Guedes relativiza ditadura em aula de economia e diz que havia 'Congresso aberto'

Ex-ministro de Bolsonaro também reconheceu pontos positivos do PT, como o Bolsa Família

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São Paulo

O ex-ministro Paulo Guedes relativizou a ditadura militar em uma das aulas do curso A Economia & Seus Investimentos, criado em parceria com o youtuber Primo Rico. Segundo ele, o regime militar estava entre uma ditadura e um regime conservador.

O ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PL) também elogiou medidas do PT, como o Bolsa Família.

"Tinha aspectos de uma ditadura, mas ao mesmo tempo o Congresso estava aberto, funcionou o tempo inteiro. Então, havia uma classe política, de certa forma, legitimando o que estava acontecendo. Ordem política muito imperfeita, mas estavam lá os congressistas todos assinando os atos dos militares", afirmou na segunda aula do curso, intitulada Paulo Guedes e o Fim da Disputa entre Direita e Esquerda.

O Congresso, contudo, foi fechado três vezes ao longo das duas décadas dos militares no poder, segundo o site da Câmara dos Deputados, que classifica o regime militar brasileiro como uma ditadura.

Ex-ministro da Economia Paulo Guedes durante aula de MBA do Primo Rico
Ex-ministro da Economia Paulo Guedes durante aula de MBA do Primo Rico - Reprodução/YouTube

Sem falar sobre tortura e mortes, Guedes afirmou que o regime militar "tinha censura, prisão e atos de força militar, mas tinha também um Congresso funcionando, meios de comunicação, que sofriam censura, mas também estavam funcionando".

O ex-ministro da Economia, porém, defendeu a democracia e o bom funcionamento das instituições como fundamentais para o crescimento da economia. E disse que a cooperação entre democracia e mercados é fundamental para a civilização humana.

Segundo Guedes, durante o período que ele próprio chamou de redemocratização, após o regime militar, o Brasil automaticamente saltou para um outro lado do espectro político, passando do conservadorismo para um regime com um aspecto mais socialista. O ex-ministro afirma que foi a esquerda, em seus "diversos tons", que comandou esse processo de volta à democracia no país.

O economista afirmou que essa nova força política do Brasil, contudo, não tinha lucidez sobre a importância do capital institucional para se alcançar um regime fiscal sustentável, um regime monetário que preservasse o poder de compra da moeda, ou seja, um Banco Central independente para controlar a inflação, assim como para ter um regime de acordos internacionais que abrissem a economia do país. "Era um modelo estático."

"Agora, o Brasil está em uma transição em direção a uma grande sociedade aberta, uma ordem superior, civilizatória, melhor para todos nós", definiu.

Ex-ministro destaca pontos positivos do PT

Em sua análise da redemocratização no Brasil, Guedes disse que os governos petistas foram positivos do ponto de vista da preocupação e inclusão dos mais pobres nos orçamentos públicos. O ex-ministro destacou as ideias de orçamento participativo e transparência difundidos pelo partido.

"O principal [legado] na área social foi o Bolsa Família na época, com uma política consistente de transferência de renda para os mais frágeis. Isso foi muito bom para a política brasileira em geral", destacou.

Por outro lado, o ministro cita os distúrbios políticos que levaram ao impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff. O PT "não conseguiu terminar o quarto mandato, porque houve acusações de novo de corrupção, de petrolão, de mensalão. Todas essas acusações levaram politicamente ao impeachment".

'Terraplanismo não dá conta de explicar economia brasileira'

Para Guedes, a entrada do MDB ao governo após a saída de Dilma mostra que o "terraplanismo" não dá conta de explicar a economia brasileira, já que, desde a redemocratização, o Brasil girou em círculo e voltou ao mesmo partido do primeiro presidente pós-regime militar: José Sarney. "O horizonte político brasileiro só tem esquerda (...) Onde estão os conservadores, onde estão os liberais?", questionou.

O ex-ministro afirmou que, até a chegada de Bolsonaro à Presidência, a polarização política no Brasil era uma disputa da esquerda contra a esquerda. "Foi uma viagem muito turbulenta, porque a economia não conseguiu encontrar os seus caminhos."

Segundo Guedes, a mudança dessa lógica partiu de uma reação e aliança de "conservadores e liberais", que levaram ao governo passado, no qual foi ministro.

"Nós temos um desafio à frente que é continuar, como brasileiros, pensando em como nos afastar da ordem politicamente fechada, do atraso, da barbárie, e como ir em direção à sociedade aberta."

Marx fez sociologia da miséria, diz ministro de Bolsonaro

Guedes disse ainda que o teórico do liberalismo Adam Smith fez uma grande descoberta sobre o mercado, e negou que ele tenha inventado o capitalismo para explorar os trabalhadores.

"Isso tudo é uma narrativa equivocada baseada numa grande tragédia que foi a teoria do valor do trabalho, criada por David Ricardo, mas transformada numa sociologia da miséria por [Karl] Marx", afirmou. "Foi uma teoria obsoleta que criou um dano tremendo na sociedade pelo uso incorreto de uma teoria de valor do trabalho", disse.

Guedes defendeu a ideia de cooperação social e abertura dos mercados, além da força da tecnologia para aumentar a produção, os salários e as riquezas do países, opondo-se a uma ideia de luta de classes e de nacionalismo, que causa guerra entre países.

Em outro módulo, ao falar dos países que deram certo, Guedes classificou a China como uma economia de capitalismo brutal. "Apesar de ser um regime político fechado, do ponto de vista econômico ela é um capitalismo brutal, talvez o de maior ferocidade desde os ingleses dois séculos atrás."

Além da aula sobre o fim da disputa entre direita e esquerda, Guedes deu outras duas no curso, intituladas Ideias Econômicas para o Brasil Caminhar para a Prosperidade e Como Analisar os Fundamentos Econômicos para Fazer Seus Investimentos.

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