Zoom, símbolo do home office na pandemia, exige seus funcionários de volta ao escritório

Pedido de trabalho híbrido acompanha outras empresas do setor

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Emma Goldberg
The New York Times

Nos primeiros meses da pandemia, uma certa empresa passou subitamente de uma relativa obscuridade para o tipo de popularidade que a transformou em substantivo, verbo e bordão.

"Você pode abrir um Zoom para nós?"

"Vamos fazer um Zoom."

"Estou com fadiga do Zoom."

A receita da empresa de videoconferência disparou em 2020 –um salto impulsionado por milhões de pessoas que passaram a trabalhar em casa. O Zoom também fez parte da mudança para o trabalho remoto que promoveu, com a maioria de seus funcionários autorizados a trabalhar em casa.

Mas agora, juntando-se a uma série de outras empresas de tecnologia que pressionam pelo trabalho presencial, o Zoom está exigindo que muitos de seus 7.400 funcionários voltem a se apresentar no escritório.

Logo da plataforma de videoconferências Zoom - Dado Ruvic/Reuters

Na semana passada, a empresa pediu a todos os empregados num raio de 80 quilômetros de um escritório para trabalhar pessoalmente em meio período, um plano que o Zoom disse que implementaria em agosto e setembro.

"Acreditamos que uma abordagem híbrida estruturada –o que significa que os funcionários que moram perto de um escritório devem estar no local dois dias por semana para interagir com suas equipes– é mais eficaz para o Zoom", disse um porta-voz da companhia. "Continuaremos a aproveitar toda a plataforma Zoom para manter nossos funcionários e equipes dispersas conectados e trabalhando com eficiência."

Durante uma reunião tensa na semana passada sobre a política de retorno ao escritório, realizada no app Zoom, o CEO Eric Yuan enfrentou uma série de perguntas de funcionários que manifestaram frustração com o tempo e o dinheiro que desperdiçariam no deslocamento, de acordo com um funcionário que estava na reunião, mas não tinha autorização para falar publicamente sobre assuntos internos da empresa.

Em 2020, os participantes de reuniões diárias pelo Zoom saltaram para mais de 300 milhões, de 10 milhões no ano anterior, tornando-se o aplicativo gratuito para iPhone mais baixado do ano. Mas a empresa tem lutado para manter seu crescimento da época da pandemia. Em fevereiro, em meio a uma onda de demissões na indústria de tecnologia, o Zoom cortou 15% de sua equipe, cerca de 1.300 pessoas. A força de trabalho da empresa cresceu mais de 275% entre julho de 2019 e outubro de 2022.

Em uma teleconferência em maio, Yuan disse estar confiante no futuro da flexibilidade do local de trabalho e nos benefícios que isso trouxe para sua empresa. "Acho que o trabalho híbrido vai continuar", disse ele.

O Zoom, assim como muitas outras empresas de tecnologia, ainda mantém alguma flexibilidade, exigindo que seus funcionários trabalhem no escritório apenas meio período.

Os níveis de trabalho híbrido e remoto permanecem muito acima do que eram antes da pandemia. Em julho, quase um terço dos funcionários em tempo integral nos Estados Unidos atuavam em regime híbrido, passando alguns dias trabalhando em casa e outros num escritório, conforme pesquisadores da Universidade Stanford.

Mas dezenas de empresas se somaram ao Zoom para reforçar suas políticas de comparecimento aos escritórios neste verão, já que estes permanecem com pouco menos da metade dos níveis de ocupação pré-pandemia.

A Google, que pedia aos funcionários que fossem ao escritório três dias por semana, anunciou que os gerentes poderão considerar as ausências injustificadas do escritório ao fazer avaliações de desempenho, e usar registros de crachás para identificar essas ausências. A Salesforce, adotando uma abordagem mais suave, disse que faria uma doação de caridade de US$ 10 por dia em nome de qualquer funcionário que fosse ao escritório por um período de dez dias em junho.

Muitas empresas enfrentaram forte resistência ao chamar as pessoas de volta ao escritório. Centenas de funcionários corporativos da Amazon deixaram o trabalho por uma hora em maio, protestando contra o anúncio da empresa de que eles deveriam retornar ao escritório pelo menos três dias por semana. Na Apple, funcionários corporativos assinaram petições protestando contra seu retorno ao escritório.

No início da pandemia, a indústria de tecnologia foi rápida para adotar o trabalho flexível, que foi possibilitado pelos próprios produtos da indústria, incluindo Slack (de propriedade da Salesforce), Gmail e Zoom.

Mas muitas dessas empresas perceberam que não queriam que seus funcionários continuassem permanentemente dispersos. Nick Bloom, economista de Stanford e especialista em trabalho híbrido, disse que a medida da indústria tecnológica de voltar ao escritório não foi uma surpresa, dada a quantia que essas empresas gastam em imóveis comerciais.

Bloom disse que o Zoom, por exemplo, tinha todas as desvantagens do trabalho totalmente remoto –alguns funcionários se sentindo desconectados– sem que a empresa visse suas vantagens financeiras, como economizar dinheiro em espaço de escritório, porque a empresa ainda estava pagando por imóveis e funcionários na Área da Baía de San Francisco.

"Eles estão pagando por seu escritório e contratando pessoal local para que não tenham nenhuma vantagem em serem totalmente remotos", disse Bloom. "A coisa mais surpreendente para mim foi que eles demoraram tanto para anunciar isso formalmente."

Estudos recentes confirmaram alguns benefícios do trabalho presencial. Um documento de trabalho divulgado este ano por economistas do Federal Reserve Bank de Nova York, da Universidade de Iowa e da Universidade de Harvard revelou que, numa empresa de tecnologia, o trabalho remoto diminuiu a quantidade de feedback que os funcionários juniores receberam sobre sua atuação. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que o trabalho remoto no MIT levou a um declínio de 38% nos "laços fracos", ou seja, as conexões frouxas que ajudam a incentivar a carreira das pessoas.

Ainda assim, mais de 90% dos trabalhadores que podem fazer seus trabalhos remotamente agora querem certa flexibilidade no local de trabalho, segundo a Gallup.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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