BC ainda precisa percorrer 'última milha' para colocar inflação na meta, diz Galípolo

Diretor de política monetária afirma que ritmo de corte de 0,5 ponto está adequado

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São Paulo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, adotou cautela nesta quinta-feira (5), em São Paulo, e afirmou que o país ainda precisa percorrer uma "última milha" para levar a inflação para dentro da meta.

Em palestra durante evento do mercado de fundos imobiliários, o atual diretor do BC e ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda classificou o atual cenário inflacionário como benigno, mas ponderou que a persistência da alta dos preços surpreendeu a autoridade monetária.

Gabriel Galipolo em coletiva em frente ao ministério
Ex-secretário da Fazenda e atual diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo diz que inflação e crescimento surpreenderam em 2023. - Gabriela Biló /Folhapress

Mesmo neste cenário, o economista afirmou que considera o atual ritmo de aperto monetário, com reduções de 0,5 ponto percentual, adequado. "Entendemos que é um ritmo que permite ajustar o nível de contração e ir observando a reação da economia em função desses ajustes."

Em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 4,61% no acumulado dos últimos 12 meses, uma aceleração em relação ante 3,99% até julho. Desde então, a Selic foi de 13,25% para 12,75%.

O ritmo de queda de juros foi alvo de diversas críticas por parte do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do qual Galípolo fazia parte até junho.

Lula e aliados já disseram que Roberto Campos Neto, presidente do BC indicado por Jair Bolsonaro, estaria "jogando contra a economia". O clima tem melhorado, e Lula recebeu Campo Neto no Palácio do Planalto.

A meta para a inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3,25% para este ano e de 3% para 2024 e para 2025. Mesmo com o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, a previsão de 4,86% do boletim Focus para 2033 fica fora da meta.

"A gente ainda tem uma reancoragem parcial dentro da meta. A gente segue a meta de 3,0% para 2025 e 2026, então o Banco Central ainda tem essa última milha para conseguir a reancoragem total", disse Galípolo —ou seja, colocar a inflação dentro da meta.

Para os próximos dois anos, as estimativas, de 3,87% e 3,50%, ficam dentro das balizas.

Para Galípolo, a resiliência inesperada dos preços é fruto da força de serviços subjacentes e do mercado de trabalho. "Tanto a inflação, quanto o crescimento surpreenderam positivamente em relação ao [previsto no] começo do ano". No início de 2023, o BC esperava um PIB de 1% para o período e, agora, prevê 3%.

Segundo o economista, a potência da atividade vem dos bons resultados do agronegócio no primeiro semestre e das reformas econômicas feitas nos últimos anos.

Quanto à meta fiscal, Galípolo disse que o mercado já trabalha com o descumprimento da meta do governo de zerar o déficit em 2024, citando a previsão de resultado primário negativo de 0,75% do Focus.

"Tenho de supor que há alguma coerência entre as projeções, porque as casas fazem estimativas conjuntamente de déficit, de juros, de câmbio e inflação. Então, seria razoável a gente assumir que [o descumprimento da meta] está no preço", afirmou o economista.

Galípolo, no entanto, argumenta que o mercado financeiro não deveria carregar o ceticismo de resultados piores até março. "Vamos observar como isso vai funcionar. A partir de março, no primeiro relatório bimestral [fiscal], podermos ter as medidas de contingenciamento." O descumprimento das metas descarrilha gatilhos que reduzem o gasto do governo.

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