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Americanas diz à Justiça que ex-presidente mentiu e critica pressão do Bradesco

Varejista protocolou documentos contradizendo Miguel Gutierrez; assessoria de executivo diz que registros estão fora de contexto, e banco não comenta

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São Paulo

A Americanas protocolou na Justiça uma petição acusando o ex-presidente da empresa Miguel Gutierrez de mentir em uma ação protocolada pelo Bradesco na Justiça de São Paulo. O documento foi registrado no domingo (10).

A Americanas também acusa a instituição financeira de se aliar a Gutierrez na ação contra a empresa. Isso porque Gutierrez resolveu se manifestar juridicamente logo após a petição do Bradesco, o que segundo a varejista configura como uma "jogada milimetricamente combinada".

Fachada de unidade de loja da Americanas na rua Henrique Schaumann, em Pinheiros, em São Paulo
Fachada de unidade de loja da Americanas na rua Henrique Schaumann, em Pinheiros, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

No início do ano, o banco protocolou no TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) uma ação contra a empresa pedindo a produção antecipada de provas –ou seja, acesso a documentos da Americanas que possam atestar fraude contábil na empresa. Já no último dia 1º a instituição financeira protocolou uma nova petição sobre o caso, citando reportagem do jornal O Globo de que Gutierrez havia lavrado um boletim de ocorrência, em uma delegacia de Madri, reportando estar sendo perseguido e fotografado por desconhecidos.

A Americanas trata a acusação como "um capítulo inverosímil da narrativa completamente ilusória e vitimista" criada por Gutierrez "para tentar confundir a opinião pública e escamotear seus gravíssimos ilícitos".

A Americanas, segundo a nota, "lamenta a posição da instituição financeira, não compartilhada pelos demais bancos credores da companhia, que seguem empenhados num consenso ao plano de recuperação judicial". A dívida da varejista ultrapassa R$ 40 bilhões.

O Bradesco disse que não vai comentar o assunto.

Em nota enviada à Folha nesta segunda (11), a assessoria de Gutierrez disse que "a atual administração da Americanas pinça documentos fora de contexto na tentativa de corroborar sua narrativa falsa e incomprovada" de que o executivo teria participado de uma fraude. "É incompreensível a insistência da Americanas em se precipitar à conclusão das autoridades para proteger seus acionistas controladores e membros do conselho de administração —que têm responsabilidade nas áreas financeira e contábil", acrescenta.

Na petição protocolada no domingo, a Americanas voltou a acusar Gutierrez de participar da fraude contábil na empresa. Na semana passada, o executivo escreveu à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga o rombo nas contas da companhia que não tinha conhecimento de um eventual esquema ilícito na empresa.

Ele, por outro lado, ponderou que os controladores da empresa –o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira– participavam ativamente do cotidiano da companhia e que a atuação deles era ainda mais forte na área financeira.

De acordo com a empresa, foi enviado à Justiça um arquivo digitalizado com anotações de Gutierrez que apontam a existência de duas versões dos demonstrativos da Americanas, uma de uso interno da antiga diretoria e outra destinada ao conselho de administração. Tal documento reforçaria a tese de que Gutierrez tinha conhecimento dos números da empresa e que não passava os dados corretos ao órgão.

A companhia também protocolou dois emails supostamente escritos por Gutierrez e enviados a então diretores da empresa.

O primeiro, de acordo com a Americanas, tem orientações para que não fossem levadas, em reunião com Sérgio Rial, informações sobre o endividamento da empresa nem respostas a dúvidas sobre os dados financeiros do quarto trimestre de 2022. Rial, à época, era consultor contratado pelo trio; dias depois ele viria a ser o novo presidente da empresa e o responsável por escancarar o rombo da companhia.

Já no segundo, Gutierrez supostamente reclama de questionamentos dos membros do comitê de auditoria, que segundo ele seria um "mar de comentários". O email foi enviado em novembro. A nota da Americanas não esclarece quais eram os questionamentos do órgão.

Ainda na petição, a varejista diz que Gutierrez mentiu ao dizer que todos os órgãos da administração da empresa sabiam que a Americanas passava por situação financeira difícil no segundo semestre de 2022 e que a empresa precisaria de aporte de capital.

Em nota, a varejista diz que documentos apresentados ao comitê financeiro em novembro daquele ano mostram que a antiga diretoria disse aos conselheiros que a Americanas geraria R$ 500 milhões de caixa no quarto trimestre de 2022 e continuaria gerando caixa nos anos subsequentes, mantendo índice de endividamento financeiro saudável.

O caixa positivo de uma empresa indica que seus ativos líquidos estão aumentando, o que permite liquidar dívidas, reinvestir no negócio ou remunerar acionistas.

A Americanas também refuta o argumento de Gutierrez de que o conselho de administração da empresa deliberava sobre questões estratégicas sem seu conhecimento. "Esta falsa afirmativa cai por terra diante de mensagem sobre ações do comitê financeiro, assim como de agendas de reuniões do conselho, que mostram que o senhor Miguel Gutierrez era ativo na gestão da companhia, como é de se esperar de qualquer presidente de empresa", afirma a companhia.

No texto enviado à CPI, o ex-presidente da Americanas diz que a participação dos acionistas se dava por meio da presença dos controladores ou de pessoas ligadas a eles no conselho de administração ou no comitê financeiro; pela forte presença de membros desses órgãos no dia-a-dia da companhia, especialmente na área financeira; e por meio da holding dos bilionários, a LTS Investments.

Segundo ele, membros do conselho de administração, do comitê financeiro e do comitê de auditoria, além de funcionários da LTS, ainda que não tivessem cargos oficiais na companhia, conversavam de forma direta e frequente com o diretor financeiro da companhia.

"Todas as decisões estratégicas na história do grupo, inclusive nos últimos anos, foram tomadas pelos controladores", escreveu Gutierrez à CPI. "Posso dizer com segurança que absolutamente tudo o que eu sabia o conselho de administração também sabia —sendo certo que, em função da intensa penetração de alguns membros do conselho nos negócios e atividades da companhia, o inverso seguramente não é verdadeiro", afirma Gutierrez.

Ele afirmou ainda que a partir de 2018 suas funções como presidente se transformaram para passar a ser um coordenador dos líderes das diferentes linhas de negócio dentro da Americanas. Por isso, diz, a participação nas questões técnicas e operacionais reduziu-se bastante.

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