtos industriais chineses caíram 4,4% em julho em relação ao ano anterior. Em menor medida, isso tem um efeito no exterior.

Os países europeus se beneficiarão de uma economia chinesa mais fraca, que coloca menos concorrência no fornecimento de gás natural, à medida que se ajusta para se livrar do fornecimento russo.

Seria errado, é claro, sugerir que todos os outros se beneficiam (pelo menos um pouco) de uma economia chinesa fraca.

A China contribuiu com 40% para as taxas de crescimento global nos últimos dez anos, segundo Dhaval Joshi, estrategista-chefe da BCA Research. Quaisquer problemas econômicos em Pequim pesarão na produção mundial.

Mas, no momento, as consequências da deflação chinesa parecem administráveis tanto para o próprio país quanto para o resto do mundo.

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